A cana-de-açúcar é pródiga em derivados para atender as indústrias alimentar, química, farmacêutica e biotecnológica.
Havana, Cuba, 7 de janeiro de 2013 (Terramérica).- A indústria açucareira de Cuba parece renascer no contexto de uma modernização econômica, que permitiu ampliar a entrada de capital estrangeiro como parte de uma estratégia para fortalecer e diversificar a produção deste setor. “Há uma recuperação, um despertar na produção de cana-de-açúcar e derivados”, disse ao Terramérica o especialista Liobel Pérez, do grupo empresarial Azcuba, criado há pouco mais de um ano para substituir o outrora poderoso Ministério do Açúcar, e que porá à prova sua capacidade neste ano, com novas formas de gestão.
Os investimentos estrangeiros na indústria açucareira limitavam-se a umas poucas empresas de derivados. Sua ampliação na produção de açúcar foi uma inovação em 2012. “São dois investimentos importantes que complementam as medidas que permitem o crescimento sustentado da produção”, afirmou Pérez. O funcionário se referia à assinatura de acordos com a brasileira Companhia de Obras e Infraestrutura (COI) – subsidiária do poderoso grupo Odebrecht, que tem investimentos em outras áreas da economia cubana – e com a britânica Havana Energy, durante a última Feira Internacional de Havana, em novembro de 2012.
O contrato entre a COI e a Empresa Açucareira Cienfuegos, parte do grupo Azcuba, é para a administração conjunta, durante 13 anos, da “central” (engenho) 5 de Setembro, localizada na província de Cienfuegos, 232 quilômetros a sudeste de Havana. Pérez confirmou que a sócia brasileira investirá em mecanização agrícola para elevar o rendimento e em tecnologia para o processo industrial. Com sua injeção de capital, espera-se otimizar recursos humanos e industriais para que o engenho de Cienfuegos possa elevar sua produção até 90 mil toneladas por safra para as quais foi projetado, das 25/30 mil que produziu nos últimos anos.
O outro negócio importante é a criação de uma empresa mista entre a Zerus S/A, subsidiária da Azcuba, e a Havana Energy para construir uma usina geradora de eletricidade por biomassa em áreas vizinhas à central Ciro Redondo, na província de Ciego de Ávila, no centro do país. Para isto serão investidos entre US$ 45 milhões e US$ 55 milhões e a geração elétrica começará em 2015. Durante a safra será usado como biomassa o bagaço da cana processada, e no restante do ano a matéria-prima será o marabu, um arbusto que cresce em áreas agrícolas ociosas do país.
Estão em estudo outros projetos de investimento estrangeiro sob a forma de administração conjunta, que parece ser preferida por Cuba para os engenhos de açúcar. Também são analisadas “outras possibilidades de empresas mistas, fundamentalmente nos setores da energia e dos derivados”, informou Pérez. A cana é pródiga em derivados para atender as indústrias alimentar, química, farmacêutica e biotecnológica. A lista de subprodutos inclui alimentos para animais, resinas, conservantes, plásticos e insumos para fábricas de papel e de móveis.
“Cuba tem uma cultura açucareira de mais de 400 anos, recursos humanos capacitados, instalações, terras, centros de pesquisa com seus resultados científicos, infraestrutura e organização, mas carece de tecnologia e, sobretudo, de dinheiro para comprá-la”, analisou Pérez. Para ele, o mais importante é que existe uma nova visão sobre como recuperar o setor. Neste aspecto, agora se pode falar de um crescimento sustentado da produção de açúcar, ressaltou.
No entanto, o especialista evitou apresentar estimativas sobre a colheita 2012-2013, que começou em novembro de 2012, com a chamada safra pequena e se estende até maio com participação escalonada de 50 engenhos. Mas, disse que espera um aumento de 20% em relação ao ano anterior. Outras fontes próximas ao setor açucareiro disseram que a safra atual tem cana suficiente para produzir 1,8 milhão de toneladas, embora o plano seja produzir pouco mais de 1,6 milhão. O açúcar continua sendo o produto líder, mas não o único, desta indústria que até o final do século 20 foi locomotiva da centralizada economia cubana.
Por isso, as projeções incluem aumentar derivados, como eletricidade a partir do bagaço, álcoois e alimento animal. Segundo Pérez, é evidente o êxito de medidas como a melhor organização produtiva e uma crescente autonomia financeira. O especialista também mencionou a chegada a tempo de insumos, desde fertilizantes e herbicidas até peças de reposição e equipamentos industriais. A transformação do órgão açucareiro, de ministério em grupo empresarial, permitiu uma autonomia que favorece a tomada de decisões.
A Azcuba é uma das entidades estatais que a partir deste mês estarão funcionando, inicialmente de modo experimental, com novas formas de gestão empresarial, neste caso para se recapitalizar por si mesmas, sem esperar ajuda do Estado. As autoridades acreditam que nesta empresa se poderá provar como funciona a cadeia produtiva, pois opera desde a matéria-prima até as exportações.
“A revitalização deste setor é uma notícia muito boa para nosso país, pois o açúcar continua sendo garantia de créditos internacionais e as vendas externas deixam uma renda segura”, enfatizou ao Terramérica um economista especializado. De sua produção anual, Cuba deve exportar 400 mil toneladas para a China e atender seu consumo interno com 550 mil a 700 mil toneladas. Envolverde/Terramérica
* A autora é correspondente da IPS.
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Açúcar cubano dá sinais de vida
Investimentos estrangeiros ainda não chegam ao engenho – 2008, em espanhol
Instituto Cubano de Pesquisas dos Derivados da Cana-de-Açúcar, em espanhol
Odebrecht, em português, espanhol, inglês e francês
Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação apoiado pelo Banco Mundial Latin America and Caribbean, realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.