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A emigração pode financiar o desenvolvimento

Dilip Ratha. Foto: Gentileza do entrevistado.

Nações Unidas, 13/10/2011 – Os “bônus da diáspora” podem ser uma excelente fonte de renda para os países em desenvolvimento, e para isso é fundamental que os governos emissores entendam onde estão os imigrantes, “quantos são, quanto ganham, economizam e investem”, disse o economista Dilip Ratha à IPS.

Quase dois terços dos 214 milhões de migrantes do mundo vivem em países ricos do Norte e do Sul. Continuando essa tendência atual, esse número aumentará para 405 milhões até 2050, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), com sede em Genebra. Contudo, qual proporção das remessas enviadas pelos imigrantes é canalizada em projetos de desenvolvimento?

As economias da diáspora giram em torno dos US$ 400 bilhões anuais, disse Ratha, muito mais do que os US$ 325 bilhões que a população migrante envia sob a forma de remessas aos seus países de origem na Ásia, África, América Latina e no Caribe. A maior parte das economias é investida em depósitos de baixo rendimento ou guardada debaixo do colchão, disse Ratha, gerente da Unidade de Migração e Remessas, do Banco Mundial, que é um dos principais promotores dos bônus da diáspora. A IPS conversou com Ratha sobre esta maneira de financiar o desenvolvimento.

IPS: Além de Israel (que criou os seus em 1951), há algum outro país que estabeleceu com êxito bônus da diáspora?

DILIP RATHA: Talvez, a Índia seja o outro único exemplo de lançamento com sucesso de bônus da diáspora. Entre Índia e Israel foram arrecadados quase US$ 40 bilhões desde 1951 por meio desses bônus. Muitos países, como Filipinas, Líbano e Sri Lanka, recolhem economias da diáspora mediante depósitos em moedas estrangeiras, mas estes não são o mesmo que os bônus.

IPS: Em que se diferenciam os bônus da diáspora?

DR: São semelhantes aos depósitos a prazo fixo, e são previsíveis em certo grau quanto ao serviço da dívida e à amortização, resultando, portanto, úteis para quem toma emprestado. Outros países – como Etiópia e Nepal – emitiram bônus da diáspora, mas as últimas emissões não tiveram êxito. As Filipinas também estenderam no ano passado um Bônus de Trabalhadores Filipinos no Exterior, mas grande parte destes bônus foram comprados pelos bancos locais, e apenas uma pequena parte foi vendida aos membros da diáspora.

IPS: O investimento nesses bônus não depende de vários fatores, como o alcance das economias dos migrantes, a segurança dos próprios bônus e a estabilidade econômica e política do país de origem?

DR: Tem razão. Para o governo emissor é crucial compreender onde estão os membros da diáspora, quantos são, quanto ganham, economizam e investem; o que pensam do governo e de investir em seu país natal, bem como que tipos de projetos apoiariam. A percepção do risco político por parte dos membros da diáspora é um fator importante que afetará os investimentos em bônus da diáspora. No entanto, devido à quantidade de risco político, comumente ocorre que os membros da diáspora têm menos percepção do risco e mais tolerância ao mesmo do que os investidores estrangeiros. Além disso, os membros da diáspora frequentemente têm um desejo de devolver que o bônus da diáspora possa explorar para gerar um interesse menor e maior maturidade da dívida.

IPS: Que papel tem o Banco Mundial nos bônus da diáspora? Aconselha os países? Neste caso, com quais países trabalham?

DR: O Banco Mundial trabalha atualmente no Quênia, na Nigéria e nas Filipinas em bônus da diáspora. Seu papel principal é o de um mediador honesto: entre os banqueiros de investimento e o governo, entre o governo e as diásporas, entre o governo do país emissor e os reguladores governamentais no país de destino dos migrantes. O Banco Mundial também espera oferecer assistência técnica na estruturação financeira destes bônus, como preço, denominação de dívidas, avaliação do risco e oportunidade da emissão. Envolverde/IPS