No Rio, usuários também enfrentam dificuldades para parar suas bikes, mas devido à falta de bicicletários.
Já imaginou viver em um país onde são construídas estruturas para estacionar bicicletas junto à parte interna de telhados ou no subsolo? Pois isso já é realidade em cidades como Amsterdã, que não consegue acomodar cerca de 100 mil bicicletas. O município tem 800 mil bikes na região metropolitana e outras 300 mil no centro urbano. Em toda a Holanda, os números são ainda mais impressionantes: há mais bicicletas (18 milhões) do que habitantes (16 milhões). Para atender tamanha demanda, não há postes nem mesmo bicicletários públicos que deem conta.
Então, uma empresa de engenharia criou um elevador de bicicletas que chega até quatro andares de altura. O próprio usuário abre e fecha a porta da engenhoca com seu cartão e aguarda do lado de fora a magrela ser guardada. Um sistema robótico prende a bike em ganchos que ficam girando num compartimento até que o cliente venha buscá-la. Por conta do número do cartão, o próprio sistema entrega o veículo quando o consumidor solicita. Tudo é feito de forma automática, sem a necessidade de um segurança sequer. Confira o vídeo que mostra todo o sistema.
O invento já foi instalado ao lado da estação de trem em Amsterdã, e em uma versão adaptada na fachada de um edifício na cidade alemã de Münster. Há versões semelhantes também no Japão (cujo estacionamento é feito no subterrâneo em vez de junto ao teto) e em Barcelona.
No Rio, diante do estímulo por parte da mídia, de empresas e de ON.Gs para que a população adote a bicicleta como meio de transporte, a prefeitura também passou a ficar de olho na questão das vagas. Em nota enviada ao Opinião e Notícia, a Secretaria municipal de Meio Ambiente (órgão que é gestor da política cicloviária na cidade) informou que viabiliza a implantação de bicicletários, inserindo-os no escopo das obras que realiza e colocando-os em espaços públicos junto às áreas de maior demanda (como praias, praças, áreas comerciais e de serviços e terminais de transportes de massa). O órgão ressaltou ainda que “está incentivando que particulares, por sua própria iniciativa, implantem esses aparatos, desde que sejam obedecidas as regras estabelecidas e obtida a autorização da prefeitura”.
Apesar dos esforços, os ciclistas da cidade enfrentam dificuldades para estacionar, nem sempre pelo número de bicicletas disputando um espaço para parar como na Holanda, mas sim pela falta de preparo de shoppings, supermercados e até mesmo do local de trabalho.
“Não tínhamos um bicicletário na empresa, mas um grupo de ciclistas começou a pedir a instalação, e hoje temos dez vagas”, diz o jornalista Luiz Filipe Barboza, um dos responsáveis pelo blog “De bike” .
Morador da Tijuca, ele vai todo dia de bicicleta ao trabalho, na Cidade Nova, e leva cerca de 20 a 25 minutos no trajeto, bem menos do que os 35 a 40 minutos que gastava quando ia de carro. “A grande vantagem é que de bicicleta a gente sabe que vai levar esse tempo. De carro, é imprevisível. Pode acontecer um acidente, e parar o tráfego”, argumenta ele.
Apesar da conquista da vaga no trabalho, Filipe ressalta que muitos estabelecimentos deixam a desejar com relação à oferta de vagas para bicicletas. “O Shopping Iguatemi e o Botafogo Praia Shopping são bons exemplos porque têm vagas com segurança. Há alguns shoppings que colocam os bicicletários do lado de fora para não se responsabilizarem em caso de roubo, o que acaba acontecendo”, explica Filipe.
Até mesmo alguns condomínios já estão dificultando o estacionamento de bicicletas. O jornalista Eduardo Zobaran conta que no seu edifício, em Copacabana, é cobrado uma taxa de R$ 20 por bicicleta. “Inicialmente falaram que o valor era para comprar o bicicletário, mas continuam cobrando meses depois da instalação… Já estou começando a achar mais vantagem alugar as laranjinhas (as bicicletas que podem ser retiradas em várias partes do Rio) por R$ 10 por mês”.
No Rio, um decreto assinado pelo prefeito Eduardo Paes autoriza o estacionamento em grades e postes, desde que não atrapalhe o pedestre. “Costumo dizer que ciclista é igual a cachorro: está sempre à procura de um poste”, brinca Filipe.
Já em São Paulo, uma lei sancionada no início de dezembro pelo prefeito Gilberto Kassab exige que garagens de prédios residenciais tenham 5% de suas vagas para bicicletas. No caso de estacionamentos públicos, como shoppings ou garagens particulares, a reserva será de 10%. A regra só vale para edifícios novos ou que tiverem suas áreas ampliadas.
* Publicado originalmente no site Opinião e Notícia.