Havana, Cuba, 3/5/2013 – A pediatra Grisel Navarro diz ser uma “aposentada diferente”, porque continuou vinculada à sua profissão, sai para passear e se nega a “ficar à mercê das necessidades familiares e de todos”, uma realidade que reduz a qualidade de vida de muitas cubanas quando se aposentam. Grisel, de 62 anos, se aposentou há cinco meses e agora tem contrato de meio período no hospital Ángel Arturo Aballí, da capital. “Continuo trabalhando no que gosto, de maneira mais calma”, contou à IPS esta integrante de uma geração feminina que superou com juros os níveis de instrução e emprego de suas mães.
Hoje, as cubanas que chegam à idade de se aposentar (elevada em 2008 de 55 para 60 anos para mulheres e de 60 para 65 anos para os homens) tiveram acesso maciço à educação desde a infância e apostaram no emprego. O fizeram imbuídas pela chamada “revolução dentro da Revolução”, como foi conhecida a emancipação feminina dentro do processo iniciado em 1959 em Cuba, que elevou os níveis de participação das mulheres e alcançou progressos como igualdade de salários com os homens, entre outros.
No entanto, ativistas defendem, atualmente, mais mudanças em favor da igualdade de gênero e que haja mais políticas públicas voltadas para as necessidades particulares das mulheres e meninas deste país de 11,2 milhões de habitantes, onde persiste o machismo. As idosas como Grisel têm entre suas aspirações “viver a plenitude da terceira idade”, mas esse sonho pode ser truncado por diversos fatores como as desvantagens de gênero e outros próprios da velhice, como ser este um setor de poucos recursos econômicos.
Sobre elas continuam recaindo as maiores responsabilidades do lar e o cuidado das crianças e dos doentes, tendem mais a ficar viúvas e seguirem sozinhas, ficam encarregadas de netos devido à emigração de jovens, e muitas carecem de segurança econômica por sempre terem sido trabalhadoras do lar ou receberem pensões mínimas do Estado. “Embora as mulheres vivam mais, o fazem com menos saúde ou mais afetadas por eventos mórbidos ou de enfermidades, uma manifestação de menor de vida”, explicou à IPS a demógrafa Sonia Catasus. “Neste fenômeno incidem de alguma forma os elementos vinculados à subordinação de gênero”, ressaltou.
A expectativa de vida das cubanas é de 80,7 anos, enquanto a média dos homens fica em 76,6 anos, um indicador que tende a crescer para ambos os sexos, segundo o Escritório de Estatísticas e Informação (Onei, estatal). Cada vez mais aumenta mais o período entre a aposentadoria e a morte da população. Este fato demonstra os avanços sociais e em saúde do país, mas, ao mesmo tempo, representa um desafio para sua economia, típica de nações em desenvolvimento, que tenta sair da profunda crise que sofre há mais de 20 anos.
Por razões biológicas, a população feminina vive mais anos do que a masculina em todas as latitudes, explicou Catasus, por isso, fala-se de um processo de “feminização do envelhecimento” em nível global, assunto que requer tratamento particular por parte dos governos. Uma pesquisa a respeito, apresentada pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, que usa dados de 2010, mostra que as mulheres com mais de 60 anos representavam 10,7% da população feminina da região, enquanto os idosos eram 9% do total de homens. Além disso, três em cada dez mulheres idosas latino-americanas tinham, então, 75 anos ou mais.
Também nesse mesmo ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estudou 31 latino-americanos e caribenhos e alertou que as mulheres tinham, dentro de sua expectativa de vida, dez anos carentes de boa saúde, enquanto os homens apenas oito. Esse panorama será mais crítico no futuro próximo, uma previsão que coloca em xeque famílias, sistemas de cuidado, de apoio a cuidadores, de assistência social e de saúde, e a maneira como se planeja a força de trabalho em países como Argentina, Brasil, Cuba, Chile, Costa Rica, Porto Rico, República Dominicana e Uruguai.
O informe Envelhecer no Século XXI: uma Celebração e um Desafio, divulgado em 2012 pelo Fundo de População das Nações Unidas, estima que 25% da população latino-americana terá mais de 60 anos em 2050. Nessa época, Cuba estará entre as 11 nações com população mais velha do mundo, com 38% acima dos 60 anos.
Embora a cobertura econômica e os serviços de saúde sejam fundamentais para melhorar as condições da terceira idade, aposentadas como a cubana Caridad Pegudo, de 67 anos, asseguram que é imprescindível “se preparar para mudar de atitude” a fim de ter uma boa qualidade de vida na velhice. “Para nós, idosas, é importante alternar a rua com a casa, que nos absorve. Quando saímos não temos que nos preocupar e sempre se conversa com outras pessoas”, contou à IPS esta professora aposentada que integra o grupo Tula, de artesanato em tecido.
“Manter-se ativa socialmente contribui para ficar menos doente e nos aproxima de novos conhecimentos”, observou Caridad, que no final de março participou do Terceiro Encontro de Meditação. Esta iniciativa comunitária, realizada em Havana, mobilizou mais de mil pessoas, sobretudo mulheres da terceira idade. “As mulheres são educadas para sustentar a família e os outros. Com as mudanças atuais, muitas idosas se preocupam mais consigo mesmas. Penso que a meditação ajuda a se reencontrarem com elas mesmas, além de esta prática melhorar sua saúde”, opinou Juan Dávila, organizador do encontro.
Esse projeto se une a outras iniciativas civis e estatais que tentam apoiar a crescente população idosa em Cuba. Entre elas, destacam-se as mais de 500 Aulas do Adulto Idoso, que atualizam avanços científicos do momento, e os chamados Círculos de Avós, para fazer exercícios físicos em grupo. Envolverde/IPS