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Estados Unidos decididos a conseguir “novo equilíbrio” na Ásia Pacífico

Washington, Estados Unidos, 13/3/2013 – Em meio a novas tensões com a Coreia do Norte e, em menor grau, com a China, o governo dos Estados Unidos insiste em que está decidido a conseguir um “novo equilíbrio” na Ásia Pacífico, e garante estar plenamente comprometido com a Coreia do Sul e o Japão, seus aliados nessa região. Em um discurso na Sociedade Asiática em Nova York, o conselheiro de Segurança Nacional, Thomas Donilon, apresentou um resumo da estratégia norte-americana para essa região do planeta, destacando que o “reequilíbrio” será completo, dando atenção tanto ao papel econômico de Washington como à sua presença militar. 

Embora grande parte do discurso repetisse basicamente antigas declarações do governo, Donilon, principal assessor em política externa do presidente Barack Obama, também anunciou novas sanções ao Banco de Comércio Exterior da Coreia do Norte. Analistas afirmam que estas novas medidas dificultarão o comércio de Pyongyang com terceiros países. Donilon não vinculou explicitamente as sanções com os últimos testes nucleares realizados pelos norte-coreanos, nem com as últimas ameaças desse país para centralizar ataques preventivos contra os Estados Unidos.

Entretanto, Donilon sugeriu, nos termos mais claros já apresentados até agora, que Washington responderia com a força militar a qualquer agressão norte-coreana. “As declarações da Coreia do Norte podem ser hiperbólicas, mas quanto à política dos Estados Unidos não deve haver dúvida: utilizaremos toda a gama de nossas capacidades para nos protegermos”, disse em seu discurso, no dia 11.

Donilon também exortou Pequim a aprofundar o diálogo com Washington no campo militar e a dar “passos sérios” para acabar com os ataques por parte de “ciberespiões” chineses contra redes informáticas privadas e do governo norte-americano, uma prática que, afirmou, se “converteu em um tema fundamental de preocupação e discussão com a China em todos os níveis de nossos governos”. E acrescentou que os dois países deveriam conseguir um “diálogo direto para estabelecer normas aceitáveis de comportamento no ciberespaço”.

O discurso de Donilon aconteceu no contexto de uma crescente tensão na península da Coreia, após os testes atômicos subterrâneos realizados por Pyongyang e a chegada ao poder do novo presidente sul-coreano, Park Geun-hye, bem como os exercícios militares conjuntos realizados por Washington e Seul na região. Diante dessas manobras militares, Pyongyang anunciou que declarava nulo o armistício com Seul de 1953.

As novas tensões motivaram chamados à Coreia do Sul para que esse país também desenvolva armas nucleares, como no Japão, depois que se produziram novos atritos com Pequim por um grupo de ilhas no Mar da China Oriental. As reações belicistas de Seul e Tóquio, onde crescem as dúvidas quanto a Washington poder de fato reequilibrar sua presença na Ásia Pacífico quando o orçamento do Pentágono parece estar diminuindo, são motivo de preocupação para o governo de Obama.

Donilon também se referiu à meta de Washington de enviar 60% da frota naval norte-americana para a Ásia Pacífico, até 2020, e de expandir os sistemas de defesa de radares e mísseis para proteger seus aliados do “perigoso e desestabilizador comportamento da Coreia do Norte”. “Nestes tempos fiscais difíceis, sei que alguns questionam se este reequilíbrio é sustentável”, pontuou Donilon. “Porém, não se enganem: o presidente Obama claramente assinalou que manteremos nossa presença de segurança e nossa participação na Ásia Pacífico”, destacou.

Além de reafirmar seu compromisso com Seul e Tóquio, o discurso do dia 11 também pareceu destinado a dissipar qualquer dúvida sobre a prioridade que representa a Ásia Pacífico na nova estratégia global norte-americana, sobretudo depois da viagem do secretário de Estado, John Kerry, pela Europa e pelo Oriente Médio, e da decisão de Obama de também viajar a esta última região.

Donilon destacou que o novo primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, foi um dos primeiros líderes mundiais a visitar a Casa Branca este ano, e anunciou que Park viajará a Washington em maio. Além disso, o funcionário destacou a decisão de Obama de que os Estados Unidos participem da Cúpula da Ásia Oriental. O conselheiro também destacou a importância do sudeste da Ásia nos esforços de reequilíbrio dos Estados Unidos, e inclusive da Índia, cujas políticas de “olhar para o leste” foram elogiadas pelo funcionário.

“Não estamos apenas procurando um novo equilíbrio na Ásia Pacífico, mas também estamos reconhecendo a crescente importância do sudeste asiático”, afirmou Donilon. “Assim como descobrimos que os Estados Unidos tinham pouca presença na Ásia oriental, nos demos conta de que estava especialmente ausente do sudeste asiático, e vamos corrigir isso”, detalhou, para em seguida especificamente qualificar a Indonésia de potencial “sócia global”, como a Índia.

Donilon explicou que “reequilibrar” não significa “diminuir laços com importantes sócios em outras regiões” e nem querer “conter a China ou procurar ditar novos termos à Ásia”. E “não é apenas um assunto de nossa presença militar”, insistiu, apontando a importância da aproximação comercial de Washington com a região, especialmente por intermédio do proposto Acordo de Associação Transpacífico, que permitirá o livre comércio entre 11 países.

Robert Manning, especialista em Ásia para o independente Atlantic Council, afirmou que o discurso aconteceu em um momento oportuno. No entanto, “gostaria que dissesse mais sobre a necessidade de Estados Unidos e China trabalharem por um entendimento sobre seus respectivos papéis na Ásia Oriental, sobretudo considerando que o nível de desconfiança estratégica” entre as duas nações está aumentando, ressaltou à IPS. Envolverde/IPS

* O blog de Jim Lobe está no endereço www.Lobelog.com.