A comunidade islâmica virtual

Jovens muçulmanos estão adotando a tecnologia para se distanciar de práticas antigas e tradicionais. Foto: Reprodução/Schrank

Muculmanos assimilaram a internet e os smartphones tanto quanto o resto do mundo e, em alguns casos, de forma ainda mais intensa

Um lar sinaliza o fim do período de jejum diário durante o mês sagrado islâmico do ramadã com um tiro de canhão, do mesmo jeito que costuma fazer há muitos anos. Em outro, o sinal sonoro de um iPhone desempenha a mesma tarefa, graças a um aplicativo de smarthphone chamado Ramadan Times. Os muçulmanos assimilaram a internet e os smartphones tanto quanto o resto do mundo e, em alguns casos, de forma ainda mais intensa.

Uma pesquisa recente da Ipsos, uma empresa de pesquisa de mercado, descobriu que países ricos cuja maioria da população é muçulmana gozam de uma das maiores taxas mundiais de penetração de smartphones. Este grupo liderado pelos Emirados Arabes Unidos, com uma taxa de 61%. Mas mesmo em países muçulmanos mais pobres a taxa de uso é alta: 26% no Egito, proporção que não fica muito abaixo dos 26% da Alemanha. Mais de um terço das pessoas do Oriente Médio usam a internet hoje em dia, número um pouco acima da média mundial.

Os muçulmanos usam seus apetrechos do mesmo jeito que o resto do mundo: enviam mensagens de texto, acessam redes sociais, fazem compras online. Mas a adoção – e islamificação – da tecnologia tem um sentido mais profundo, afirma Bart Barendgret da Universidade de Leiden, que estudou a crescente cultura digital do sudeste asiático. “Os jovens muçulmanos estão adotando tecnologias para se distanciarem das práticas mais antigas e tradicionais ao mesmo tempo em que desafiam os modelos ocidentais”.

Muitos aplicativos de smartphones atendem a necessidades religiosas. Também são muito comuns sites feitos especialmente para muçulmanos e os serviços de encontros online estão se multiplicando. Ademais, diversos tipos de fóruns online permitem a discussão livre de questões religiosas.

O papel das mídias sociais na primavera árabe já foi discutido amplamente, mas pode ser que a mudança mais importante seja a forma como a tecnologia está mudando o Islã em si ao criar uma versão online da ummah, a nação islâmica da qual todos os muçulmanos se consideram parte.

* Publicado originalmente no jornal The Economist e retirado do site Opinião e Notícia.