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Tratores impulsionam a agricultura no Chade

Agricultura comercial: Foto: Reprodução

N’Djamena, Chade, 25/9/2012 – O Chade tem mais de 400 mil quilômetros quadrados de terras cultiváveis, mas as chuvas são escassas e as técnicas agrícolas muito básicas, o que deixou este país da África central com um déficit de grãos nos últimos dois anos. O governo agora apela para a mecanização a fim de melhorar as colheitas. O Chade se converteu em produtor de petróleo em 2003. Apesar da renda que esta atividade gera, as partes norte e leste do país foram vítimas da fome que afeta a região do Sahel desde 2010. O Sahel é uma extensa faixa árida localizada entre o Deserto do Saara, e as savanas do Sudão.

O presidente, Idriss Déby Itno, cujo quarto mandato começou em 2011, colocou os jovens e os moradores do campo no topo de sua lista de prioridades. Também destacou seu desejo de acabar com o que chama de “infernal ciclo da fome”. Contudo, o déficit de cereais permanece em mais de 500 mil toneladas anuais desde 2010. Em 2009, foi instalada na capital uma fábrica para montar tratores, que o governo colocou à disposição dos agricultores com a intenção de impulsionar a produção para a safra 2012-2013.

O Programa Nacional para a Segurança Alimentar (PNSA) colocou como meta arar cerca de 450 mil hectares de terras entre meados de junho e final de agosto, e dessa forma poder colher aproximadamente 900 mil toneladas de grãos. Um total de 914 tratores foi colocado à disposição dos produtores para lavrar a terra, ao custo de US$ 19 por hectare trabalhado, explicou Yaya Mahamat Outman, encarregado de supervisionar e avaliar o PNSA. A renda gerada pela lavra superará os US$ 8,4 milhões, que servirão para manter o programa, acrescentou.

O distrito de N’Djamena-Fara, 40 quilômetros a noroeste da capital, se converteu em uma das principais regiões agrícolas do país desde a chegada dos tratores. Antes, os moradores se dedicavam fundamentalmente à pesca e à pecuária, disse Othniel Djimadoumngar, um dos operadores desses veículos. Ele ara entre sete e oito hectares por dia, quando são necessários vários dias para fazer o mesmo trabalho com as mãos ou usando boi.

Entretanto, manter as máquinas se tornou um problema. “Quando um trator quebra, temos que nós mesmos consertar. Quando chamamos N’Djamena, ninguém responde. Inclusive, conseguir adubo, como o fertilizante NPK, não é simples. Às vezes temos que ir comprar em Douguia, uma localidade a 30 quilômetros de distância”, destacou o chefe de agricultura do distrito de N’Djamena-Fara, Patrice Allarabaye.

A assessora agrícola Gisele Bénaïdara Djasnebeye disse à IPS que se dedica a ajudar os produtores que conseguiram melhores colheitas. “O que você vê aqui é um campo de demonstração. Ensinamos aos produtores como plantar arroz. Sempre se deve transplantar em uma rede de 25×25 ou 20×20 centímetros, usando uma fita para medir”, explicou à IPS. “Com esta técnica, se o terreno é limpo e cuidado, um agricultor pode colher até 90 sacas de cem quilos de arroz com casca por hectare”, acrescentou.

A temporada de arar está terminando em todo o país, e o distrito de N’Dajamena-Fara terá 400 hectares prontos graças aos tratores. Além disso, as chuvas estão boas. Se as previsões estiverem certas, os agricultores do distrito colherão 36 mil sacas de arroz nesta temporada.

O PNSA complementa o trabalho do Escritório Nacional para o Desenvolvimento Rural, criado nos anos 1960 para apoiar os produtores. O governo envia trabalhadores de extensão e agrônomos para ajudar os camponeses. Anualmente, compra seus produtos e os revende a preços subsidiados, quando há fome ou durante o período anual de carestia, que vai do final de junho até final de agosto. Este ano, pode-se acumular uma reserva superior a 20 mil toneladas de grãos.

Agora N’Djamena-Fara é um importante centro de produção de frutas e verduras. Graças ao Rio Logone, que atende todo o distrito, há muitos produtos disponíveis o ano todo, como couve, pepinos, espinafre e cenoura, bem como diferentes tipos de frutas. Porém, N’Dajemana-Fara, como muitas partes do Chade, tem dificuldades para transportar estes produtos até a capital. A maior parte de suas colheitas é comprada por comerciantes de Camarões.

“Estamos tão perto da capital, apenas 40 quilômetros, e, paradoxalmente, estamos isolados”, disse à IPS o vice-prefeito de N’Djamena-Fara, acrescentando que espera do governo o cumprimento da promessa de pavimentar um trecho da estrada para permitir levar os produtos à capital. Envolverde/IPS