Arquivo

Escasseiam alimentos e dinheiro no norte de Mali

Civis em Niono, norte de Mali, fogem com seus pertences. Foto: Marc-André Boisvert/IPS

 

Niamey, Níger, 6/2/2013 – Organizações não governamentais pedem ajuda alimentar, combustível e até dinheiro vivo para o norte de Mali, enquanto aumenta a necessidade de uma intervenção humanitária na área, após a operação militar nas cidades de Gao e Tombuctu. “Desde 2012, os malineses sofrem uma crise tripla: a seca e a má colheita, depois a política, e, por fim, um conflito aberto iniciado quando grupos islâmicos assumiram o controle do norte do país”, disse Kristalina Georgieva, comissária europeia de Cooperação Internacional, Ajuda Humanitária e Resposta às Crises, ao visitar Bamako, no dia 22 de janeiro.

A Comissão Europeia, órgão executivo da União Europeia (UE), anunciou que destinará US$ 27 milhões em ajuda humanitária de emergência para esse país da África ocidental. É urgente a ajuda econômica, pois os moradores de Gao e Tombuctu, as duas maiores cidades do atribulado norte de Mali, têm dificuldades para conseguir alimentos, afirmam organizações que trabalham na área, contatadas de Niamey, capital de Níger.

“Com o avanço das forças francesas e malinesas sobre os combatentes islâmicos, muitos dos fornecedores de alimentos e combustível fugiram da região, especialmente de Gao”, informou no dia 4 a organização humanitária Oxfam Internacional. “Não há fornecimento de alimentos em Gao há duas semanas”, disse Lucile Grosjean, porta-voz da organização Ação Contra a Fome.

Desde abril de 2012, o norte de Mali se viu assediado por uma coalizão de grupos armados integrados por Al Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI), Movimento pela Unidade e a Jihad na África Ocidental (Mujao) e Ansar Dine, organização islâmica de tuaregues. “Devido à ocupação de jihadistas, os agricultores não receberam o habitual apoio do Ministério da Agricultura para melhorar a produção de arroz nas margens do Rio Níger”, contou Grosjean. “Assim, a colheita foi muito menor do que no ano passado”, acrescentou.

Além disso, “muitos mercados fecharam devido às dificuldades nas comunicações com Argélia e Níger (ao norte e ao leste de Mali) e os preços não são bons”, ressaltou Grosjean. Somando-se a isso, uma quadrilha de ladrões de animais faz com que a população local tema por seu gado, afirmou. Os saques agravam o sentimento de insegurança que ainda domina Gao e as populações rurais ao redor, que sofreram o embate da ocupação das forças do Mujao.

Desde que os insurgentes abandonaram a área, após a operação das forças francesas, os estabelecimentos comerciais foram saqueados e seus proprietários, árabes e tuaregues, fecharam as portas e esconderam as mercadorias, esperando que a situação melhore. Isto piora a escassez de alimentos. “Os produtos aumentaram, em geral, 30% e o combustível 66%”, detalhou Grosjean, acrescentando que, embora haja fornecimento, não há dinheiro em Gao para comprar. “Após o fechamento dos bancos, os comerciantes foram a Bamako buscar dinheiro para o norte, mas desde que começou o bombardeio ficamos sem nada”, disse a porta-voz da Ação Contra a Fome.

Em Tombuctu, a situação humanitária é menos alarmante, mas há grande temor por represálias. Ali também os comércios árabes e tuaregues foram saqueados no dia 29 de janeiro, após a chegada das forças francesas e malinesas. A França pediu o rápido envio de observadores internacionais para evitar que as tensões interétnicas semeiem o caos no norte de Mali. Porém, a prioridade é restabelecer o acesso aos cuidados médicos no norte de Mali. “Estamos esperando um ou dois dias para abrir o centro de saúde de Gao, pois prevemos um grande fluxo de pacientes”, afirmou Grosjean.

A ajuda ao Mali, especialmente da UE, foi suspensa em março de 2012, quando o exército derrubou o governo civil eleito nas urnas. Depois do começo da (até agora) bem-sucedida intervenção francesa, vários governos, incluídos os do bloco europeu, prometeram US$ 450 milhões para Mali, bem como recursos humanos para apoiar o treinamento dos soldados do exército. O Grupo de Apoio e Acompanhamento da situação em Mali, que inclui dirigentes políticos e organizações internacionais, se reuniu ontem em Bruxelas para analisar o processo político do país, com vistas à realização de eleições democráticas. Envolverde/IPS