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Desafios e oportunidades esperam o Irã de Rouhani

Hassan Rouhani. Foto: Divulgação/ Internet
Hassan Rouhani. Foto: Divulgação/Internet

Blacksburg, Estados Unidos, 24/7/2013 – A equipe de transição do presidente eleito do Irã, Hassan Rouhani, se dedicou, na semana passada, a acalmar as expectativas sobre uma rápida recuperação econômica, assinalando que a situação é muito pior do que se pensava. Ao mesmo tempo o governo de Mahmoud Ahmadinejad, que está deixando o governo, pintava um quadro otimista do futuro ao líder supremo iraniano, Ali Khamenei.

Deixando de lado a política, é difícil imaginar maiores dificuldades além das que Rouhani enfrenta para recuperar a economia, especialmente se não forem aliviadas as sanções internacionais. Em 2008, o governo de Ahmadinejad não divulgou informação sobre a renda nacional no balanço geral do Banco Central, deixando nas sombras o indicador mais importante: a taxa de crescimento econômico. Os informes sobre a inflação e o desemprego ficaram mais regulares, mas perderam credibilidade porque ficaram mais confusos e começaram a centrar-se apenas nos aspectos positivos.

Na semana passada, o Banco Central anunciou uma taxa de inflação de 35,9% para o mês do calendário iraniano que terminou em 21 de junho, mas se tratava da acumulada dos últimos dois anos. Na realidade, o índice de preços ao consumidor subiu 50% nos últimos 12 meses. Informes governamentais indicam que o desemprego se mantém firme, entre 11% e 12%. Isto passa a imagem de uma situação trabalhista segura, embora dados oficiais, na realidade, mostrem o contrário. Os últimos dois censos no Irã, em 2006 e 2011, revelam aumento da taxa de desemprego entre as pessoas economicamente ativas entre 20 e 54 anos, passando de 11,5% para 15,4%. Por razões óbvias, estes números não integraram o informe do governo entregue a Khamenei.

Talvez, a maior surpresa para a equipe de transição tenha sido o orçamento nacional que herdará em duas semanas. O alto conselheiro de Rouhani e chefe da equipe, Akbar Torkan, informou não ter identificado fontes confiáveis de renda para cobrir 38% do gasto público. Isto representa o maior desafio imediato do governo que em breve assumirá a administração do país: controlar a inflação quando as finanças públicas estão em aperto. Contudo, embora herdando uma economia em profunda crise, há algumas coisas pelas quais Rouhani pode agradecer ao seu antecessor.

A primeira é a reforma do sistema de subsídios. Há três anos, o Irã era o país com o uso menos eficiente da energia, já que tinha os menores preços do mundo. Cerca de quatro milhões de barris de petróleo e o equivalente em gás eram distribuídos anualmente entre os consumidores locais (o dobro do exportado) graças a altos subsídios. Em janeiro de 2011, Ahmadinejad embarcou em uma firme reforma para reduzir drasticamente os subsídios para a energia e usar esse dinheiro em programas sociais de transferência de dinheiro. Apesar de os preços se manterem congelados desde 2011, a reforma reduziu o consumo de energia.

Porém, o mais importante é que as transferências de dinheiro, que beneficiam 97% da população, são um suplemento fundamental para sustentar a fraca rede de segurança social do país e para aliviar o impacto que as sanções internacionais tem nos pobres. Rouhani poderia melhorar o programa selecionando melhor os beneficiários. Por outro lado, em setembro, a moeda iraniana, o rial, colapsou depois que foram endurecidas as sanções internacionais contra as exportações de petróleo por Teerã. Há apenas duas semanas, o rial foi desvalorizado oficialmente em mais de 100%, o que permitirá a Rouhani iniciar seu governo com uma taxa de câmbio mais realista.

Antes da desvalorização, as moedas estrangeiras, mais baratas, afetavam a produção iraniana, o que, por sua vez, impedia um crescimento da taxa de emprego. Os produtores iranianos agora estão em melhor posição para competir, mas seu limitado acesso à economia global, devido às sanções, é um grande obstáculo. Portanto, conseguir que as potências ocidentais aliviem as sanções, como prometeu Rouhani em sua campanha, será essencial para a recuperação econômica.

No ano passado, o governo de Ahmadinejad permitiu que os bancos cobrassem taxas de juros acima dos limites fixados antes pela própria administração, entre 12% e 14%. Além disso, as baixas taxas de depósitos e a inflação eram as principais razões pelas quais os depositantes apelavam para moedas estrangeiras, ouro e imóveis para proteger suas economias. Com taxas de juros maiores os bancos iranianos poderão contar com mais dinheiro e, dessa forma, proporcionar mais crédito ao setor empresarial.

Rouhani prometeu um governo de “experiência e esperança”, um governo que tenha “chaves para abrir portas”. Há razões para esperar melhoras na economia iraniana durante os primeiros cem dias da Presidência, mas, depois, não há nada seguro. A posição moderada de Rouhani já trouxe benefícios em termos de menores expectativas de inflação, o que estabilizou o mercado de divisas, permitindo o gradual retorno das economias privadas aos bancos e, portanto, aliviando a crise de liquidez que imobilizou o setor de negócios iraniano.

A previsão é que a equipe econômica de Rouhani, que será anunciada na próxima semana ou na seguinte, estará formada por experientes economistas, que fortalecerão a confiança entre os diversos atores do país. No entanto, para devolver a esperança, Rouhani deve fazer mais: tem de criar empregos. Só poderá haver mais postos de trabalho se os produtores iranianos puderem exportar ou investir em bens que substituam importações.

Porém, sua capacidade de fazer isto está seriamente limitada, quando não totalmente anulada, pelas sanções internacionais, que lhe fecham as portas da economia mundial. A chave para abrir essa porta não está, lamentavelmente, nas mãos de Rouhani, mas nas mãos das potências ocidentais e nas do líder supremo iraniano Khamenei, que podem decidir se haverá um acordo sobre o programa nuclear iraniano.

Rouhani tem uma pequena janela de menos de dois anos para demonstrar ao seu povo que os moderados, dispostos a dialogar com o mundo, podem conduzir melhor o barco do que os radicais islâmicos. Tem a oportunidade histórica de dar uma lição que seria importante não apenas para o Irã, mas para todo o Oriente Médio. Pedir sanções mais severas contra Teerã, como fazem alguns no Ocidente, colocaria em risco esta oportunidade única. Envolverde/IPS

* Djavad Salehi-Isfahani é professor de economia na Universidade Virginia Tech e pesquisador não residente da Brookings Institution.