Arquivo

Para o Sri Lanka, vale mais prevenir desastres do que curar seus efeitos

A ameaça de uma tempestade é motivo de preocupação para muitos cingaleses. Foto: Amantha Perera/IPS

 

Colombo, Sri Lanka, 4/6/2013 – A chegada da monção ao Sri Lanka é sempre um evento muito esperado. Há algo estranhamente cativante nessas cenas de grandes nuvens, chuvas intensas e árvores sacudidas que seduz até os mais indiferentes. Essas chuvas agora chegam a Sri Lanka geralmente em curtas rajadas, que duram cerca de 15 minutos, acompanhadas de trovões.

O dia pode estar sereno e ensolarado e no minuto seguinte fortes ventos agitarem perigosamente as palmeiras e desabar uma tempestade. As rajadas de chuva são comuns nas planícies ocidentais. Contudo, quando a tempestade dura mais tempo, a beleza do fenômeno desaparece e surge o medo. As cidades e aldeias inundam, as ruas ficam debaixo de água e milhares de pessoas ficam nas sacadas das casas, às vezes por vários dias.

Esta nação insular da Ásia meridional já enfrentou este cenário no começo do ano, quando o ciclone Mahasen atingiu sua costa leste, deixando oito mortos e mais de cem mil desabrigados e mais de duas mil infraestruturas destruídas. Ninguém esquece o tsunami de dezembro de 2004, que causou 35 mil mortes e cerca de um milhão de desabrigados. Esta tragédia obrigou o governo a adotar um sistema de alerta e programas de mitigação de desastres.

“Estamos acostumados às monções e agora aos ciclones. Estamos melhor preparados do que antes”, disse à IPS o subdiretor do Centro de Manejo de Desastres, Sarath Lal Kumara. O Centro foi criado em agosto de 2005 como ponto modal para as operações do Conselho Nacional para Manejo de Desastres, que depois se converteu no Ministério de Manejo de Desastres e Direitos Humanos.

Cada uma das mais de 300 divisões administrativas do Sri Lanka tem seu próprio comitê de manejo de desastres, com orçamento para emergências. Os fundos são fornecidos pelo governo central. Por sua vez, o Centro tem suas próprias unidades em cada um dos 25 distritos das nove províncias do país, com atividades também coordenadas a partir da capital, e cada uma conta com um chefe. “Têm sua base nas regiões para poder tomar decisões rápidas”, detalhou Kumara. As unidades também recebem recursos para disparar alertas e coordenar tarefas iniciais de resgate e ajuda, acrescentou.

Outras organizações não governamentais também atualizaram suas próprias ferramentas de alerta. A Sociedade da Cruz Vermelha do Sri Lanka, por exemplo, tem unidades de manejo de desastres em cada distrito, e sistematicamente mobiliza voluntários em esforços de alerta e ajuda. O pessoal e os voluntários participam regularmente de cursos de preparação diante de desastres, que foram especialmente úteis quando o ciclone atingiu o país. “Creio que estamos em melhor condição para enfrentar os desastres naturais”, afirmou à IPS Bob McKerrow, chefe de uma delegação da Federação Internacional de Sociedades da Cruz Vermelha e da Meia Lua Vermelha (IFRC).

Especialistas alertam que toda a região da Ásia meridional sofrerá eventos climáticos extremos e, portanto, deve estar preparada. Mais de 25 milhões de pessoas tiveram que abandonar a região entre 2011 e 2012 por causa de desastres naturais, segundo o Centro de Vigilância do Deslocamento Interno, com sede em Genebra. Milhões de pessoas estão em situação de risco na Ásia meridional diante de eventos climáticos extremos, disse à IPS o diretor da divisão de gênero, redução de pobreza e desenvolvimento social do Banco Asiático de Desenvolvimento, Bart Édes.

“Além de serem vulneráveis a ciclones, inundações e secas, os que vivem na costa da Ásia meridional enfrentam um paulatino aumento do nível do mar”, alertou Édes. Diante de um desastre, que às vezes afeta milhões de pessoas, os já limitados serviços de água, saúde, educação e infraestrutura podem sofrer um colapso, acrescentou. “O deslocamento ambiental está exacerbando a tendência à urbanização que se constata em toda a Ásia meridional. No entanto, a infraestrutura física e social de muitas cidades já está no limite de sua capacidade”, explicou à IPS. Como resultado, as migrações relacionadas com o clima estão se convertendo em um importante tema na região, ressaltou.

Um estudo sobre o impacto das inundações que afligiram o Sri Lanka entre dezembro de 2012 e janeiro de 2013, elaborado em conjunto pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA) e os ministérios de Manejo de Desastres e de Desenvolvimento Econômico, oferece um resumo do grau dos danos que um desastre pode provocar. O estudo indica que mais de meio milhão de pessoas em todo o país foram afetadas. E estas pessoas sofreram duplamente: 67% das vítimas ouvidas disseram que também sofreram com a seca de dez meses que antecedeu a inundação.

Uma avaliação feita pela IFRC em novembro do ano passado calculou em mais de 1,2 milhão o número de cingaleses afetados pela seca. O informe do PMA também concluiu que 37% das famílias entrevistadas sofriam insegurança alimentar severa, enquanto 44% estavam à beira da insegurança alimentar. Além disso, a maioria dos afetados pela seca e pelas inundações trabalhava na agricultura ou tinha empregos casuais.

“A perda dos meios de sustento, a extrema pobreza e a destruição de cultivos são os principais fatores da insegurança alimentar entre as famílias”, diz o informe. O estudo também indica que mais de 67% dos afetados pelas inundações viviam abaixo da linha de pobreza. Segundo Kumara, essas vítimas estavam sendo levadas para as cidades, sobretudo quando as colheitas ficavam perdidas. “Não podemos deter os eventos naturais e nem alterá-los. O que podemos fazer é nos preparar para o pior”, ressaltou. Envolverde/IPS