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Uma escalada Estados Unidos-Irã custará caro para o mundo

Entre os cenários plausíveis de ações dos Estados Unidos contra o Irã, figuram isolamento e bloqueio do Golfo. Foto: U.S. Navy photo by Photographer's Mate 2nd Class Matthew J. Magee

 

Washington, Estados Unidos, 19/11/2012 – A economia mundial suportará pesados custos se os Estados Unidos intensificarem o conflito com o Irã pelo controvertido programa nuclear deste país, diz um informe especial da Federação de Cientistas Norte-Americanos (FAS), divulgado no dia 16. O estudo Sanções, Ataques Militares e Outras Ações Potenciais Contra o Irã mostra que uma escalada de Washington contra Teerã poderá causar perdas entre US$ 64 bilhões e US$ 1,7 trilhão para a economia mundial nos primeiros três meses.

Os dados foram obtidos com base em consultas com um grupo de nove especialistas em economia e segurança nacional dos dois partidos majoritários norte-americanos, Republicano e Democrata. O cenário menos provável, com medidas unilaterais dos Estados Unidos mostrando disposição em fazer concessões para resolver o enfrentamento, redundaria em benefício econômico mundial estimado em US$ 60 bilhões.

“As conclusões do estudo sugerem que há custos potenciais para qualquer quantidade de ações lideradas pelos Estados Unidos e, em geral, quanto mais severa a ação, maiores os possíveis custos”, disse à IPS o diretor de projetos especiais do FAS, Mark Jansson. “Inclusive entre os especialistas há uma tremenda incerteza sobre o que pode acontecer” no caso de uma escalada, acrescentou Jansson, coautor do informe, juntamente com Charles P. Blair.

Os cenários de ações conduzidas pelos Estados Unidos contra o Irã incluem isolamento e um bloqueio do Golfo, com medidas como “redução das exportações de petróleo refinado, gás natural, equipamentos e serviços energéticos”, proibição do setor energético iraniano em todo o mundo (incorrendo em um custo global estimado em US$ 325 bilhões) e uma intensa campanha de bombardeios que também atacaria a capacidade de retaliação do Irã. Este último implicaria um custo econômico mundial calculado em algo mais que US$ 1 trilhão.

O informe se abstém explicitamente de fazer recomendações políticas, embora outros não sejam tão reticentes. A organização Unidos Contra um Irã Nuclear e a neoconservadora Fundação para a Defesa das Democracias (FDD) lideram as organizações de linha dura com sede em Washington que defendem medidas econômicas severas contra o Irã. “A Casa Branca deve aproveitar este impulso, intensificando a guerra econômica em um esforço para sacudir a República Islâmica até a medula”, escreveu em junho o diretor executivo da FDD, Mark Dubowitz.

Paul Sullivan, professor de economia na Universidade de Georgetown, especializado em segurança no Oriente Médio, disse à IPS que “o fato de o núcleo mais duro dos estrategistas neoconservadores não ter considerado os custos de uma escalada no conflito com o Irã demonstra a incompetência intelectual desse grupo”. E acrescentou que “os principais efeitos para os Estados Unidos, caso isso ocorra, se refletirão no preço do petróleo e em maiores custos militares e de segurança nacional”.

Sullivan avaliou os possíveis cenários mas não pôde fazer declarações sobre números específicos devido às regras de confidencialidade das fontes da Chatham House. “Em caso de ataque ao Irã, o preço do petróleo pode facilmente passar dos US$ 250 com os contra-ataques esperados. Isto pode fazer os Estados Unidos afundarem em uma recessão”, alertou. Enquanto aumentam as tensões em uma disputa que já dura décadas sobre os supostos fins armamentistas do programa nuclear do Irã, os analistas examinam cada vez mais uma série de custos associados à intensificação do conflito entre esse país e os Estados Unidos.

O Iran Project Report, divulgado em setembro, diz que os Estados Unidos sentiriam “mais no longo prazo” o custo de uma vingança iraniana, que poderia derivar em uma guerra regional. “Além dos custos financeiros de ataques militares contra o Irã, que seriam significativos, provavelmente haveria custos no curto prazo, associados com a vingança iraniana”, segundo o estudo, aprovado por uma longa lista de assessores de alto nível sobre assuntos de segurança nacional dos dois partidos norte-americanos.

As conclusões desse documento apoiam a convicção de que uma ação que suponha uma escalada causará maiores custos. Isto é apresentado em termos financeiros pelo FAS: “Uma dinâmica de escalada, ação e contra-ataque pode produzir consequências sérias não procuradas, que aumentariam significativamente todos estes custos e conduziriam, potencialmente, a uma guerra regional aberta”.

Em 19 de outubro, um encontro sobre as considerações econômicas e militares de uma guerra com o Irã, realizado no Centro para o Interesse Nacional, apresentou avaliações semelhantes. “Pode-se perder oito milhões de barris por dia em produção, que não voltarão facilmente”, afirmou J. Robinson West, que já ocupou altos cargos na Casa Branca, no Departamento de Energia e no Pentágono, em vários governos republicanos. “Acreditamos que o preço do barril de petróleo passará dos US$ 200”, ressaltou.

No dia 20 de outubro, o jornal The New York Times informou que Estados Unidos e Irã haviam “acordado, em princípio e pela primeira vez”, realizar negociações diretas. Contudo, Teerã e Washington mantiveram “conversações bilaterais limitadas” em 2009, “quando a direção iraniana viu potencial na administração do então recém-eleito Barack Obama para abordar alguns dos principais aspectos do direito do Irã ao enriquecimento” de urânio, disse à IPS Farideh Farhi, da Universidade do Havaí.

No dia 14 deste mês, Obama desmentiu a informação dada pelo jornal, mas não descartou a ideia de conversações diretas. Na verdade, indicou claramente que os Estados Unidos se comprometeriam a fundo se os iranianos demonstrassem sinceridade. Se Teerã realmente quer resolver isto, estará em posição de fazê-lo, disse em sua primeira entrevista coletiva após ser reeleito.

Farhi afirmou que “a situação é diferente agora, na medida em que o governo iraniano está muito mais cético quanto às palavras de Obama com relação ao seu desejo de resolver a questão nuclear em lugar de buscar a jugular do regime islâmico”. Seja qual for a situação, “em Teerã sempre haverá pessimistas. Um cenário semelhante existe nos Estados Unidos. Porém, se o passado serve de guia, Teerã abandonará sua atual resistência às conversações bilaterais, caso veja possibilidades de avançar”, opinou. Envolverde/IPS

* Jasmin Ramsey escreve no blog de política externa da IPS.