Os assuntos ligados ao meio ambiente nos dias de hoje, são palpitantes, dinâmicos, efervescentes, apaixonantes e causadores de propostas e discussões sem fim, oxalá um dia, sejam como o futebol.
Porém, eu gostaria de observar um acontecimento interessante: parece que o novo Código Florestal, que tanta polêmica causou, morreu! E nós, pobres mortais que estamos do lado de cá, estamos como que em réquiem por ele, sem saber se as homenagens que poderíamos lhe render, seriam justas.
Mas, não se iludam, o Código Florestal não morreu, só está esperando a vez do Senado da República retificá-lo, colocando no texto as mudanças que a sociedade exige, ou então, o que seria catastrófico para o Brasil, ratificá-lo como a Câmara dos Deputados o aprovou.
Por outro lado, costuma-se dizer no Brasil que tudo é por falta de Educação, o que é uma verdade. Ora, se Educação é tomada de consciência, passagem de conhecimentos e aplicação desses conhecimentos e experiências, para melhorar a vida sobre o planeta, apliquemos então no texto do Código, tudo que conhecemos sobre meio ambiente, e mais, vamos buscar nas pesquisas, novas soluções que o momento exige.
Somente nestes tópicos acima, teríamos razões mais que suficientes para nos unir e fazer uma proposta de Código Florestal irretocável, que contemplasse todos os anseios da sociedade e do Brasil para os próximos trinta anos de desenvolvimento sustentável.
Como isso não ocorre na realidade, seria conveniente e necessário fazermos algumas perguntas!
Será que já chegou a hora de discutirmos os índices socioeconômicos e demográficos da população do planeta e do Brasil?
O crescimento populacional — que, na verdade, ainda não está na pauta da preservação ambiental — é uma variável socioambiental importantíssima, pois, em breve, seremos sete bilhões de habitantes em demanda por espaço, por comida, por água, por energia e por bens de consumo. Para uma população deste tamanho, como criar um sistema de prospecção, distribuição e uso de recursos, de produção, distribuição e consumo de bens e serviços, suficientes para atender com dignidade a todos?
Quando se chega ao Brasil, constata-se que 85% da população vive nos centros urbanos, e que as condições de vida melhoraram muito nos últimos anos, aumentando a capacidade de consumo e desperdício. Temos um caldeirão efervescente e voraz, ávido por usar recursos naturais e consumir bens e serviços. Quanto maiores os anseios da população urbana, maior a degradação ambiental para supri-los, no campo e na cidade, tanto em área, como em quantidade de recursos degradados. É verdade que os índices de crescimento populacional estão diminuindo aos poucos, no entanto, é preciso colocá-los na pauta da preservação ambiental, urgentemente, para planejarmos de maneira sustentável o futuro.
Será que algumas pessoas envolvidas na propositura do novo Código, não estão interessadas em melhorar a nossa qualidade de vida?
Com certeza! A quem interessa liberar de forma perene, áreas de preservação permanente e espaços de matas ciliares para aumentar de forma predatória a exploração do agronegócio no Brasil? Muitos, dentre eles, aqueles que ainda defendem o argumento anacrônico, de que o Brasil é o “celeiro do mundo”. De que valerá, daqui a alguns anos, um celeiro degradado e carcomido pelas traças, carunchos e outros insetos, embutidos na ambição do lucro indiscriminado e da degradação definitiva?
Será que estas pessoas e os segmentos que representam no parlamento, estão interessadas no “desenvolvimento predatório”, aquele, cujas benesses são só para alguns e as mazelas, para todos?
Com certeza! Alegam que é preciso produzir mais alimentos, “alimentar a população brasileira e exportar mais, para alimentar outras populações”. Alegam que é preciso “fabricar mais papel, pois a sua demanda é crescente no Brasil e no mundo, e nós (eles), não podemos perder esse mercado”. Alegam que é preciso “retirar mais minérios do subsolo, exportá-los como matéria prima, e depois recomprá-los como manufaturados, a um preço seis a oito vezes maior, gerando emprego e renda em outros países que detêm maior capacidade de produção e uma tecnologia mais avançada”. Com isso, aumentamos muito o consumo de água, de energia e geramos muito mais gases do que o necessário.
E tudo isto passa a ser normal quando a nossa voz, por insuficiência de formação e de informação, se torna impotente e não consegue dizer basta, chega!
Será que o ambiente rural no Brasil, com suas poucas matas e nascentes, vai suportar os anseios sem limites de uma sociedade de consumo insaciável?
Com certeza, não! Em menos de um século, passamos das vilas às cidades, e destas, muitas viraram metrópoles com imensas massas humanas a demandar espaços e recursos para além da sobrevivência, e levarem uma vida com conforto e desperdício, exatamente por falta daquelas formação e informação já citadas.
O cinturão verde em torno das cidades, foi crescendo e se expandindo a ponto de invadirmos a Mata Atlântica, o Cerrado, a Caatinga, os Pampas e agora, de uns trinta anos para cá, a Amazônia, que, dia a dia, agoniza sob motoserras e sob o fogo, colocando o Brasil entre os campeões mundiais de emissões de gases e de aquecimento global.
E o Código Florestal hein, que como o nome insinua, é para proteger as florestas, as árvores, será que a gente ainda se lembra dele?
Que os brasileiros não se iludam, o Código Florestal está aí para ser votado pelo Senado da República. Chegou a hora de nos unirmos e dizermos basta, vamos colocar no texto do Código, tudo o que precisamos para ter um país sustentável, que respeite toda a diversidade de forma equânime e justa com a preservação da vida. Não podemos nos esquecer que o desenvolvimento sustentável, tem que tomar como primícias todos os aspectos socioambientais do território brasileiro, para dar à vida o espaço que ela precisa e merece.
Então, comecemos agora, vamos primeiro alertar os senadores de que estamos de olho e, queremos não só viver com sustentabilidade no país do presente, mas também no país que tenha um futuro sustentável.
Vamos acreditar na presidenta que afirmou que, se o Código Florestal não estiver em sintonia com a vontade expressa do povo brasileiro, ela veta!
E, para finalizar, vamos demonstrar que precisamos de multas, penalidades e castigos, somente para aqueles que destroem a consciência coletiva da preservação ambiental e, visam, tão somente, ao lucro indiscriminado que os recursos naturais podem proporcionar.
Vamos aumentar a produção e a produtividade de alimentos por meio do conhecimento, da pesquisa e da tecnologia, e ao mesmo tempo proteger o ambiente em que vivemos.
Vamos, por meio da educação, estimular um plano nacional de reflorestamento sistemático que pode sim partir da escola, dos alunos, dos professores, para todos os rincões do país.
Vamos estimular, também, o reflorestamento sistemático por meio de incentivos fiscais e socioambientais (já temos exemplos de sucesso), pois, se eles existem para outras áreas e segmentos, porque não para garantir o futuro do país e da vida.
Vamos enfim, para garantir um futuro sustentável, criar um plano de proteção, preservação e uso racional de recursos, e também vamos plantar árvores e fazer florestas!
* Francisco Pincerato é ambientalista e autor de livros, gibis didáticos e jogos pedagógicos sobre educação ambiental. Tem obras adotadas por várias prefeituras, pelo Instituto Ayrton Senna e até por empresas em campanhas de educação, saneamento e vigilância ambientais.