Fizeram uma enquete entre pessoas que, a seu juízo, tiveram sucesso, eu entre elas. Queriam descobrir o segredo. Eram seis perguntas:
1) Se tivesse que definir sua história profissional em três palavras, quais seriam?
Um jovem me perguntou: como planejei a minha vida para chegar aonde cheguei? Respondi: cheguei aonde cheguei porque tudo o que planejei deu errado. A primeira palavra, então, seria “acidente”.
Depois, há de se ter um dom, coisa que não se faz, mas se recebe dos deuses. Quis muito ser pianista. Fracassei porque me faltava o dom. Já vi muitas promessas em livros de autoajuda do tipo “você está destinado ao sucesso…”. Isso é mentira. O querer nada pode sem o dom.
Finalmente, é preciso trabalhar.
2) Quais diferenciais uma pessoa deve possuir para conquistar o sucesso em sua profissão?
Não gosto dessa palavra “sucesso”. O que é sucesso? Vender um milhão de livros? Muitos livros medíocres são vendidos aos milhões, enquanto outros livros geniais não vendem uma única edição.
Muitos sucessos acontecem por acidente, trapaça ou malandragem. Ser eleito deputado ou senador -isso é sucesso?
Não se aprisionar ao costumeiro. Uma mulher que não conheço me enviou um presente, um quadro bordado em ponto cruz com as palavras “Deus abençoe essa bagunça”… Nietzsche nos aconselhou a construir nossas casas nas encostas do vulcão Vesúvio… Curiosidade.
3) Você deve ter acompanhado muitas pessoas que atingiram um reconhecimento em sua carreira, mas que, em pouco tempo, acabaram esquecidas. Quais os cuidados que um profissional deve tomar para que isso não ocorra?
Isso nunca me passou pela cabeça… Eu riria de uma pessoa bem-sucedida que se preocupasse com isso. Acho que essa preocupação é própria de pessoas narcisistas. E eu desprezo os narcisistas… Um conselho maroto, de bufão: “Esforce-se para aparecer na “Caras”. Com seu rosto sorridente lá, você não será esquecido…
4) Que ações e atitudes você tomou em sua vida e que, na sua opinião, foram determinantes para o sucesso em sua carreira?
Uma das minhas características que em nada ajudam o sucesso foi a “rebelião”. Fui um rebelde na religião, um rebelde na psicanálise, um rebelde na esquerda, um rebelde na educação. “Em cada chegada, eu sou uma partida”, dizia Nietzsche. E Eliot: “Numa terra de fugitivos, aquele que anda na direção contrária parece estar fugindo…”. Acho que aqueles que gostam de mim têm esse traço comum: andam na direção contrária.
5) Já houve momentos em que você pensou em desistir? Em que pensou que nada daria certo? Se sim, o que você fez para superá-los e seguir em frente?
Sim. Cheguei a me candidatar a vendedor da “Enciclopédia Britânica” de casa em casa… Mas, repentinamente, o vento virou e encheu as minhas velas… É preciso estar atento à direção do vento…
6) Qual a lição mais importante que você teria para quem deseja afinar-se para o sucesso?
Não queira afinar-se para o sucesso. Não faça do sucesso o seu deus. Seja fiel a você mesmo. Se vier o tal de “sucesso”, melhor para você. Ou pior para você, nunca se sabe… Van Gogh foi um fracasso, nunca vendeu um quadro. Ele poderia ter se “afinado” para o sucesso -pintando quadros mais bonitinhos…
* Rubem Alves é educador, escritor, psicanalista e professor emérito da Unicamp – [email protected].
**Publicado originalmente no site do Aprendiz.