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Turismo para resgatar a Tunísia

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A perda do Egito pode ser um ganho para a Tunísia, enquanto os turistas começam a voltar. Foto: Louise Sherwood/IPS

Túnis, Tunísia, 13/9/2013 – A revolução, que no começo de 2011 derrubou o ditador Zine El Abidine Ben Ali na Tunísia, deu maior liberdade aos seus cidadãos, mas também espantou muitos turistas. Agora, apesar da crise política, os visitantes estão voltando. As autoridades e os empresários estão determinados a proteger o setor, que desempenha um papel vital na economia do país.

O ministro do Turismo, Jamel Gamra, é otimista. “O turismo é muito importante para a economia tunisiana”, declarou à IPS. “O setor emprega diretamente cerca de 400 mil pessoas, e até 20% da população (quase dois milhões de pessoas) vivem, direta ou indiretamente, desta atividade”. Segundo Gamra, “o setor tem grande potencial, e queremos chegar a dez milhões de turistas até 2016, com crescimento de um milhão de visitantes por ano. Agora, a Tunísia tem mais liberdade e democracia, o que é muito importante para o crescimento econômico e para a prosperidade, e tem um efeito positivo sobre a indústria turística”.

A companhia Thomson, uma das principais operadoras de turismo da Grã-Bretanha, que também administra a First Choice, exibe um otimismo semelhante. “Aumentamos a capacidade do centro de férias para o verão 2013”, disse um porta-voz à IPS. “Agregamos o novo e exclusivo hotel Thomson Couples Sousse, o centro de férias de El Ksar e o hotel Thalasso Sousse ao nosso programa”, explicou.

Hichem Borgi, gerente comercial do El Ksar e do Thalasso Sousse, um hotel de quatro estrelas, também confia na volta dos turistas, mas se preocupa com a instabilidade política. “Provavelmente este ano voltaremos a alcançar a quantidade de visitantes que havia antes da revolução. Porém, a situação é frágil e quando ocorrem incidentes, como o ataque contra a embaixada dos Estados Unidos no ano passado e os assassinatos políticos este ano, as reservas são canceladas”, contou.

Atef Bouhlel operava spas em dois hotéis de Sousse, mas abandonou o setor turístico em 2012 e agora é sócio de uma empresa de venda de gesso. “Quando começou a revolução, a ocupação hoteleira caiu drasticamente, de 900 para 300 ou 400 hóspedes em um hotel, e eu já não podia pagar o aluguel”, explicou. Bouhlel ainda vê o turismo como uma atividade vital para a economia do país. Segundo ele, “a Líbia ganha muito dinheiro com o petróleo, mas nós não o temos. Nossa economia depende do turismo. Inclusive os que trabalham na agricultura fornecem frutas e verduras para os hotéis. Ônibus e táxis transportam os turistas em passeios, e entre aeroporto e hotel. Os estudantes passam o verão trabalhando como garçons. O turismo ajuda muitos setores”, resaltou.

Dados do Escritório Nacional de Turismo confirmam que o setor dá sinais de recuperação. Em 2010, a indústria faturava US$ 2,1 bilhões, mas em 2011, ano da revolução, o número de visitantes caiu 30% em relação ao ano anterior, passando de quase sete milhões para menos de cinco milhões. Os números mostram que, até meados de agosto deste ano, haviam chegado cerca de quatro milhões de turistas, gerando quase US$ 1,1 bilhão. Nesta temporada a presença policial é cada vez maior. A Tunísia só precisa olhar o Egito para ver o que pode acontecer com seu turismo se a situação política se tornar violenta.

“Os operadores de turismo cancelaram os voos para o Egito até outubro. Aos turistas que fizeram reservas foi oferecido reembolso ou férias alternativas em outro destino, como a Tunísia”, explicou Snene Mohamed Anas, da Tunisie Voyages, uma agência que organiza excursões para a empresa internacional Tui. Manter a salvo os turistas é uma prioridade. “Estamos em contato com as autoridades, e se há protestos imediatamente informamos as pessoas”, contou à IPS. “Também em nossas excursões ao Saara enviamos um automóvel à frente do ônibus para garantir que não ocorram problemas na estrada”, acrescentou.

Estas estratégias parecem estar funcionando para dissipar os temores dos visitantes. Os britânicos Clare e Andy Kellaway foram a Sousse com seu filho Cameron. “Não ouvimos nada sobre nenhum problema político. Viemos aqui em 2005, 2008 e agora. Não vimos nenhuma mudança. Porém, adiaremos nossa viagem ao Egito”, afirmaram. Estão sendo tomadas medidas para incentivar os turistas a circularem fora dos hotéis. “As autoridades do setor não estão fazendo o suficiente”, afirmou Ghazi Ben Rejeb, garçom em um dos cafés do popular centro de férias Puerto de El Kantaoui. “Precisamos melhorar as excursões e as atividades disponíveis”, pontuou.

Tais demandas não passam despercebidas. “Primeiro devemos reestruturar o setor para desenvolver não só hotéis, mas também cultura, artesanato e empregos. Em segundo lugar, agora nos veem como um destino de praias, mas queremos diversificar as opções e incluir locais arqueológicos e esportes”, apontou Gamra. Em terceiro, “queremos estar mais voltados à internet e fazer melhor uso das novas tecnologias. Atualmente dependemos muito dos operadores turísticos, mas queremos começar a vender nosso produto diretamente aos clientes online. Também queremos atrair mais turistas dos mercados asiático, africano e do Golfo”, enfatizou.

A Tunísia continua lutando para superar os obstáculos de sua transição política, mas a indústria turística, um de seus pilares econômicos, parece se encaminhar para um futuro ensolarado. Envolverde/IPS