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Fórum Social Mundial se volta para nova forma de solidariedade

A luta dos palestinos ocupou lugar central no Fórum Social Mundial de 2013, na Tunísia. Foto: Monika Prokopczuk/IPS

Túnis, Tunísia, 8/4/2013 – Para os milhares de participantes do Fórum Social Mundial (FSM) ficou claro que a função fundamental da última reunião anual foi construir solidariedade entre os movimentos que defendem a paz, a justiça e a liberdade no mundo. Na reunião do FSM, entre 26 e 30 de março em Túnis, capital da Tunísia, onde uma revolta popular pôs fim, em janeiro de 2011, ao regime de Zine el Abidine Ben Ali, participaram, entre outros, partidários e opositores do presidente da Síria, Bashar al-Assad, e ativistas palestinos e da Rede de Judeus Antissionistas. Em suma, foi um cadinho de lutas e buscas por bases comuns.

A Tunísia, reconhecida como berço da Primavera Árabe, foi escolhida para sede da edição 2013 do Fórum, nascido há mais de uma década no Brasil, como forma de homenagear o falecido vendedor de frutas Mohamed Buazizi, cuja imolação foi a faísca que acendeu a revolta. Reunidos nesta cidade transformada em ícone da luta social, os ativistas reafirmaram seu compromisso com a unidade internacional.

“Nossa missão é criar uma nova forma de solidariedade, contraposta à competição e que existe para engendrar igualdades”, disse Mamduh Habashi, membro do Partido Socialista do Egito e da Rede de Solidariedade Popular Sul-Sul, em entrevista à IPS. Este é o “espírito” da cooperação Sul-Sul, insistiu. A rede é integrada por diferentes movimentos de todo o mundo e se considera defensora da democracia, entendida como poder do povo e contexto para o progresso social. Para Rita Silva, da rede No-Vox, a solidariedade internacional pode ser o fator decisivo para se conseguir um movimento de sucesso.

Quando a No-Vox, criada durante o primeiro Fórum Social Europeu, em 2002, realiza atividades formidáveis como evitar o despejo ou demolições em países em desenvolvimento, o apoio internacional é crucial, afirmou Rita. Os ativistas de Angola ou do Zimbábue, por exemplo, estão muito isolados do resto do mundo. “Podem ser facilmente assassinados e ninguém diz nada, mas se estão conectados (com redes internacionais) têm proteção”, destacou.

Representando a Assembleia Internacional dos Habitantes, Mike Davies insistiu na necessidade de se ter uma plataforma que apoie as comunidades locais para que possam falar ao mundo. Costumam surgir problemas com a mediação de organizações não governamentais do Norte porque as bases devem aprender o jargão do mundo das organizações não governamentais ou se perdem no processo. “Nosso único objetivo é fortalecer as comunidades para que possam se ajudar, em lugar de continuarem sendo vítimas da caridade”, acrescentou Davies.

A Primavera Árabe serviu de inspiração para muitos movimentos de protesto que defendem uma mudança democrática, mas nem todos os seus resultados são motivo de comemoração. A guerra civil da Síria, na qual já morreram pelo menos 60 mil pessoas, segundo as estimativas mais conservadoras, foi uma triste recordação para os participantes do FSM de que as consequências de não encontrar uma base comum podem ser catastróficas.

Sara Ajlyakin, participante da revolta síria, apontou que o resultado do conflito não está claro, mas abriu espaços vitais para a organização e a construção de unidade. “É um avanço histórico que não poderá ser revertido. Sentimos o poder das ruas, do coletivo, e ninguém pode nos tirar isso”, afirmou à IPS. Até a Primavera Árabe, a população da Síria não tinha uma saída para suas frustrações e o peso que carregava. “Mas isso já passou. Seja quem for, mulher, trabalhador, estudante, integrante da comunidade LGBT, qualquer que seja sua procedência, encontra uma forma de expressar sua opinião de forma coletiva”, acrescentou.

Mesmo reconhecendo que as visões e as ideologias encontradas têm um impacto sobre a natureza de um movimento em conflito, Ajlyakin negou a noção de “islâmicos versus seculares”, indicando que é uma falsa dicotomia. A única dualidade que reconhece é a que existe entre a atividade “revolucionária e contrarrevolucionária”, afirmou. “Os islâmicos não são o diabo. Ao isolá-los incentiva-se o erro histórico da esquerda árabe, que assemelha seculares com ateísmo”, ressaltou.

“É meu trabalho enviar uma mensagem aos islâmicos políticos: não planejo sua eliminação, sou parte de vocês e vocês são parte de mim, mas vocês tampouco podem me isolar”, pontuou Ajlyakin, repercutindo o lema de uma conferência: semear a unidade em lugar da divisão.

No verdadeiro espírito da solidariedade internacional, a causa palestina ocupou um lugar central. A atividade de encerramento do FSM consistiu em uma marcha pela capital que terminou na embaixada da Palestina para comemorar o Dia da Terra na Palestina.

Segundo Amjad Shawa, diretor da rede da sociedade civil palestina, é “totalmente evidente” que os palestinos estavam na mente e nos corações dos participantes do FSM. “A solidariedade chega de todas as partes”, afirmou Shawa à IPS, referindo-se à presença de organizações como a Rede Internacional de Judeus Antissionistas, que chegou ao FSM e marchou junto à numerosa delegação palestina. Envolverde/IPS