Renováveis precisam de mais clareza para prosperar

Painel de especialistas reunidos em São Paulo discute a importância do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e a necessidade de novas estruturas financeiras para incentivar fontes alternativas de produção energia

Apesar do aumento de novos investimentos em energias renováveis, o capital tradicional não tem conseguido alcançar o montante necessário para alavancar o desenvolvimento de novas formas de geração, alerta o CEO da Way Carbon Marcos Fujihara.  Esse e muitos outros pontos foram debatidos durante um painel no Carbon Markets and Climate Finance Americas, evento realizado na última semana para discutir as novas tendências no mercado de carbono.

Segundo Fujihara, novos instrumentos são necessários para garantir a “renovabilidade” das fontes de energia, a exemplo dos certificados de energias renováveis implementados no Chile. A lei chilena abrangendo Energias Renováveis Não Convencionais, promulgada em 2008, visa que os geradores de energia com capacidade instalada maior que 200 MW tenham até 2015 5% de fontes renováveis aumentando para 10% em 2024.

Na opinião do CEO, o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e demais recursos provenientes do carbono fazem pouca diferença na taxa de retorno das empresas, mas os certificados de energias renováveis (REC – Renewable Energy Certificate) poderiam fazer.

As discussões no Brasil sobre a estruturação de novos mecanismos financeiros para capitalizar as empresas do setor, indo além das taxas de juros diferenciadas, estão apenas iniciando apesar da necessidade das empresas por apoio neste momento de consolidação.

“Como garantir esta consolidação? Os bancos têm responsabilidades na criação de novos instrumentos, porém estão criando mais do mesmo”, comentou Fujihara, enfatizando que ainda não dispomos dos mecanismos necessários.

MDL

Muitos desenvolvedores de projetos se queixam que o MDL não é tão significativo para os projetos de renováveis, porém Maria Netto, da Unidade de Energias Sustentáveis e Mudanças Climáticas do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), lembra que o MDL tem que ser adicional às iniciativas nacionais.

Para Adriana Mello, consultora da WayCarbon, o MDL tem um papel muito importante na viabilização dos projetos de energia eólica no Brasil, pois com a renda proveniente do mecanismo os preços de venda desta fonte nos leilões de energia ficam mais competitivos com fontes mais baratas como a hidroelétrica.

“Como o custo das energias renováveis ainda é relativamente caro, os créditos de carbono fazem diferença quando é preciso diminuir o preço da energia. Sem o MDL, os projetos não ficam competitivos em leilões de energia”, afirmou Adriana completando que nos últimos leilões a energia eólica foi a mais comprada pelo governo.

Assim como Fujihara, Maria Netto do BID ressalta a importância da iniciativa privada se engajar junto com o governo e encontrar novas soluções para incentivar o desenvolvimento do setor de energias limpas.

“A disseminação de novas tecnologias não vai ser realizada com o carbono e nem incentivos fiscais”, comentou Maria.

Previsibilidade (clareza sobre as políticas) e credibilidade são essenciais para o desenvolvimento de qualquer novo ativo ambiental, por isso as políticas governamentais têm um papel decisivo na atração de investidores.

*Publicado originalmente no site do CarbonoBrasil.