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A austeridade afunda ainda mais a Europa

Berlim, Alemanha, 19/11/2012 – Os programas de austeridade, aos quais recorre a União Europeia (UE), não conseguem melhorar as finanças públicas para chegar a uma solução para a severa crise de dívida soberana. Pelo contrário, agravam ainda mais o problema, como demonstram em particular os indicadores de Espanha, Grécia, Itália e Portugal. Estas iniciativas, que incluem fortes reduções no gasto com educação, saúde e governança, “levam a uma loucura coletiva” e inclusive a “uma crise social” em todo o bloco de 27 países, afirmam os especialistas ouvidos pela IPS.

Longe de resolver a crise, com foi prometido ao serem impostas pelas autoridades, os atuais planos de consolidação fiscal elevarão a relação entre dívida e produto interno bruto em 2013 na UE, segundo um estudo do Instituto Nacional de Pesquisa Econômica e Social (Niesr), com sede em Londres. Numerosos estudos europeus confirmam hoje o que vários economistas e ativistas vêm alertando há meses e até há anos: que a crise econômica, causada pelo colapso financeiro de 2007-2008 e o consequente resgate de bancos e fundos de investimento pelos Estados levou ao crescimento do desemprego e à consequente pobreza de vastos setores da sociedade na UE.

Segundo dados do escritório de estatísticas do bloco, o Eurostat, o desemprego no bloco chega a 10,6% da população economicamente ativa. Nesse contexto, os jovens aparecem entre os mais prejudicados. Na Espanha, Grécia, Itália, Irlanda e Portugal afeta, em média, entre 30% e 50% deles. A situação é especialmente difícil na Grécia, onde o desemprego juvenil aumentou mais que o dobro desde 2008 e ficou em 55,4% dos ativos dessa faixa etária em 2012. Na Espanha, onde o indicador estava em 37% em 2008, a crise deixou 50% dos jovens sem emprego.

A deterioração social na Grécia, onde os sindicatos convocaram nova série de greves gerais em resposta a novo corte no orçamento, desta vez de US$ 17 bilhões, não indica nada de bom para o futuro do bloco sob a austeridade. O último estudo do Centre for Economic and Business Research (CEBR), com sede em Londres, prevê que a zona do euro seguirá em recessão em 2013, com “um provável crescimento marginal” em 2014. Segundo o estudo Global Prospects Report, divulgado no dia 5, as perspectivas são especialmente calamitosas para Espanha, Grécia e Itália, com probabilidade de crescimento negativo, e a previsão para 2013 é de contração do PIB de 7%, 1,8% e 2,2%, respectivamente.

“A situação econômica em alguns países da Europa vai de má a catastrófica”, disse à IPS o diretor executivo do CEBR, Douglas McWilliams, um dos autores do estudo. “Há risco de os problemas econômicos derivarem em conflitos sociais em muitos países, pois o desemprego dispara e os governos ficam sem dinheiro”, acrescentou. Outra análise sobre a situação econômica e social na Europa, divulgada no dia 1º, realizada por dois economistas de carreira do Niesr, vai mais além, e afirma que os programas de austeridade do continente são “contraproducentes”.

O cenário mais favorável previsto pelo Niesr para 2013 prevê o agravamento da depressão atual. Segundo seus cálculos, as medidas de austeridade terão impacto negativo sobre a relação entre dívida e PIB, de 8,9% na Grécia, 7,7% em Portugal, 4,2% na Espanha e 1,9% na Itália. Jonathan Portes, um dos autores do estudo, disse à IPS que a análise das atuais políticas fiscais europeias leva à conclusão de que, “em épocas normais, a consolidação fiscal leva à queda da relação entre dívida e PIB, mas, nas atuais circunstâncias, de fato, provavelmente resulte contraproducente” para a União Europeia de forma geral.

“O futuro imediato da Europa depende de 94 milhões de europeus entre 15 e 29 anos”, afirma um estudo divulgado em outubro pela Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho (Eurofound), órgão autônomo da UE. O desemprego juvenil foi de 33,6% (cerca de 19,5 milhões de pessoas) em 2011, “o mais baixo na história da União Europeia”, ressalta o informe. Entretanto, há grandes variações entre os Estados-membros, com taxas abaixo dos 7%, em Luxemburgo e Holanda, até mais de 17% na Bulgária, Espanha, Irlanda e Itália.

“As consequências de uma geração perdida não são meramente econômicas, mas sociais, com o risco de os jovens optarem por não participarem da democracia”, alerta o estudo da Eurofound. As perdas resultantes de haver tantos jovens improdutivos, em termos de produção, chegam a 153 bilhões de euros (US$ 195 bilhões) ao ano, ou 1,2% do PIB da UE, detalha. Stefano Scarpetta, subdiretor de assuntos sociais, emprego e trabalho da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos, afirmou que a Europa “falha em seu contrato social” com os jovens, e alertou que o desencanto político pode chegar ao grau que motivou revoltas no norte da África e que produziram a Primavera Árabe.

Segundo um estudo divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em maio, o desemprego juvenil nessa região aumentou cinco pontos percentuais em 2011, chegando a 27,9%. A situação se repete em vários países da União Europeia, onde o descontentamento emergiu sob o lema “indignados”, na Espanha, e de maciças mobilizações de jovens em Portugal, Grécia e outros países do sul da Europa. Envolverde/IPS