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Aumenta o medo entre pais de alunas paquistanesas

Estudantes rezam por Malala Yousafzai em Peshawar, província de Khyber Pakhtunkhwa, Paquistão. Foto: Ashfaq Yusufzai/IPS

 

Peshawar, Paquistão, 6/11/2012 – Depois do atentado sofrido pela jovem Malala Yousafzai, as estudantes do Paquistão não estão tão assustadas quanto seus pais diante da possibilidade de novos ataques islâmicos contra escolas para meninas no norte do país. No mês passado, um combatente do grupo proscrito Tehreek Talibã Paquistão disparou contra Malala, de 15 anos, fora de sua escola no distrito de Swat, um dos 25 da província Khyber Pakhtunkhwa (KP). A adolescente ativista se recupera em um hospital da Grã-Bretanha, mas o incidente atingiu duramente a sociedade paquistanesa.

“Minha mulher e eu estamos muito preocupados com a segurança de nossas filhas porque os combatentes do Talibã agora visam objetivos fracos como meninas e adolescentes”, disse à IPS Zawar Hussain, cujas três filhas estudam na Escola Modelo da Universidade de Peshawar, a maior de KP. “Pedimos ao diretor uma reunião de emergência com pais e professores para tomar medidas que melhorem a segurança depois do caso de Malala”, afirmou à IPS.

O movimento Talibã já realizou vários atentados contra escolas de meninas em várias partes de KP e das Áreas Tribais Administradas Federalmente (Fata), fronteiriças com o Afeganistão. Contudo, o de Malala foi tão impactante, que a população reclama mais e melhor segurança. Antes deste atentado, houve outro grande contra o Government Grils Degree College, em Lund Khwar, no distrito de Mardan, em março de 2011, que deixou 35 alunas feridas em uma triste recordação de que o movimento islâmico Talibã continua ativo em KP e nas Fata. No ano passado, seus integrantes atacaram um veículo escolar em Peshawar, capital de KP, e mataram quatro meninas e o motorista.

A educação feminina se converteu em um importante objetivo do Talibã, que se propagou pelas Fata no final de 2001, após ser expulso do governo de Cabul por forças lideradas pelos Estados Unidos. Em 2005, ampliaram sua campanha contra a educação à vizinha KP. Segundo este movimento, a educação feminina atenta contra os preceitos do Islã. Cerca de 800 escolas foram destruídas em KP e nas Fata, e a campanha continua.

“Estamos dispostos a pagar mais, mas queremos um ambiente seguro na escola”, disse o comerciante Mohammad Rehan, de 35 anos, temendo pela segurança de suas duas filhas. Segundo Rehan, o Talibã se expande fora do Vale de Swat. “O Talibã sabe que as meninas são um alvo fácil para espalhar o terrorismo”, ressaltou, lembrando que em outro lugar talvez tenha que enfrentar as forças de segurança.

Na Universidade de Peshawar foi implantado um sistema em que as meninas, adolescentes e jovens formam fila para sair e estão proibidas de tocarem em qualquer objeto suspeito. “Elaboramos procedimentos para nossas estudantes após o atentado contra Malala. Elas devem informar ao professor se virem alguma pessoa suspeita perto da escola”, disse o diretor Nadeem Ahmed.

“Restringimos o movimento de estudantes e as alertamos a não deixarem a escola em grandes grupos porque os atacantes querem matar ou ferir a maior quantidade possível de pessoas”, explicou Ahmed. Outros centros de ensino farão o mesmo, porque os pais pressionam os diretores para melhorarem a segurança, acrescentou.

“Minha mãe insiste para eu ficar, mas não tenho medo”, contou à IPS a jovem Palwasha Bibi, aluna do terceiro ano da Escola Memorial de Ashraf, na localidade de Canal, em Peshawar. “Me quer viva e feliz. Sua preocupação é verdadeira, mas temos que tomar medidas de segurança em lugar de ficarmos longe das escolas”, opinou. Os pais de algumas de suas colegas disseram para que usem o véu como medida de precaução para não serem atacadas. “O Talibã não atacaria estudantes usando véu”, explicou Bibi.

O ministro da Educação, Sardar Hussain Babak, disse à IPS que não dá para colocar patrulhas policiais nas 30 mil escolas da província, mas que é reforçada a coordenação com pais e professores para frustrar as tentativas do Talibã de assustar as estudantes. “Começamos com a estratégia de armar os guardas das escolas e aumentar a coordenação entre administração escolar e polícia”, destacou. “Em alguns distritos os capacitamos”, acrescentou. Também foi restringido o estacionamento de veículos próximo dos centros de ensino, afirmou o ministro. A polícia recebeu instruções para vigiar as pessoas suspeitas que estiverem perto das grandes escolas para meninas.

O subdiretor de Educação, Ghulam Farooq, informou que deu instruções a todas as escolas para melhorar a segurança, especialmente no final do dia, na hora da saída. “Realizamos inspeções para avaliar as medidas de segurança. Caso não sejam suficientes, os diretores serão considerados responsáveis e serão tomadas medidas a respeito”, disse à IPS. Envolverde/IPS