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Refugiados de Mali no Níger esperam luz verde para voltar

Várias crianças no acampamento de Abala estão desnutridas. Foto: William Lloyd-George/IPS

Mangaize, Níger, 12/3/2013 – Os refugiados de Mali em Mangaize, no noroeste de Níger, desejam voltar para suas casas e se manterem novamente com seu próprio trabalho. “Temos comida e água, embora o alimento não seja variado. Nossos filhos puderam voltar a estudar”, reconheceu Aissa Hama, de 39 anos e mãe de cinco filhos em idade escolar. “Contudo, é difícil estar exilado e depender da ajuda de outros”, afirmou à IPS. Ela é uma das muitas pessoas de Mali que cruzaram a fronteira para os países vizinhos, antes e depois da ocupação do norte do país por grupos armados islâmicos, aliados da rede extremista Al Qaeda, em abril de 2012.

Os rebeldes permaneceram na região até o mês passado, quando uma intervenção francesa ajudou o exército nacional a recuperar o território. O acampamento de Mangaize foi montado em maio de 2012, após a chegada de uma grande quantidade de famílias do Mali, contou Idrissa Abou, integrante da Comissão Nacional para os Refugiados do Níger. Além de rações de alimentos mensais, os refugiados têm água potável graças a três pequenos poços e assistência médica primária. Também há instalações sanitárias com 250 duchas e latrinas, bem como um sistema de gestão de resíduos.

Os refugiados também contam com serviços administrativos, uma escola e também com segurança, graças à abertura de uma delegacia. “No momento, são 1.522 famílias, que representam cerca de 6.037 pessoas, mas também há nigerinos repatriados”, explicou Abou à IPS, acrescentando que a grande maioria dos refugiados procede de Menaka, o povoado de Mali mais próximo da municipalidade de Ouallam, departamento do sudoeste do Níger. A população do acampamento de Mangaize aumentou no mês passado, quando chegaram 1.700 refugiados procedentes de Bani Bangou.

A transferência forçou uma ampliação em Manzaige, acrescentando mais de 11 hectares aos 52 originais, segundo Ibrahim Kebé, coordenador local da organização Islamic Relief Worldwide (Alívio Islâmico Internacional) e diretor do acampamento. “E, com apoio permanente do governo do Níger e a cooperação de outras agências humanitárias, pudemos superar os desafios”, declarou à IPS. A disponibilidade de alimentos foi um deles. Segundo o Escritório das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), cada residente de Mangaize recebe cerca de 1.849 calorias e 10,8 litros de água por dia, menos do que as 2.100 calorias e os 20 litros recomendados.

Para algumas pessoas essa provisão não é suficiente. Aissata Yindou, de 36 anos, que vive com seus quatro filhos no acampamento de Mangaize desde março de 2012, disse à IPS que é necessário aumentar as rações de alimentos. “Só recebemos 50 quilos de arroz para a família e uma lata de 750 gramas de óleo por pessoa. Não temos temperos. É preciso aumentar a ração”, reclamou. Yindou também se queixou de que o acesso a medicamentos é limitado. “A infecção na vista às vezes é tão dolorosa que não consigo dormir. Não posso me tratar porque no acampamento não há remédios e não tenho dinheiro para comprar”, ressaltou.

A enfermeira Hadiz Issaka Abdou contou à IPS que faz o melhor possível para atender os pacientes com a medicação disponível. “Recebemos muitas queixas, mas fazemos o que podemos diante da situação no acampamento. Não temos remédios para todas as doenças. As principais são malária, diarreia e afecções cutâneas”, informou. Por outro lado, Akiline Agbogoli, da Comunidade de Refugiados Malienses no acampamento, disse à IPS que são bem tratados. “Estando longe de casa, não podemos ter tudo que precisamos, mas em termos de alimentos e necessidades básicas nos tratam bem”, afirmou.

Porém, para muitos refugiados não é suficiente. Saddam Moussa era açougueiro em Menaka, no Mali, até que o Movimento Nacional para a Libertação de Azawad, o grupo rebelde tuaregue, tomou o controle da cidade. “Estou farto de não fazer nada, esperando que os outros cuidem de mim. Quero trabalhar e viver do fruto do meu trabalho”, disse à IPS. Mohammed Lamine Aghabass, funcionário da aduana de Menaka, concorda com Moussa. “Aplaudimos o apoio militar dos aliados de Mali para libertar nossas cidades dos criminosos que nos expulsaram”, afirmou à IPS. “Estamos ansiosos para voltar à nossa vida normal, mas não podemos sem a aprovação do governo do Níger e das agências que nos ajudam”, explicou. Segundo o Acnur, em janeiro deste ano havia 53.135 refugiados do Mali em Níger. Envolverde/IPS