“A construção de um desenvolvimento, que possa ser adjetivado de sustentável, envolve não só decisões e ações de governos nacionais e organismos internacionais, como também a adoção de atitudes e procedimentos nos mais diferentes níveis das sociedades, inclusive na escala local”, afirma Ricardo Siloto, pesquisador da UFSCar.
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“O que se coloca em discussão é a qualidade do desenvolvimento em curso.” Esta é a opinião de Ricardo Siloto da Silva, arquiteto de formação, doutor em história e líder do Grupo de Pesquisa Gestau (Gestão do Ambiente Urbanizado e Sustentabilidade Urbana e Regional), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). E o professor vai além. Diz que a sociedade de hoje tem uma meta e um desafio: precisa conceber e, na sequência, implementar modalidades de crescimento que promovam a redução das desigualdades dentro e entre os países.
O consumo mundial está levando a consumir 50% mais recursos naturais renováveis do que o planeta é capaz de produzir: ar limpo, água potável, terras aráveis, e absorção dos resíduos do consumo estão se tornando cada vez mais escassos. Mas, estas questões nos parecem sérias demais, grandes demais, para que possamos contribuir para a sua solução. Fica a pergunta: como podemos mudar essa situação?
A proposta do pesquisador da UFSCar é uma escala local da sustentabilidade. “A construção de um desenvolvimento, que possa ser adjetivado de sustentável, envolve não só decisões e ações de governos nacionais e organismos internacionais, como também a adoção de atitudes e procedimentos nos mais diferentes níveis das sociedades, inclusive na escala local”. Este é um dos desafios da sustentabilidade: pensar globalmente e agir localmente.
E isso exige mudança de comportamento. Significa fazer escolhas. Significa saber que é possível contribuir, que é possível fazer parte dessa mudança. Individualmente algumas mudanças parecem complicadas. Deixar de usar o carro e optar pelo transporte público, para alguns, não é tarefa simples. Em alguns locais o transporte público, além de precário, é caro. O tempo “perdido” dentro de ônibus, trens e metrôs, também é um fator complicador. No entanto, buscando outras visões sobre este tema, é possível pensar que o impacto de uma, duas, dez, e, um dia, cem pessoas que deixaram de usar o carro diariamente e escolheram outros meios de transporte, pode ser muito benéfico. Quem sabe até muitas dessas pessoas resolvem mudar radicalmente. De casa, de trabalho, de cidade.
Se cada um se der conta de que pode escolher o quanto e como vai consumir. Se der conta que pode escolher de que empresas vai comprar, com base no cuidado da empresa com seus funcionários, comunidade, meio ambiente; de que pode adotar critérios de escolha de produtos e serviços que vão além do preço e da comodidade, mas incluem também as consequências sociais e ambientais dessa escolha; então, os atos de consumo, aparentemente banais, repetidos tantas vezes ao longo de nossas vidas, podem se tornar uma ação política e transformadora.
“A ação política no sentido de que, a partir da forma de consumir e viver, se escolhe as características do mundo em que se quer viver é transformadora na medida em que, a cada ato de consumo que busque mais impactos positivos e menos negativos sobre a sociedade e o meio ambiente, passamos a transformar algumas das características de insustentabilidade do mundo atual e contribuímos para criar um mundo onde todas as formas de vida são mais sustentáveis”, afirma Helio Mattar, presidente do Instituto Akatu.
Claro que as mudanças mais complexas não acontecem de uma hora para outra. Mas Siloto alerta para a necessidade de um pacto social. “Embora os fatores de ordem técnico-científica sejam fundamentais para o conhecimento da realidade, são insuficientes para a superação das questões socioambientais que permeiam o cotidiano da gestão pública”. Neste sentido, o professor comenta que a participação social propicia e legitima a aproximação necessária entre o saber técnico e o fazer político. Segundo o arquiteto e historiador, a dimensão política da sustentabilidade, como local de conflito e de articulação entre as diferenças, visa construir consensos e objetivos comuns.
Pensar globalmente é olhar para o planeta, observar o rumo que as escolhas – de governos, das empresas e da população – estão tomando. Agir localmente é pensar no seu entorno, na sua vida, na sua família, nos seus amigos, na sua cidade. Sua cidade é muito grande? Pense no seu bairro. Quais são as metas para o desenvolvimento desse seu entorno? Quais são as prioridades: transporte, lazer, saúde, qualidade de vida, educação? Onde você pode atuar mais fortemente?
São muitas as perguntas. E as respostas? Se queremos mais qualidade de vida, uma cidade melhor, um mundo melhor, também é nosso papel buscá-las.