O Uruguai vive um boom de investimentos para o desenvolvimento de energia eólica.
Montevidéu, Uruguai, 27 de agosto de 2012 (Terramérica).- O Uruguai necessita reforçar e ampliar suas linhas de transmissão elétrica para absorver os 1,2 mil megawatts (MW) de energia eólica que planeja gerar até 2015. O objetivo faz parte de outro maior, e para o mesmo ano: que metade da matriz energética nacional seja composta por fontes renováveis. Multiplicam-se os investimentos em geração a partir do vento. E a Administração Nacional de Usinas e Transmissões Elétricas (UTE) se vê diante da necessidade de melhorar a infraestrutura de sua rede de transmissão.
No momento, o vento produz apenas 1% da eletricidade do país, com três parques eólicos que geram 43 MW no sudeste: um público, no departamento de Maldonado, e dois particulares, no departamento de Rocha. Quando se chegar aos 1,2 mil MW, estes representarão 29% da oferta de eletricidade, explicou ao Terramérica o presidente da UTE, Gonzalo Casaravilla. Já há contratos para gerar 930 MW, “que serão instalados nos próximos anos, dos quais assinamos seis e estamos para assinar outros 12”, acrescentou.
Esses planos incluem 21 novos parques em 11 departamentos no noroeste, oeste, centro, sul e sudeste do país. Segundo Casaravilla, as construções começarão no final do ano e se prolongarão por 12 a 18 meses. Além disso, a UTE planeja gerar outros 180 MW em convênio com a brasileira Eletrobras. Todo o território do Uruguai tem bom potencial eólico, mas a densidade de sua rede elétrica não é homogênea.
“A rede foi projetada há muitos anos para levar eletricidade onde estão as pessoas e não para trazer eletricidade desses lugares”, explicou ao Terramérica o doutor em física e diretor Nacional de Energia do Ministério da Indústria, Energia e Mineração (Miem), Ramón Méndez. O Uruguai é o país de maior eletrificação da América Latina, com 98,8% de cobertura. Contudo, com pouco menos de 3,3 milhões de habitantes e quase metade deles concentrada na capital, tem extensas áreas pouco povoadas. Ali “as redes elétricas são projetadas apenas para atender as necessidades desses poucos clientes”, destacou.
No entanto, quando são instalados grandes parques eólicos, “são necessárias linhas mais longas para conectar-se ao primeiro ponto de modo suficientemente potente para descarregar toda essa energia. Portanto, um bom projeto é o que está em um lugar onde ao mesmo tempo há bons ventos e boa rede elétrica”, indicou Méndez. Esse foi o desafio. “No começo era fácil porque havia lugar em todos os lados, mas na medida em que foi se tornando mais densa a geração distribuída, a escolha dos lugares adequados foi mais complicada”, descreveu Casaravilla.
Dois dos 18 projetos eólicos licitados e aprovados se mostraram difíceis de serem conectados às redes existentes nos lugares previstos dos departamentos de Tacuarembó e Florida. Porém, foram instalados em locais com melhor conexão, acrescentou Casaravilla. “Conseguimos colocar todos os projetos que se apresentaram para o processo de licitação com a UTE. Na verdade, ficaram pouquíssimos lugares com capacidades residuais”, ressaltou. Por essa razão a UTE planeja desenvolver as redes necessárias para instalar novos projetos nos próximos dez anos.
“Temos prevista a ampliação da rede do norte, que permitirá continuar incorporando geração distribuída de acordo com a demanda”, pontuou Casaravilla. Para os próximos cinco anos o investimento em linhas e subestações será de US$ 1 bilhão. No momento, seis empresas querem construir oito parques eólicos em Pueblo Peralta, no departamento de Tacuarembó, no norte. Trata-se de um investimento de US$ 20 milhões que permitirá gerar 300 MW em uma área com “excelente potencial de ventos”, declarou ao Terramérica o diretor de uma dessas empresas, a PTZ Bioenergia Uruguai, Ricardo Pretz.
Esses ventos “permitem instalar aerogeradores com pás muito maiores para produzir mais energia. Isto resulta em projetos muito mais rentáveis, possibilitando à UTE comprar a energia elétrica a preços menores”, afirmou Pretz, cuja empresa faz parte do grupo brasileiro PTZ Bioenergy. No entanto, na região “não há possibilidades de conexão à rede, já que a subestação mais próxima está saturada”, acrescentou. Os empresários querem manter o local e para isso se reuniram com Casaravilla e com o ministro da Energia, Roberto Kreimerman.
Casaravilla disse que “hoje não se pode dar uma resposta”, já que é preciso “ver como evoluirão os contratos que já estão assinados”. Depois de 2015, será preciso continuar instalando parques “e haverá a necessidade de analisar qual a melhor forma de fazer isso”, acrescentou. Méndez não acredita que as limitações da rede afetem o interesse privado na energia eólica, que qualificou de “enorme”. “Somente neste período de governo (iniciado em 2010), estamos superando os US$ 6,5 bilhões em investimentos”. Em cada licitação são apresentados cerca de 20 projetos por intermédio de várias empresas multinacionais.
“São licitados contratos de 20 anos e em razão dessa disputa do mercado temos obtido preços muito bons, que estão 50% abaixo da média na Europa”, acrescentou Méndez. Isto determina custos de “aproximadamente US$ 60 o MW/hora, sem nenhum tipo de subsídio, que é o tema central”, explicou. Segundo suas estimativas, estes investimentos permitirão que os custos elétricos do país seja reduzidos em 30% até 2015. A atual política energética uruguaia foi adotada em 2008 para os próximos 25 anos, e em 2010 foi referendada por todos os partidos políticos.
“As transformações começaram no setor elétrico com as primeiras incorporações de energia eólica (em 2008 havia apenas um moinho eólico) e com a forte incorporação da biomassa”, enfatizou Méndez. “Em pouco tempo percorremos um caminho muito significativo, porque fechamos o ano passado com 46% de renováveis no total de nossa matriz energética”, ressaltou. A hidreletricidade fornece 20%, a geração com biomassa de resíduos 12%, a lenha 12%, e os 2% restantes são fornecidos pelos biocombustíveis e pelas fontes solar e eólica.
Atingir 50% de fontes renováveis em 2015 é uma meta “extremamente ambiciosa”, segundo Méndez, pois no momento “as renováveis não superam os 12% da matriz mundial”. Este desenvolvimento é estratégico para um país que carece de hidrocarbonos e depende de importações de petróleo para se abastecer de combustíveis. Entretanto, também neste campo multiplicam-se as empresas internacionais que exploram em busca de petróleo e gás em diferentes formações geológicas. (Envolverde/Terramérica)
* A autora é correspondente da IPS.
Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.
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