Seguindo a legislação adotada nos EUA e na Europa, a Agência Nacional de Avião Civil (ANAC) passou a aplicar no Brasil, em março de 2010, uma nova regra para o número mínino de comissários de bordo nas aeronaves. A medida levou a Webjet, a Tam e a Avianca a solicitarem (e conseguirem) permissão para voar com três tripulantes em invés de quatro em aviões com até 150 passageiros.
A diminuição da equipe a bordo deverá provocar situações indelicadas, se não perigosas, a partir de agora. A Webjet, por exemplo, passou a atribuir ao passageiro da primeira poltrona a tarefa de abrir uma das portas do avião em caso de emergência. Ele será responsável por ajudar na evacuação. Uma situação que, para o diretor do Sindicato Nacional dos Aeronautas, o comissário da Gol Leonardo Souza, coloca em risco a segurança dos passageiros. “Somos treinados para saber abrir a porta e quando isso não deve ser feito. Mas uma pessoa sem curso vai ter esse discernimento?”, questiona.
Ainda segundo o comissário, é preciso prestar atenção em diversos aspectos além de abrir a porta, que tem um mecanismo diferente em cada aeronave. “Em uma emergência, temos que verificar se há combustível na saída ou destroços, para que ao inflar e liberar a ‘escorregadeira’ não haja objetos cortantes capazes de estourá-la. Se isso ocorresse, os passageiros simplesmente morreriam”, diz.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a ANAC informou que a legislação determina a presença de um comissário para cada 50 passageiros. De acordo com a agência, todas as aeronaves são certificadas pelo fabricante, que realiza testes de evacuação de emergência. Medida que define o número mínimo de tripulantes necessários para a operação daquele tipo de avião.
Para a agência, os pedidos de autorização de voo com três comissários não são apenas para cortes de gastos, mas também para imprevistos. “Caso um comissário adoeça em uma escala intermediária, o voo não pode prosseguir com o numero de comissários inferior ao que a aeronave foi certificada”, informa a assessoria.
Porém, Souza afirma que a segurança dos passageiros não pode ser abandonada e que a ANAC exige treinamentos complexos para que os comissários sejam capazes de garantir a segurança no voo – cerca de 210 horas em escolas credenciadas, em um processo que leva de quatro a seis meses. “As empresas não informam que as passagens mais baratas por causa de corte são também mais perigosas. Será que o passageiro vai saber fazer uma evacuação rápida?”, questiona.
* Publicado originalmente no site da revista Carta Capital.