Arquivo

Obesidade e fome, dois lados do mesmo problema

 

Danielle Nierenberg. Foto: Cortesia da entrevistada

Nações Unidas, 11/4/2013 – A organização Food Tank acredita que as soluções alimentares são encontradas mais rapidamente quando as comunidades têm informação básica sobre as melhores práticas para abordar os problemas agrícolas, ambientais e sociais. Cerca de 40 milhões de meninos e meninas menores de cinco anos no mundo tinham peso insuficiente em 2010, e, desde 1980, a prevalência mundial da obesidade duplicou, segundo a revista médica britânica The Lancet.

Danielle Nierenberg e Ellen Gustafson, cofundadoras da organização Food Tank, veem profundos problemas sistêmicos em nosso sistema alimentar, que vão além da simples escassez ou da excessiva indulgência. A IPS conversou com Danielle Nierenberg.

IPS: A Food Tank apresenta uma desigualdade que nossa geração enfrenta atualmente: alguns não têm alimento suficiente, outros comem demais. O que está ocorrendo?

DANIELLE NIERENBERG: É irônico. Produzimos mais alimentos do que nunca, mas o mundo ainda tem quase um bilhão de pessoas que a cada noite vão dormir com fome. Por outro lado, há 1,5 bilhão que tem sobrepeso ou é obeso. Estes poderiam parecer problemas opostos, mas são parte da mesma questão: um sistema alimentar que não nutre as pessoas. Estamos usando as calorias e os rendimentos como nossas únicas medidas. A maior parte das pesquisas e dos investimentos em agricultura se centram em cultivos alimentares à base de amidos, em lugar daqueles que são densos em nutrientes ou que protegem os fornecimentos hídricos, ou potencializam o solo, ou promovem a igualdade de gênero, ou empoderam os jovens.

IPS: Você vê que as nações africanas estão abraçando soluções sustentáveis para combater a fome? Há maneiras para as comunidades locais começarem a implantar soluções em menor escala?

DN: Os agricultores africanos também são empresários e empresárias, empreendedores e administradores da terra que merecem ser reconhecidos pelos serviços do ecossistema que proporcionam e que oferecem benefícios generalizados. Os agricultores e as comunidades africanas estão implantando soluções, entre elas a colheita de água de chuva, irrigação por gotejamento impulsionada pela energia solar, semeaduras que previnem perdas posteriores à colheita, semeadura de produtos autóctones, etc. Tudo isto está ajudando a melhorar a nutrição, aumentar a renda e proteger o meio ambiente. Porém, são necessários mais investimentos e mais pesquisas. Os governos africanos precisam começar a investir nos agricultores. Desde a década de 1980 a cota agrícola da assistência mundial ao desenvolvimento caiu de aproximadamente 16% para magros 4%. E apenas um punhado de nações africanas destinam 10% de seus orçamentos nacionais à agricultura como parte do Programa Geral para o Desenvolvimento da Agricultura na África.

IPS: Como sugere chegar às mulheres em matéria de assuntos alimentares mundiais?

DN: As mulheres constituem 80% da força de trabalho agrícola na África subsaariana, mas não têm o mesmo acesso ao crédito, à terra e aos serviços de extensão que os homens. Em lugares como Zâmbia, por exemplo, grupos de teatro ambulante usam suas obras para mostrar às comunidades o importante papel das mulheres na agricultura.

IPS: O que pode nos dizer sobre o meio ambiente e sua relação com os problemas alimentares mundiais?

DN: A escassez hídrica aumenta, a fertilidade do solo diminui e a mudança climática é a provável culpada por mais eventos meteorológicos extremos, como a devastadora seca que no ano passado açoitou os Estados Unidos, e as desastrosas inundações que em 2010 mataram ou deslocaram milhões de agricultores no Paquistão, ou, ainda, a seca que atualmente se registra no Sahel. A produção de alimentos depende de existirem padrões de chuvas previsíveis, solos ricos em nutrientes e um clima também previsível. Embora a agricultura contribua com 30% de todo os gases-estufa, também é o esforço humano mais dependente de um clima estável. Envolverde/IPS