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Críticas e suspeitas por envio de tropas sul-africanas à RDC

A oposição sul-africana questionou o governo por sua intenção de enviar tropas à RDC. Foto: GovernmentZA/CC by 2.0

Johannesburgo, África do Sul, 15/4/2013 – Kholekile Dlamini ficou arrasada com a morte de seu filho, Xolani Dlamini, soldado da Força de Defesa Nacional da África do Sul que tombou na República Centro-Africana. Como muitos sul-africanos, ela nem mesmo sabia do envio de tropas a essa nação. Xolani, de 27 anos, morreu pelas mãos da aliança rebelde centro-africana Séléka, que deu um golpe de Estado no dia 24 de março. Os confrontos deixaram 13 soldados sul-africanos mortos, 27 feridos e um desaparecido.

Entre lágrimas, sua mãe disse à IPS que membros de sua família “estão entristecidos e impactados” pela morte de “Rifleman” (homem do rifle), como o chamavam carinhosamente. Desde que anunciou a retirada de todas suas forças da República Centro-Africana no dia 9, o governo da África do Sul mantém um forte hermetismo sobre as razões que o levaram a enviar soldados para evitar que o presidente François Bozizé fosse derrubado pelos rebeldes de Séléka.

Enquanto o público continua sem saber detalhes da missão nesse país, foi anunciado que Pretória também prevê enviar em breve tropas para a República Democrática do Congo (RDC). A oposição sul-africana questionou a decisão e exigiu que o presidente Jacob Zuma informe ao parlamento detalhes sobre o novo envio. O professor Shadrack Gutto, especialista em direito constitucional da Universidade da África do Sul, afirmou que os rebeldes da RDC vão tirar proveito do que ainda está fresco na mente de todos (em referência ao ocorrido na República Centro-Africana).

A África do Sul decidiu enviar tropas depois que uma resolução de março, do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), pediu a intervenção na RDC. A ofensiva tem o propósito de neutralizar os insurgentes, incluindo o grupo M23, que operam no leste desse país. “O presidente Zuma deve ser claro sobre este assunto. Está obrigado a dizer ao público as razões do envio de forças à República Centro-Africana, e não se esconder atrás do argumento de proteger os interesses nacionais”, enfatizou Gutto.

O porta-voz da Presidência sul-africana, Mac Maharaj, disse à IPS que o parlamento fora informado oportunamente da operação na República Centro-Africana, e garantiu que em cada envio de tropas o presidente seguiu o estabelecido na Constituição. Já o porta-voz das Forças de Defesa Nacional da África do Sul, Xolani Mabanga, confirmou à IPS que mais soldados deste país serão enviados à RDC no final deste mês, sem informar quantos.

O M23 alertou que haverá represálias se for atacado pelas forças da África do Sul. Contudo, Mabanga respondeu que as forças sul-africanas não serão “dissuadidas de cumprirem suas obrigações internacionais” e assegurou que estarão “sempre prontas para executar qualquer tarefa que lhes for confiada”.

Partidos de oposição acusaram o governo Zuma de intervir em países vizinhos simplesmente para proteger seus interesses mineiros. Durante cinco anos, um número não preciso de soldados sul-africanos deu assistência ao frágil governo da República Centro-Africana. A administração de Zuma argumentou que isso é parte de um acordo bilateral com esse país, assinado em 2007 e renovado em 2012.

David Zunmenu, especialista em temas da República Centro-Africana no Instituto para Estudos de Segurança, disse à IPS que muitos analistas consideram que esse argumento está “fora da realidade” e que a verdadeira razão dos envios de tropas são os interesses mineiros. “É difícil verificar a exatidão dessas observações. O contexto no qual aconteceu o envio foi problemático”, observou.

“Bozizé foi atacado por uma coalizão de grupos rebeldes, e ainda que sócios regionais como Chade, Gabão e Camarões tenham agido rapidamente para deter o movimento e forçado uma negociação, o presidente perdeu a confiança nos mecanismos regionais”, pontuou Zunmenu. “Sua iniciativa de chamar a África do Sul (para se defender dos rebeldes) não foi bem avaliada. Na verdade, com a presença da África do Sul, pensou que já não estava vulnerável, tornou-se arrogante e desprezou o acordo de paz”, acrescentou.

O Séléka lançou sua ofensiva contra o regime de Bozizé em dezembro do ano passado, que deteve temporariamente após assinar o Acordo de Livreville em janeiro. Apesar das críticas, Zunmenu acredita que a África do Sul ainda tem um papel a desempenhar nas missões de manutenção de paz no continente. Mas alertou que o país deve esperar um mandato internacional da ONU antes de enviar tropas, destacando que sempre deve operar no contexto dos acordos regionais.

Quanto à República Centro-Africana, Zunmenu disse que esse país tem a oportunidade de fixar um novo rumo que rompa com seu passado golpista e iniciar uma etapa de governos eleitos democraticamente. No dia 4, a Comunidade Econômica de Estados da África Central se negou a reconhecer o líder rebelde centro-africano, Michel Djotodia, que se autoproclamou presidente e prometeu restaurar a ordem constitucional. Envolverde/IPS