Arquivo

Forte pressão contra Guantânamo

 

Prisão na baía de Guantânamo, em Cuba.Foto: Shane T. McCoy, U.S. Navy/domínio público
Prisão na baía de Guantânamo, em Cuba.Foto: Shane T. McCoy, U.S. Navy/domínio público

 

Washington, Estados Unidos, 29/7/2013 – Parece ganhar força a pressão nos Estados Unidos para fechar a prisão na baía de Guantânamo, em Cuba, onde 166 presos nunca receberam acusação formal e 86 deles já foram inocentados e esperam a liberdade. No dia 24, um subcomitê de assuntos judiciais do Senado fez uma audiência centrada particularmente nos benefícios do fechamento da prisão, onde estão suspeitos de terrorismo.

Foi a primeira instância dessas características em quatro anos, e acontece meses depois de o presidente Barack Obama renovar sua intenção de fechar essa prisão, tal como prometeu ao assumir, em 2008. Ativistas consideram que estes são sinais de um iminente fechamento. “Parece que se chega a um ponto de inflexão sobre o assunto”, disse à IPS a presidente da organização Human Rights First, Elisa Massimino, após depor na audiência.

Massimino pontuou que, além da renovada promessa de Obama, a audiência aconteceu no contexto de uma nova polêmica sobre a prisão originada pelas revelações dos custos para mantê-la e por denúncias de alimentação forçada de presos em greve de fome. A ativista afirmou que destacados congressistas agora apoiam o fechamento de Guantânamo, entre eles o senador John McCain, ex-candidato à Presidência pelo opositor Partido Republicano.

Na sessão do subcomitê foram ouvidos diversos testemunhos, a maioria a favor do fechamento, e só alguns destacaram a utilidade da instalação na “guerra contra o terrorismo”. “Se Guantânamo for fechada, surge a pergunta, para onde serão enviados estes terroristas”, questionou o senador Ted Cruz. “O terrorismo radical continua sendo uma ameaça real”, afirmou.

Também depôs Frank Gaffney, colunista do jornal The Washington Post e analista do Centro para Políticas de Segurança, conhecido por suas opiniões islamofóbicas. Ele disse que os que pedem o fechamento da prisão se esquecem do motivo de ter sido criada. “Estamos em guerra porque outros nos atacaram”, afirmou.

Para Gaffney, Guantânamo existe porque “não há outra opção melhor” e que a possibilidade de enviar alguns presos, para outros países ou para prisões dos Estados Unidos, é muito perigosa. Os que forem libertados poderiam “voltar ao campo de batalha”, alertou, destacando que os enviados para prisões dos Estados Unidos poderiam fazer proselitismo ou se beneficiar de “juízes piedosos” para ficarem livres.

O especialista também afirmou que fechar Guantânamo é um sinal de debilidade por parte de Washington, que poderia estimular ações antinorte-americanas mais agressivas no mundo. Contudo, muitos questionam suas afirmações.

“Também podemos nos proteger tendo os presos nos Estados Unidos”, opinou Adam Smith, membro da Câmara de Representantes, acrescentando que há centenas de condenados por terrorismo em prisões dos Estados Unidos. “A ideia de aumentar a ameaça por ter cerca de 484 terroristas na prisão, em lugar de 400, é simplesmente ridícula”, afirmou.

Inclusive, alguns disseram que a existência da prisão na verdade torna os Estados Unidos mais inseguros. Paul Eaton, major-general da reserva do exército norte-americano, apontou que Guantânamo afeta a reputação internacional de Washington. Esta percepção foi aprovada por outros 26 generais, que disseram em uma carta que a prisão “é um símbolo de tortura e injustiça e não beneficia uma nação que é um baluarte da liberdade no mundo”.

O militar afirmou que, na verdade, a prisão dá mais motivos aos radicais islâmicos, a ponto de qualificar o centro de “instrução criadora de terroristas”. Guantânamo “torna mais fácil encher as fileiras da Al Qaeda e de outras organizações que atacam os Estados Unidos”, afirmou. Nesse sentido, a senadora Dianne Feinstein, presidente do Comitê de Inteligência da Câmara, disse que as práticas de detenção em Guantânamo convertem o sistema legal norte-americano em “um mito”.

Muitos também criticaram os altos custos da prisão, que são de cerca de US$ 2,7 milhões ao ano, para cada preso. Isto é muito mais do que os US$ 78 mil que o Estado investe para manter os reclusos na prisão de máxima segurança ADX, no Estado do Colorado. Ali está Zacarias Moussaoui, único participante dos atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York e Washington que foi julgado por tribunal civil. Em Florence ADX também está Ramzi Yousef, responsável pelo atentado contra o World Trade Center em 1993, e Ted Kaczynski, conhecido como “Unabomber”.

Massimino enfatizou à IPS que lamenta que nenhum representante do governo de Obama tenha participado da audiência do subcomitê. Embora reconhecendo que há um crescente interesse popular sobre o fechamento da prisão (a audiência foi transferida para uma sala maior devido à inesperada presença de público), a ativista observou que ainda falta mais vontade política. “Dou muito crédito ao senador Richard Durbin, presidente do subcomitê. Este tema não gera muitas contribuições de campanha nem atrai os jornalistas, mas ele fez um grande trabalho ao mantê-lo sobre a mesa”, destacou. Envolverde/IPS