Katmandu, Nepal, 19/8/2011 – As terras de cultivo da nepalesa Saraswoti Bhetwal se destacam na aldeia de Lamdihi, na região do sub-Himalaia, brilhando como um mosaico de formas e cores formado por feijões, melões amargos, tomate e outros produtos. O motivo desta abundância é simples: Bhetwal aproveitou a capacitação dada por um projeto de manejo de bacias administrado pelo Centro Internacional para o Desenvolvimento Integrado de Montanhas (Icimod), em Katmandu. “Depois de participar dos programas de interação do Icimod, me dei conta da importância do manejo integrado da terra para impulsionar a produção”, contou à IPS.
O sucesso de adaptação desta mulher ficou evidente no ano passado, quando uma prolongada seca durante a temporada de monções afetou as plantações de seus vizinhos – e não as dela – em Lamdihi, que fica 45 quilômetros a leste da capital, na bacia do Jikhu Khola. “Falo para os outros adotarem as mesmas técnicas de manejo da água que aprendi no Icimod, para evitar perdas por chuvas erráticas, que, se diz, são causadas pela mudança climática”, afirmou Bhetwal.
Os agricultores do Nepal sofreram os piores impactos da mudança climática durante a seca do inverno 2008-2009, quando na maior parte do país choveu 50% menos do que o normal e as temperaturas ficaram entre um e dois graus acima do habitual. Com a queda de 15% e 17% na produção de trigo e cevada, respectivamente, e o milho sendo severamente afetado, o PMA intensificou sua ajuda. Espera-se que este ano o PMA forneça alimentos para 1,2 milhão de nepaleses ao custo de US$ 98,5 milhões, particularmente nas montanhas do médio e distante oeste do país, considerado um dos mais pobres do mundo.
Bhetwal explicou à IPS que a agricultura é uma atividade difícil há vários anos, por culpa das erráticas chuvas e da consequente escassez de água para irrigação nos mananciais naturais. “As mudanças no clima desconcertam os agricultores em muitas partes do Nepal, e necessitam de apoio institucional para combater os impactos, já que isto implica melhorar a fertilidade dos solos e o manejo da terra com práticas agrícolas integradas”, disse Tek Chand Mahant, do Icimod.
O agricultor Ramesh Kamal, da aldeia de Dhulikhel, contou que “antes as chuvas eram tão previsíveis que podíamos confiar nelas, e agora nunca estamos seguros de quando cairão. Não temos ideia do que está acontecendo”, acrescentou. Bhetwal jura que sobreviveu como agricultora somente porque adotou os métodos de agricultura integrada que aprendeu no Icimod. Entre eles a coleta de água da chuva no telhado e de resíduos líquidos em tanques revestidos de plástico; irrigação por gotejamento; criação de áreas para cultivar, com plantio de pasto e árvores; elaboração de compost (adubo orgânico); e aproveitamento da água subterrânea.
“Antes, só podia obter uma colheita de milho ao ano, cultivando na temporada das chuvas de monções, e tinha que deixar a terra em descanso o resto do ano. Agora, consigo três colheitas anuais usando irrigação por gotejamento, coleta de água e outras tecnologias simples”, contou Bhetwal. Suas áreas, de terra vermelha, ocupam 0,7 hectare e ficam a uma altitude de 860 metros. Contam com clima subtropical e chuvas anuais médias de 1.200 milímetros, propícias para a agricultura, desde que não deixem de cair.
“Estou satisfeita com os resultados”, afirmou Bhetwal à IPS, acrescentando que agora ganha US$ 1 mil adicionais ao ano. Agora tem novos desafios. “Frequentemente os ratos comem meus dutos de irrigação por gotejamento. Quando isso acontece tenho de trocá-los, mas acredito que os especialistas do Icimod terão uma solução”, disse. Considerado um país muito vulnerável à mudança climática, o Nepal tenta que seus agricultores adotem melhores práticas de cultivo como forma importante de enfrentar os impactos climáticos.
“Manter a produção sempre foi uma preocupação prioritária para os agricultores destas partes”, disse Mahant. De todo modo, muitos produtores da região apenas começam a despertar para as novas tecnologias. “Nosso esforço visa a atrair cada vez mais cultivadores para exemplos como o de Bhetwal, disse Nira Gurung, encarregada de comunicações do Icimod. Esta entidade instalou um centro de demonstrações na aldeia de Lamdihi, onde Bhetwal e outras pessoas explicam aos agricultores técnicas como as que ela utiliza.
Bhetwal “nos serve de modelo. Passou de um cultivo de milho por ano a colher arroz, batata e verduras três vezes ao ano”, disse Mahant. No ano passado, as chuvas foram escassas e a água que Bhetwal colhia no telhado durou apenas cinco meses. “Mas ainda consegui cultivar, embora a produção não fosse tão boa quanto a do ano anterior”, explicou à IPS. Madan Sherpa, agricultor vizinho que visitou as exuberantes terras de Bhetwal, resumiu sua admiração dizendo: “Fico impressionado como ela enfrentou a seca e outras duras condições climáticas. Vale a pena estimular tudo isto, por isso estou aqui”. Envolverde/IPS