Ambiente

Albatrozes em Cabo Frio (RJ): 400 aves são registradas por observador de bordo do Projeto Albatroz

Um grupo de 400 albatrozes na costa da cidade de Cabo Frio (RJ), na Região dos Lagos, onde o Projeto Albatroz, patrocinado pela Petrobras, está construindo seu primeiro centro de visitação. O pesquisador Gabriel Canani Sampaio, doutorando do Laboratório de Aves Aquáticas e Tartarugas Marinhas da FURG, e colaborador do Projeto Albatroz embarcou com os pescadores do barco ‘Maramores’ para realizar atividades de monitoramento em alto-mar.

O objetivo da viagem era entender a dinâmica da pesca industrial de pequena escala da região, cuja captura-alvo são espécies de peixes pelágicos como o dourado, a dinâmica do uso do petrecho de pesca conhecido como “linha de mão”, quantificar as aves seguidoras e identificar qual o potencial de interação dessas aves com a pescaria, para o direcionamento de pesquisas para conservação marinha.

O resultado da saída de campo foi positivo: a produção foi de quatro toneladas de peixes, mais de 400 aves avistadas e documentadas, estreitamento de laços com os pescadores e, apesar de evidências de interações com a pescaria, nenhuma ave foi fisgada.

Os grupos de aves registradas por Gabriel Canani Sampaio foram bastante diversificados: albatrozes-de-sobrancelha-negra (Thalassarche melanophris), albatrozes-de-nariz-amarelo (Thalassarche chlororhynchos) e também outras espécies menores de pardelas como o bobo-grande-de-sobre-branco (Ardenna gravis). Esta última espécie era especialmente encontrada próxima aos barcos, tentando se alimentar das sardinhas usadas como isca viva, na hora do recolhimento da linha com anzol. “Existe este potencial de interação porque essas aves são oportunistas, são corajosas e tentam se alimentar de iscas e descartes da pesca”, explica o pesquisador. “É para minimizar os riscos dessas interações que existem as medidas mitigadoras da captura incidental”.

Ele destaca que é importante monitorar essas interações com os animais vivos, porque geralmente na pesca de espinhel eles morrem afogados e já são recolhidos mortos. E a interação com a ave viva, comum em artes de pesca com vara ou linha de mão, por exemplo, torna necessária a capacitação de pescadores para que conheçam técnicas de manejo que previnam homens e animais de se ferirem nesse encontro.

Pesquisas e tecnologia

De acordo com o pesquisador, que já realizou outros embarques na Região Sul e Sudeste, trabalhar a bordo desses barcos pesqueiros é essencial para identificar desafios do trabalho em alto-mar e buscar soluções eficazes para a conservação.

Nos embarques, são colhidos dados como produção pesqueira, abundância e diversidade de aves ao longo do tempo e potencial de interação entre aves e pesca. “Quando a gente viaja a bordo dos cruzeiros de pesca, entendemos como a pescaria funciona, onde ela ocorre e o potencial de captura das aves na região”, explica. “Dessa forma, nós podemos traçar estratégias de avaliação de risco, ou de mitigação, porque podemos entender que tal área é mais ou menos importante para monitorar a interação com as aves”.

Ele destaca que fazer este trabalho na região de Cabo Frio (RJ) é ainda mais importante devido à característica oceanográfica única do local: a ressurgência. “Por conta da formação geológica do oceano, o vento forte presente na região arrasta a água quente da superfície, que é menos densa, permitindo que a água fria e rica em nutrientes aflore das maiores profundidades”, detalha. “É como se adubasse a água da região com nutrientes, fazendo com que haja uma alta produtividade, tornando-se bastante atrativa para peixes, aves e outros animais marinhos”.

Parceria com pescadores

Característica marcante do Projeto Albatroz desde sua criação, em 1990, a parceria com os pescadores permite que se estabeleça uma relação de troca de informações, experiência e também confiança para a proteção da biodiversidade marinha. O embarque no Maramores, comandado pelo mestre Ebinho, foi o primeiro realizado neste tipo de pescaria, marcando o início de um trabalho que só tem a crescer.

“Existe a ideia de que o observador pode atrapalhar a pescaria e alterar a dinâmica social dentro dos barcos. Quando conseguimos embarcar e provar que a gente quer aprender, trocar e fazer parte daquele processo, nos aproximamos da comunidade pesqueira como um todo e nos permite somar, criando práticas e dispositivos que são bons para todos”.

Projeto Albatroz na Região dos Lagos

O Projeto Albatroz nasceu em Santos (SP) e desde 1990 trabalha pela conservação das espécies de albatrozes e petréis que se alimentam em águas brasileiras. O projeto é patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental desde 2006 e, mantém uma base avançada de pesquisa na Universidade Veiga de Almeida (UVA), no campus de Cabo Frio (RJ), desde 2014, que nos possibilitou ampliar as pesquisas no Porto de Cabo Frio, rota de diversas embarcações de pesca de espinhel com a qual albatrozes e petréis interagem e pela qual são capturados.

Sobre o Projeto Albatroz

Reduzir a captura incidental de albatrozes e petréis é a principal missão do Projeto Albatroz, que tem o patrocínio da Petrobras. O Projeto é coordenado pelo Instituto Albatroz – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que trabalha em parceria com o Poder Público, empresas pesqueiras e pescadores.

A principal linha de ação do Projeto, nascido no ano de 1990, em Santos (SP), é o desenvolvimento de pesquisas para subsidiar Políticas Públicas e a promoção de ações de Educação Ambiental junto aos pescadores, jovens e às escolas. O resultado deste esforço tem se traduzido na formulação de medidas que protegem as aves, na sensibilização da sociedade quanto à importância da existência dos albatrozes e petréis para o equilíbrio do meio ambiente marinho e no apoio dos pescadores ao uso de medidas para reduzir a captura dessas aves no Brasil.

Atualmente, o Projeto Albatroz mantém bases de atuação em seis estados brasileiros.

Mais informações: www.projetoalbatroz.org.br 

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