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“A economia já está se tornando verde”

Corrado Clini, ministro de Meio Ambiente da Itália. Foto: Ministério de Meio Ambiente da Itália.

Roma, Itália, 11/6/2012 – Os governos fazem uma última e desesperada tentativa para chegarem a um acordo sobre o documento final da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, mas a economia real já está se tornando verde, segundo o ministro do Meio Ambiente da Itália, Corrado Clini. Os divergentes interesses e prioridades dos países fazem com que seja difícil para os governos conseguir um acordo sobre um enfoque de desenvolvimento sustentável, o que derivou no lento avanço das negociações sobre o documento final, afirmou o ministro à IPS.

A reunião anterior do Comitê Preparatório para completar o plano de ação para a cúpula, que acontecerá entre os dias 20 e 22 deste mês, no Rio de Janeiro, não chegou a um consenso. O próximo e último encontro de três dias será entre os dias 13 e 15. Os políticos se esforçam em avançar para um novo modelo de desenvolvimento favorável ao meio ambiente e acordar uma agenda comum. Já estão em marcha e crescem com rapidez os investimentos nacionais na área de energias renováveis e de eficiência energética. Uma das expectativas mais realistas para a Rio+20 é que pelo menos “reconheça e reflita a tendência global que já está em andamento”, ressaltou Clini.

IPS: Como explica a discrepância entre ação política e progresso econômico?

Corrado Clini: Os governos chegarão a um acordo frágil, mas a sociedade civil e as empresas privadas avançam rapidamente para padrões mais sustentáveis. A qualidade de produtos como lâmpadas, automóveis, aquecedores e agora inclusive materiais de construção avança para padrões comuns mais respeitosos do meio ambiente. O mesmo ocorre com as economias emergentes, onde os padrões ambientais são mais altos. A maior expectativa, após a primeira conferência do Rio de Janeiro em 1992, foi que a economia incorporasse a sustentabilidade. Nos últimos 20 anos, vimos que de um ponto de vista político não se conseguiu, enquanto as tecnologias obtiveram muitos avanços. A política e a tecnologia são duas áreas paralelas que progridem em descompasso.

IPS: Vê alguma possibilidade de essas duas áreas convergirem?

CC: Há algumas combinações interessantes. Isto ocorre quando a política “absorve” um progresso existente. A política da União Europeia (UE) para sistemas de iluminação mais eficientes é um exemplo de absorção de uma evolução já consolidada da tecnologia. Esse fenômeno também ocorre na China, onde o governo obtém o máximo das tecnologias existentes. Há uma combinação do que já está maduro no mercado com as políticas nacionais que possibilitam o avanço. Esse deveria ser nosso objetivo, e isso é o que já procuramos fazer com os biocombustíveis em escala global. É um processo complexo, mas interessante.

IPS: A coalizão italiana Chamado de Ação Global Contra a Pobreza (GCAP), que reúne 70 organizações da sociedade civil, pede aos líderes mundiais que equiparem a economia verde com a igual distribuição da riqueza. Isto é possível?

CC: Esse é o ambicioso objetivo do chamado “crescimento verde inclusivo”. A UE se compromete com este enfoque que há muitos anos era chamado de “nova ordem mundial”. A resposta, naturalmente, não pode proceder da conferência do Rio de Janeiro. A Rio+20 nos oferecerá uma lista atualizada de temas, não a solução. A União Europeia tem suas propostas, mas nem todos os países membros necessariamente compartilham essa visão.

IPS: Quais expectativas tem sobre a Rio+20?

CC: Resultados políticos como o do frágil documento são previsíveis. Entretanto, há esperança de algo mais. A conferência do Rio de Janeiro pode ser importante para a Europa, que precisa construir uma nova associação com países emergentes como a China, na medida em que avança para uma economia com poucas emissões de dióxido de carbono. O Brasil, com seus recursos fósseis, também pode ser um aliado importante nos esforços para promover um crescimento que proteja os recursos naturais. O novo comissário de Meio Ambiente da UE, Janez Poto?nik, lançou na semana passada a plataforma sobre eficiência no uso de recursos para oferecer assessoria sobre medidas políticas tendentes a impulsionar a economia para um crescimento mais sustentável. A principal tarefa da plataforma será determinar como conseguir os objetivos fixados pelo mapa da Comissão Europeia para que o continente faça um uso eficiente de seus recursos, incluída a questão de desvincular o uso de recursos de seus impactos sobre o crescimento econômico. O uso eficiente de recursos é uma questão fundamental para um crescimento sustentável e inclusivo. Creio que Rio+20 pode dar à União Europeia o valor que necessita para continuar por esse caminho. Por último, membros de importância estratégica da sociedade civil dos países em desenvolvimento podem emergir e ganhar visibilidade global. Creio que nos países emergentes esse setor se beneficiará enormemente disso. Envolverde/IPS