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“Atendem necessidades humanas, não sua cobiça”

Pauline Green, no lançamento do Ano Internacional das Cooperativas. Foto: Rousbeh Legatis/IPS

Nova York, Estados Unidos, 8/11/2011 – “As cooperativas reduzem os conflitos, criam sociedades mais coesas, melhoram as capacidades e apoiam a evolução de uma sociedade informada e com poder de decisão”, afirma a britânica Pauline Green, ao destacar este tipo de organização socioempresarial que terá em 2012 seu ano especial. Pauline preside a Aliança Cooperativa Internacional (ICA), que será uma das organizações com papel importante nas atividades durante o Ano Internacional das Cooperativas, declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Ao longo de 2012, estão previstas ações para destacar o impacto do cooperativismo nas sociedades dos 193 Estados-membros da ONU, das quais participarão autoridades, meios de comunicação, patrocinadores e organizações internacionais. Fundada em 1895, a ICA é uma organização não governamental que reúne 260 cooperativas de 96 países. A Aliança se dedica a promover e proteger a identidade deste sistema organizativo para garantir sua competição no mercado. Também fomenta mudanças legais e de políticas para favorecer sua expansão.

Em seus 35 anos de destacada presença no movimento cooperativo, Green ocupou a direção-executiva e a secretaria-geral da Cooperatives UJ, de seu país, desde 2000 até outubro de 2009, e foi uma das presidentes da Cooperatives Europe. Também foi vice-presidente da ICA para a Europa antes de presidir a aliança. Green conversou com a IPS sobre suas expectativas para o Ano Internacional das Cooperativas 2012, lançado oficialmente pelas Nações Unidas no dia 31 de outubro, e sobre a relevância desse modelo socioempresarial.

IPS: O tema central definido pela ONU é “Empresas cooperativas constroem um mundo melhor”. Concorda com essa afirmação?

PAULINE GREEN: As cooperativas ensinam boas práticas democráticas, ajudam a construir solidariedade e coesão nas comunidades locais, desenvolvem a capacidade de liderança e apoiam a capacitação e a educação. Concentram-se nas necessidades humanas, não em sua cobiça, por meio de empresas que pertencem aos seus integrantes e que permitem o desenvolvimento de sua própria comunidade. Ao redistribuir os ganhos entre eles, mantêm a riqueza e podem seguir crescendo. Trata-se de tirar as pessoas da pobreza graças ao seu próprio esforço e com dignidade. Dessa forma, as cooperativas reduzem os conflitos, criam sociedades mais coesas, melhoram as capacidades e apoiam a evolução da sociedade informada e com poder de decisão.

IPS: Quem financia o Ano Internacional das Cooperativas 2012?

PG: No momento a ICA assume suas próprias atividades com seus próprios recursos e as contribuições de seus integrantes. Também fizemos um pedido de fundos com esse fim. Algumas vezes solicitamos ajuda para acontecimentos específicos ou publicações. Quanto mais pudermos juntar, maior visibilidade poderemos dar ao nosso modelo empresarial no mundo, promovê-lo junto aos governos e organizações globais para melhorar o acesso das cooperativas ao mercado e mostrar que temos um sistema empresarial diferente do conhecido.

IPS: Por que a ICA se envolveu na organização do Ano Internacional das Cooperativas?

PG: A ICA trabalha para isso há um tempo considerável, provavelmente há cinco anos de forma sustentada. Deve-se muito ao governo da Mongólia, que finalmente levou a resolução à Assembleia Geral da ONU para impulsionar sua declaração oficial. A iniciativa teve apoio de quase o dobro dos Estados-membros que costumam assinar resoluções que designam um ano internacional. Foi muito gratificante e um claro sinal de que em muitos países os governos consideram importante a contribuição das cooperativas para a economia nacional.

IPS: Que papel têm as cooperativas para conseguir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM)?

PG: As cooperativas têm um papel ativo em vários setores da economia, desde agricultura e seguros, passando por comércio, saúde, bancos e energias renováveis, até moradia e educação. Do ponto de vista comercial, contribuem para o sustento e a vida de seus integrantes e seus empregados, que também costumam ser membros. As cooperativas podem ajudar a alcançar os ODM. De fato, diria que, em nossos mais de cem anos de história, fizemos mais do que qualquer outra organização para tirar as pessoas da pobreza.

IPS: O que mais a ONU deveria fazer para promover o trabalho das cooperativas?

PG: Os diferentes órgãos da ONU apoiam o crescimento de vários setores da economia cooperativa, como agricultura, créditos e microfinanças. A Organização Internacional do Trabalho, naturalmente, dedicou vários anos a fomentar uma legislação a favor dos valores e dos princípios do movimento. Seria descortês pedir mais após o lançamento do Ano Internacional das Cooperativas. Porém, no contexto atual, em que muita gente sofre pela crise do setor financeiro mundial, encabeçado pelos investidores, e a consequente recessão, é vital que o movimento cooperativo possa se fortalecer para continuar fazendo seu trabalho e ajudar essas pessoas, cujas vidas podem, e deveriam, ser melhores. É uma meta pela qual as cooperativas de todo o mundo trabalharão duro. Envolverde/IPS