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A confissão do torturador

  • Ana Maria

13/04/2015 13:40

Eduardo Galeano –

Washington, 18/01/2005 – Não vale nada, ou vale pouco, a confissão do torturado. Desde os tempos da Santa Inquisição, sabe-se que não são verossímeis, ou pouco o são, as informações e as confissões arrancadas sob tortura, pela simples razão de que a dor converte qualquer um em grande novelista.

Por outro lado, o sistema de poder confessa sua verdadeira identidade através das torturas que inflige. Nas câmaras de tortura, os que mandam tiram a máscara.Assim acontece no Iraque, por exemplo. Para apoderar-se do Iraque, pesar dos iraquianos e contra os iraquianos, as tropas de ocupação agem com realismo: prejudicam a democracia e a liberdade e praticam a tortura e o crime. Quem quer o fim, quer os meios. Ou, por acaso, alguém acredita que existe outra maneira de roubar um país?O resto é puro teatro: as cerimônias, as declarações, os discursos, as promessas e a transferência da soberania, que passa dos Estados Unidos para os Estados Unidos. Acontece que o poder não diz o que diz. Por exemplo: quando diz “terrorismo no Iraque”, em muitos casos deveria dizer: “resistência nacional contra a ocupação estrangeira”.

**** Quando foram divulgadas as fotos e estourou o escândalo, as cúpulas do poder político e militar cantaram em coro os salmos da autoabsolvição:

São casos isolados;

São casos patológicos;

São algumas maçãs podres;

São perversos que desonram o uniforme.

Como de costume, o assassino jogou a culpa no punhal. Mas, esses soldados ou policiais que enlouquecem o prisioneiro aplicando-lhe choques elétricos, ou afundando sua cabeça na merda, ou partindo o ânus, não passam de instrumentos: funcionários que ganham o salário cumprindo sua tarefa em horário de expediente de escritório. Alguns trabalham sem se esforçar e outros com dedicação, com essas entusiastas senhoritas fotografadas enquanto humilhavam seus torturados iraquianos e os exibiam com troféus de caça. Mas, todos, os apáticos e fervorosos, são burocratas da dor que agem a serviço de uma gigantesca máquina de moer carne humana. Loucos? Perversos? Pode ser, mas o perfil patológico não absolve o poder imperial que necessita da tortura para assegurar e ampliar seus domínios, porque esse poder está muito mais louco e é muito mais perverso do que os instrumentos que utiliza. E nada tem de anormal em um poder cruelmente injusto utilizar métodos cruéis para perpertuar-se.

**** Tampouco nada tem de anormal que esses métodos atrozes não sejam chamados por seu nome. A Europa sabe que onde manda o capitão não manda o marinheiro. A declaração da União Européia contra as torturas no Iraque não mencionou a palavra tortura. Essa desagradável expressão foi substituída pela palavra “abusos”. Bush e Blair falaram de “erros”. Os jornalistas da CNN e de outros meios de comunicação de massa não puderam utilizar a palavra. Proibida.

Anos antes, para que os prisioneiros palestinos fossem legalmente triturados, a Suprema Corte de Israel havia autorizado “as pressões físicas moderadas”. Os cursos de torturas que há muito tempo recebem os oficiais latino-americanos na Escola das Américas são chamados de “técnicas de interrogatórios”. Em meu país, o Uruguai, que foi campeão mundial na matéria durante os anos da ditadura militar, as torturas eram chamadas, e ainda o são, de “constrangimentos ilegais”.

Segundo a Anistia Internacional, a venda de aparelhos de tortura no mundo é um brilhante negócio para algumas empresas privadas dos Estados Unidos, da Alemanha, de Taiwan, da França e de outros países, mas esses produtos industriais são “meios de autodefesa” ou “material de controle da delinqüência”.

****

Por outro lado, a palavra tortura foi mencionada, com todas suas letras, pelos pesquisadores que entrevistaram a população dos Estados Unidos em 2001, pouco depois da queda das torres de Nova York. E quase a metade da população, 45%, respondeu que a tortura não lhe parecia ruim “se aplicada aos terroristas que se negam a contar o que sabem”.

Entretanto, seis anos antes, a ninguém teria ocorrido torturar o terrorista Timothy McVeigh quando se negou a dar os nomes de seus cúmplices. A bomba que McVeigh colocou em Oklahoma matou 168 pessoas, incluindo mulheres e crianças, mas ele era branco, não muçulmano e havia sido condecorado na primeira guerra do Iraque, onde aprendeu a cozinhar purê de gente.

**** Contra o terrorismo vale tudo. Assim, proclamou o presidente Bush, em mil ocasiões; e foi repetido como eco por Blair. Ambos continuam brindando pelo êxito de suas cruzadas. Continuam dizendo: “O mundo agora é um lugar muito mais seguro”, enquanto o mundo explode e a cada dia a violência gera mais violência, e mais e mais.

**** Guantânamo é o símbolo do mundo que nos espera. Seiscentos suspeitos, alguns menores de idade, definham nesse campo de concentração. Não têm nenhum direito. Nenhuma lei os ampara. Não têm advogados, nem processos, nem condenações. Ninguém sabe nada deles, eles não sabem nada de ninguém. Sobrevivem em uma base naval que os Estados Unidos usurparam de Cuba. Supõe-se que sejam terroristas. Se são ou não é um detalhe que não tem a menor importância. Foi ali que o general Ricardo Sánchez treinou 32 formas de tortura, chamadas “táticas de pressão e intimidação”, que depois implantou nas prisões do Iraque.

**** Desde a queda das torres de Nova York, a tortura vem recebendo numerosos elogios. Desencadeou-se um bombardeio de opiniões jurídicas e jornalísticas, abertas ou veladamente, favoráveis a este método institucional de violência, embora nunca, ou quase nunca, dêem-lhe o nome que tem. Estas apologias da infâmia, que provêm do poder, ou de fontes próximas, sustentam que a tortura é legítima para defender a população desamparada diante das ameaças que se aproximam, porque há meios de luta de moralidade duvidosa que resultam inevitáveis contra os inescrupulosos assassinos que praticam o terrorismo e o promovem e que jamais dizem a verdade.

Mas, se assim fosse, a quem haveria de torturar? Quem são os homens que mais mentem neste século vinte e um? Quem são os que mais inocentem matam, sem nenhum escrúpulo, em suas guerras terroristas do Afeganistão e do Iraque”quem são os que mais contribuem para a multiplicação do terrorismo no mundo?

**** Agora, abundam os surpresos e indignados, mas, a tortura não foi utilizada por erro nem por casualidade contra a população iraquiana. As tropas de ocupação a utilizaram com era costume, por ordens muito superiores, sabendo o que faziam e para que o faziam. Para que? Não há nenhuma prova de que a tortura já tenha servido alguma vez para evitar um único atentado terrorista. No caso do Iraque, nem mesmo foi útil para capturar alguns dos foragidos importantes. O maior deles, Saddam Hussein, não caiu graças à tortura, mas graças ao dinheiro que comprou um alcagüete.

A tortura arranca informações de escassa utilidade e confissões de improvável veracidade. E, entretanto, é eficaz. Por isso foi e continua sendo aplicada: o que é eficaz é bom, segundo os valores que regem o mundo. A tortura é eficaz para castigar heresias e humilhar dignidades, e, sobretudo, é eficaz para semear o medo. Bem o sabiam os monges da Santa Inquisição e bem o sabem os chefes guerreiros das aventuras imperiais de nosso tempo: o poder não emprega a tortura para proteger a população, mas para aterrorizá-la. Será tão eficaz quanto o poder acredita que é? (#Envolverde/ IPS)

* Eduardo Galeano era escritor e jornalista uruguaio, autor de “As veias abertas da América Latina” e “Memórias do fogo”.

** Este artigo faz parte da homenagem  da Envolverde a esse grande homem, jornalista, escritor e pensador da América Latina, que morreu hoje (13) aos 74 anos. Leia outros textos aqui.

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