Os páramos do Equador, os mais extensos da América do Sul, estão desaparecendo.
Quito, Equador, 3 de junho de 2013 (Terramérica).- Os páramos do Equador, fontes cruciais de água, dão sinais de fragilidade extrema para sustentar a sobrevivência de suas espécies e a conservação do precioso recurso hídrico. O páramo é um ecossistema de alta montanha (entre 3.200 e 4.200 de altitude) e um dos mais vulneráveis do Equador. A ameaça provém das alterações climáticas, do desmatamento e das mudanças no uso do solo. O sapo jambato negro (Atelopus ignescens) já desapareceu dos páramos, e teme-se pela sobrevivência de várias espécies de mamíferos.
A ciência descreve o páramo como “uma esponja” orgânico-mineral, que armazena grande quantidade de água doce e a libera de forma contínua, fornecendo recursos hídricos e impedindo grandes variações nos caudais dos rios. Contudo, o páramo tem capacidade limitada para recuperar sua estrutura e biodiversidade originais, explicou ao Terramérica o fundador da organização científica EcoCiência, Patricio Mena. “É intrinsecamente muito frágil, por isso qualquer intervenção, e mesmo chuvas e ventos, causam efeitos notáveis no curto, médio e longo prazos. Portanto, é preciso tratá-lo de uma maneira muito suave”, acrescentou.
Os páramos vão desaparecendo ou simplesmente são absorvidos pela permeabilidade dos solos vulcânicos, conforme foi dito no VII Seminário Ibero-Americano de Jornalismo Científico, realizado nos dias 16 e 17 de maio na cidade de Loja. Uma questão delicada é sua “exploração como zona petrolífera”, disse ao Terramérica nessa reunião o espanhol Seber Ugarte, professor de comunicação da Universidade Abat Oliba CEU e pesquisador convidado da Universidade Técnica Particular de Loja (UTPL).
Por isso é importante “preservar estes ecossistemas em função dos recursos hídricos, bioenergéticos e sua biodiversidade, acima de interesses econômicos e políticos”, pontuou Ugarte. Por sua vez, Mena apontou que o páramo é provedor hídrico de comunidades indígenas e das grandes cidades. Quito “depende quase 100% das águas geradas e armazenadas nos páramos vizinhos”, ressaltou.
Um estudo do Projeto Páramo Andino (PPA) afirma que 18 das 24 províncias equatorianas têm páramos. Os mais importantes são os de Napo, no centro-norte, e os de Azuay e Morona Santiago, no sul. O PPA foi uma iniciativa, concretizada em 2012, do Fundo para o Meio Ambiente Mundial e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Foi aplicado no Equador, Venezuela, Colômbia e Peru, onde foram realizados trabalhos de pesquisa e manejo participativo das comunidades. A Ecociência foi a contraparte equatoriana.
De acordo com o documento Distribuição Espacial, Sistemas Ecológicos e Caracterização Florística dos Páramos no Equador, estes ecossistemas ocupam 1,33 milhões de hectares, cerca de 5% do território nacional. Aproximadamente 40% dos páramos estão protegidos. A maior superfície que goza desse status fica no Parque Nacional Sangay, nas províncias de Morona Santiago, Tungurahua, Chimborazo e Cañar, com 261.062 hectares. Dos 60% restantes, 30% encontram-se sob intervenção e 30% estão degradados.
Porém, Mena, que integrou a equipe do PPA, opinou que “é difícil precisar uma porcentagem” ou calcular um número exato de hectares degradados. Teria que se considerar que “todo o páramo está afetado, porque a mudança climática afeta todo o ecossistema”, afirmou. Contudo, os páramos da cordilheira oriental, por serem mais úmidos e estarem intactos em sua biodiversidade original, têm maior capacidade de responder a alterações ambientais, enquanto os ocidentais estão mais afetados.
Por isso Mena prefere falar de um “mosaico que vai de páramos perfeitamente bem conservados até ecossistemas em profundo estado de degeneração que praticamente se converteram em desertos muito frágeis, como os páramos secos da província de Chimborazo”. Os páramos deste país se caracterizam por uma fauna e flora endêmicas. Há cinco espécies de répteis, 24 de anfíbios e 88 de aves, das quais 24 são únicas do lugar.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censos, há 565.858 hectares cultiváveis nos páramos, 4,85% dos 11,6 milhões de hectares da superfície agropecuária nacional. Por outro lado, “a superfície de páramo entregue em concessão para atividade mineradora diminuiu ostensivamente, de 40,46% em 2008 para 12,53% em 2009”, disse ao Terramérica o engenheiro Fausto López, do Departamento de Ciências Naturais da UTPL. Essas concessões se concentram no sul, nas províncias de Azuay, Loja e Zamora Chinchipe.
López acredita que “o custo ambiental é alto, devido à ameaça ao habitat de espécies de flora e fauna”. As mais suscetíveis são “a anta de montanha, o urso de óculos e o lobo do páramo, além de anfíbios”, afirmou. Como estas espécies exigem amplas áreas para sua sobrevivência, “a estratégia de corredores ou redes de áreas protegidas é uma das melhores para conservá-las”, ressaltou o engenheiro.
Entretanto, o biólogo e pesquisador da UTPL Carlos Iván Espinosa observou que “um problema nos trópicos é a falta de informação histórica sobre espécies e inclusive sobre o comportamento do clima”. E “existem muitas espécies que ainda não foram descritas e que podem estar desaparecendo pelos efeitos da mudança climática”, acrescentou. O grande desafio é conscientizar de que “o páramo está todos os dias em nossa vida de uma maneira indireta, mas fundamental: por meio da água”, ressaltou Mena. Envolverde/Terramérica.
* A autora é correspondente da IPS.
LINKS
Páramos peruanos em desamparo legal – 2010, em espanhol
Cartografando a riqueza dos Andes tropicais – 2009, em espanhol
VII Seminário Ibero-Americano de Jornalismo Científico, em espanhol
Projeto Páramo Andino, em espanhol
Fundo para o Meio Ambiente Mundial, em inglês
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em espanhol e inglês
Universidade Técnica Particular de Loja, em espanhol
Parque Nacional Sangay, em espanhol
Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação apoiado pelo Banco Mundial Latin America and Caribbean, realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.