Preço do carbono despenca quase 30% desde o começo de 2013

 

Imagem: Quedo no preço de carbono desde abril de 2008 / MOZ3

O fracasso de um leilão por falta de demanda foi o mais recente golpe no mercado de carbono europeu, que nas últimas semanas viu o valor das permissões de emissões cair para apenas €4,7 a tonelada.

O preço das permissões de emissão do Esquema Europeu de Comércio de Emissões (EU ETS), as chamadas EUAs, sofreu uma desvalorização de quase 30% nos primeiros 20 dias de 2013. Em dezembro de 2012, as EUAs estavam sendo negociadas em até €6,7/t, agora, nesta segunda-feira (21), o preço que está sendo pago é de somente €4,7/t, um recorde negativo.

Muitas são as causas para tamanha queda, as principais são a lentidão da Unidão Europeia para colocar em prática medidas que diminuam o excesso de créditos no mercado, a recessão econômica no continente, que derruba a produção industrial, enfraquecendo a demanda, e a falta de confiança de investidores no mercado.

Na sexta-feira (18), um fator pontual ajudou a empurrar ainda mais o preço para baixo. Um leilão de quatro milhões de créditos alemães não encontrou compradores, mesmo depois de prolongado seu período de duração. Essas permissões deverão ser adicionadas a outros leilões, o que deve colocar ainda mais em evidência o problema do excesso dos créditos.

A comissária de ação climática da União Europeia, Connie Hedegaard, escreveu em seu Twiiter que o fracasso do leilão “é um alerta para aqueles que não apoiam o plano de fortalecer o EU ETS. É preciso consertar o mercado urgentemente.”

O mercado de carbono europeu precisa da demanda das geradoras de energia, que são as principais consumidoras de créditos de carbono. Mas, por causa da crise econômica e dos baixos preços do gá natural, essas empresas simplesmente não precisam de tantos créditos.

“A demanda das empresas de energia praticamente não existe. É preocupante que isso esteja acontecendo tão rapidamente. Eu não acreditava que veríamos um leilão fracassar tão cedo em 2013”, afirmou Matthew Gray, analista da Jefferies Group, à Bloomberg.

Curiosamente, está nas mãos da Alemanha a decisão de se fazer uma reforma no EU ETS. A maior economia da Europa possui o poder de influenciar outros países a seguir seja qual for seu posicionamento. O problema é que no momento os alemães estão divididos.

No começo de janeiro, a Bloomberg New Energy Finance (BNEF) revelou que em 2012 o mercado europeu apresentou pela primeira vez uma retração no seu valor total, somando €61 bilhões, uma queda de 36% com relação a 2011. No entanto, a consultoria aposta em uma recuperação geral do mercado para €80 bilhões em 2013, nível similar ao de 2009 e 2010, depois que as medidas da Comissão Europeia para fortalecer o EU ETS forem adotadas.

Porém, nem todos os analistas são tão otimistas. Segundo a UBS, as medidas, se realmente saírem do papel, não serão tão abrangentes ou profundas como seria necessário.

“Acreditamos que os países do leste europeu, que possuem uma economia altamente dependente de carvão, irão se opor ferozmente a qualquer decisão de tornar mais rigoroso o mercado de carbono. Além disso, os governo europeus, de uma forma geral, dificilmente adotarão medidas que inflacionem o preço da energia nesse momento de crise econômica”, concluiu a consultoria.

* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.