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Comitê pede prisão perpétua para responsáveis por tragédia

 

 

 

Foi o pior acidente industrial na história de Bangladesh, com pelo menos 1.127 mortos. Foto: Naimul Haq/IPS

 

Doha, Catar, 27/5/2013 – Um comitê investigador criado pelo governo de Bangladesh concluiu que os responsáveis pelo desmoronamento de um prédio no mês passado, quando morreram mais de mil trabalhadores têxteis, devem ser condenados à prisão perpétua. Este grupo, criado pelo Ministério do Interior, recomendou essa sentença para o dono do imóvel, nos arredores de Daca, onde funcionavam cinco fábricas têxteis.

O desabamento do edifício Rana Plaza, no dia 24 de abril, o maior acidente do setor têxtil da história do país, deixou evidentes as duras condições de trabalho nessa indústria de US$ 20 bilhões e as falhas na segurança para milhões de trabalhadores, que recebem apenas US$ 38 por mês. O comitê concluiu que o terreno onde se encontrava o prédio é inadequado para um edifício de vários andares e que a construção era de “qualidade muito ruim”.

“Uma parte do prédio foi construída sobre terra onde antes havia um corpo de água, que foi fechado com entulho”, declarou no dia 23 o presidente do comitê, Khandaker Mainuddin Ahmed, à agência de notícias AP. Ahmed afirmou que Sohel Rana, proprietário do Rana Plaza, é “o principal culpado, e por isso morreram 1.l27 pessoas”. O informe concluiu que foram ignorados códigos de construção ao converter o prédio, originalmente destinado a ser um centro comercial de seis andares, em um complexo fabril de oito andares onde trabalhavam mais de três mil empregados.

Ahmed disse que Rana e os donos das oficinas têxteis, quatro dos quais foram presos, obrigaram os funcionários a continuar trabalhando apesar de, no dia anterior à tragédia, terem sido detectadas rachaduras na estrutura. “Ameaçaram os empregados com demissão ou redução no salário caso se negassem a trabalhar”, ressaltou. O comitê também indicou que os proprietários usavam geradores de energia nos pisos superiores, indo contra as regulamentações. O peso dos geradores, somado ao das máquinas têxteis, desencadeou o desmoronamento.

Uma delegação dos Estados Unidos, encabeçada pela subsecretária de Estado para Assuntos Políticos, Wendy Sheran, chegou ontem a Bangladesh para se reunir com representantes do governo. “A conversa giraria sobre reformas das leis trabalhistas, padrões de proteção contra incêndios e pautas mínimas para a segurança das estruturas” disse o embaixador norte-americano Dan Mozena.

O governo de Bangladesh já prometeu endurecer as inspeções das fábricas e facilitar a sindicalização dos trabalhadores, bem como criar conselhos para aumentar os salários dos três milhões de empregados no setor têxtil. Mozena afirmou que também serão discutidos “alguns assuntos importantes”, mas não especificou quais.

Os baixos salários e os reiterados acidentes fatais desataram vários protestos nos principais centros de produção têxtil de Bangladesh, freando os embarques e obrigando alguns distribuidores a desavieram seus envios para outros países. Mais de 2.500 pessoas foram resgatadas dos escombros do Rana Plaza, e o comitê sugeriu que o governo lhes forneça tratamento médico gratuito. Envolverde/IPS

* Publicado sob acordo com a Al Jazeera.