Martin Khor, diretor-executivo do South Center, em Genebra –
Genebra, Suíça, janeiro/2012 – A China ainda é um país em desenvolvimento ou se transformou em uma nação desenvolvida? Esta pergunta ganhou atualidade depois que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse ao presidente Hu Jintao que a China deve assumir maiores responsabilidades agora que se converteu em uma potência econômica.
Obama quis dizer que a China deveria ser tratada como os Estados Unidos ou a Europa quanto às suas obrigações internacionais, como as adotadas para reduzir as emissões de gases-estufa, diminuir suas tarifas alfandegárias, renunciar a medidas protecionistas, proporcionar ajuda aos países pobres e deixar sua moeda flutuar livremente.
Devido às pressões de Estados Unidos, Japão e Europa para que a China renuncie ao seu status atual e assuma as obrigações de uma nação desenvolvida, importantes negociações multilaterais estão em um beco sem saída. Eles também pretendem que outros países, como Brasil e Índia, façam o mesmo.
Mas, a China é um país desenvolvido?
A resposta depende dos critérios que forem usados. Em termos absolutos a China é uma grande economia. Seu produto interno bruto (PIB) é o segundo no mundo, superado apenas pelos Estados Unidos. Também é o maior emissor de gases-estufa, à frente inclusive dos Estados Unidos. Contudo, isto é principalmente porque, com 1,3 bilhão de habitantes, é o país mais populoso do planeta.
Entretanto, apesar da imagem poderosa com que se apresenta nos meios de comunicação, a China é um comum país em desenvolvimento se forem examinados seus indicadores per capita.
O status econômico dos países é definido pelas Nações Unidas, pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial, e o critério principal que utilizam é a renda per capita.
O FMI classifica a China como país em desenvolvimento com PIB per capita em 2010 de US$ 4.382 e o coloca em 91º lugar entre 184 nações do mundo. Seis países africanos (Guiné Equatorial, Gabão, Botsuana, Maurício, África do Sul e Namíbia) têm PIB per capita superiores ao da China. O PIB per capita chinês é menos de décimo do norte-americano, que chega a US$ 46.860. Luxemburgo encabeça a lista, com US$ 108.952.
Banco Mundial classifica os países em quatro grupos: 1) os de baixa renda, com menos de US$ 1.005 dólares per capita; 2) os de renda média-baixa, entre US$ 1.006 e US$ 3.975; 3) os de renda média-alta, entre US$ 3.976 e US$ 12.275, e 4) os de renda alta, com mais de US$ 12.275.
Segundo o Banco Mundial, o PIB per capita da China em 2006 era de US$ 2.050, em 2007 de US$ 2.490, em 2008 de US$ 3.050, em 2009 de US$ 3.650 e em 2010 de US$ 4.260.
Depois, a China esteve nos últimos anos no nível de renda média-baixa até que, em 2010, passou à categoria de renda média-alta.
Os economistas também usam a medida do “poder aquisitivo” per capita (GPP), que compara o diferente custo de vida nos países. Os habitantes de um país com custo de vida relativamente baixo podem desfrutar de um nível maior de vida do que o quantificado pelo produto nacional bruto (PNB) desse país.
Segundo esse critério, em 2010 a China estava ainda mais abaixo na lista mundial, ocupando o posto 95 com US$ 7.544 de poder aquisitivo, abaixo de Equador e Bósnia Herzegovina.
O Programa para o Desenvolvimento da ONU tem um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) que mede a qualidade de vida em termos de renda, educação, expectativa de vida, etc. O IDH 2011 mostra a China na 101ª colocação entre 187 países, com índice de 0,687.
E o que acontece na questão ambiental? Embora seja o principal emissor de gases-estufa, o nível de emissões per capita da China, de 5,5 toneladas de CO², coloca esse país em 84º lugar no mundo, enquanto os norte-americanos emitem 23,4 toneladas de CO².
Assim, sendo 91º no mundo em PIB per capita, 101º em desenvolvimento humano e 84º em emissões de gás-estufa per capita, a China é um país em desenvolvimento de nível médio ou mesmo médio-baixo, atrás de todos os países desenvolvidos e também de muitas nações em desenvolvimento.
A China compartilha outras características dos países em desenvolvimento. Mais de 600 milhões de seus 1,3 bilhão de habitantes vivem em zonas rurais e, em 2008, havia um amplo desequilíbrio, com uma renda por família urbana 3,3 vezes maior do que as das famílias rurais.
Ao mesmo tempo, é inegável que há pontos altos na economia chinesa: seu grande PIB em termos absolutos, sua alta taxa de crescimento e suas reservas de divisas acima dos US$ 3 trilhões.
No entanto, enquanto a China se converte em uma grande potência econômica, ainda é um país em desenvolvimento de nível médio, com os problemas socioeconômicos que tem a maioria das nações em desenvolvimento.
E se a China é pressionada para assumir os deveres de um país desenvolvido e renunciar ao seu verdadeiro status de nação em desenvolvimento, o mesmo será exigido de muitos outros países que estão inclusive à frente da China.
Assim, a luta da China para manter seu status de país em desenvolvimento é de interesse de outras nações em desenvolvimentos, porque elas poderão ser as próximas se os chineses perderem essa luta. Envolverde/IPS
* Martin Khor é diretor-executivo do South Center, em Genebra.