70% dos jovens americanos querem ser empreendedores. E o que querem os nossos jovens? “O empreendedor é definido pela relação que estabelece com o seu sonho. No Brasil nem pais, nem professores fazem essa pergunta básica às nossas crianças: qual é seu sonho?”, argumentou em Curitiba o professor Fernando Dolabela, em sua palestra na Conferência Internacional das Cidades Inovadoras (Cici). “Por isso o Brasil é um dos países com menor índice de inovação e empreendedorismo do mundo”, disse. A boa notícia é que muitas cidades, adotando a metodologia criada por ele, estão conseguindo praticar a chamada “educação para o empreendedorismo”.
Segundo ele, nascemos empreendedores, já que esta é uma característica da espécie. Crianças sonhadoras são depois formatadas pelo ensino mecanicista e por pais desesperançados a restringir suas possibilidades de sucesso. “A hierarquia é inimiga da criatividade e da inovação, especialmente para o empreendedor, alguém que sonha e busca transformar seu sonho em realidade”, ensina Dolabela, que é consultor da Fundação Dom Cabral.
A metodologia Pedagogia Empreendedora (educação empreendedora para a educação infantil, ensino fundamental e médio) já é utilizada em 120 cidades, envolvendo cerca de dez mil professores e 300 mil alunos, com repercussão em uma população de 2,5 milhões de habitantes. Uma das cidades em que os sonhos são valorizados é a paranaense Londrina. Lá, 200 professores foram capacitados como multiplicadores e hoje treinam 2.600 colegas de 88 escolas da rede municipal, impactando 34 mil alunos e suas famílias, num total de 150 mil pessoas.
Nas escolas que adotam a metodologia de Dolabela, o professor não dá respostas nem transfere conhecimento passivamente. Ele estimula o autoconhecimento, dando espaço para que as emoções, em geral reprimidas pelo modelo industrial, aflorem para derrubar o mito de fragmentação do ser humano. “A ruptura de emoções traz consequências drásticas, porque ser fragmentado entre uma parte que trabalha e outra que se emociona é o que o sistema fez conosco a vida toda”, contou.
Ao interrogar a criança e o jovem sobre um sonho de execução possível pela comunidade, o grande resultado não é construir uma nova cidade, mas fazer com que as crianças sintam que é possível transformar o sonho em realidade.
A metodologia de Dolabela também envolve a comunidade. Depois de determinados os sonhos coletivos das turmas, o próximo passo é reunir os sonhos exequíveis e levá-los ao conselho escolar, que conta entre seus representantes professores, pais e líderes comunitários. “Este é um olhar novo, da periferia para o centro. Começando com o sonho de uma criança, podemos atingir o sonho comum a 150 mil pessoas.”
A escola se torna uma referência para a comunidade, local onde se concebe o futuro. Os sonhos individuais são discutidos em casa, voltam para a escola, viram sonhos coletivos, tornam-se projetos e são encampados pelas associações locais e pelos gestores municipais. Enfim, Dolabela comprova com seu método que construir cooperação gera bons resultados, traz resiliência às cidades e provoca uma revolução na forma de pensar.
Mapa dos sonhos
No painel Cidades Verdes: Rumo à Conferência Rio+20, o público conheceu em primeira mão o site www.meusonhoverde.com.br, que vai agrupar vídeos com os sonhos verdes da população. Mapear os sonhos e torná-los realidade é o objetivo da iniciativa Green Dreams Around the World (Sonhos Verdes ao Redor do Mundo), apresentada oficialmente no último dia da Cici.
A ideia foi inspirada no projeto Dream-in, realizado em Bangalore, na Índia, e surgiu de um pedido do Instituto das Nações Unidas para Treinamento e Pesquisa (Unitar) feito ao comitê gestor do Centro Internacional de Formação de Atores Locais para a América Latina (Cifal), localizado em Curitiba e que é coordenado localmente pela Fiep (Federação das Indústrias do Paraná). O Cifal foi encarregado de criar um projeto-piloto inovador voltado à mobilização local, com foco no meio ambiente e na sustentabilidade, e que possa ser replicado por outras cidades.
Para captar os sonhos verdes dos curitibanos, uma equipe de 85 “apanhadores de sonhos” sai às ruas munida de celulares e câmeras digitais, colhendo depoimentos em vídeo – de no máximo um minuto – dos moradores. O material deve alimentar a discussão global sobre o futuro do planeta, que estará no centro das atenções mundiais daqui a exatamente um ano, quando for realizada a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), no Rio de Janeiro.
Em Bangalore foram captados mais de mil depoimentos de pessoas comuns de todas as províncias indianas, que contaram às câmeras seus sonhos pessoais para uma vida melhor. Posteriormente, foram reunidos pensadores das cidades – gestores públicos, urbanistas, engenheiros, administradores, empresários, financistas, acadêmicos – que se propuseram a desenhar políticas públicas, projetos sociais, ambientais e empresariais baseados nestes sonhos.
Rosa Alegria, consultora técnica do Sesi-PR, explicou que a iniciativa Meu Sonho Verde está preparando a cidade para uma nova visão de sustentabilidade. “Diferentemente do que tivemos na Eco 92, agora existe a chance de ver o que pode ser diferente. A ideia é trazer inovação e um novo olhar da realidade, com a ajuda das redes sociais”. E acrescentou: “Atitude mental é o ponto de partida, despertar a consciência da responsabilidade de cada um. A mudança depende de nós”.
Rodrigo Rocha Loures, presidente do Sistema Fiep, entidade promotora da 2ª Conferência Internacional das Cidades Inovadoras, encerrou o painel dizendo que é preciso entrar na terceira revolução industrial sem perda de tempo: “Precisamos inovar e agir de forma sustentável. Não vamos mudar o planeta, mas podemos mudar o mundo, que é nossa cidade, nosso bairro, nosso país”.