A era digital: chegando às pessoas

Livros mostram como as redes estão mudando o mundo. Foto: Reprodução/Internet

Dois escritores pensam em maneiras interessantes de ordenar a sociedade através da tecnologia

Em 1964, Paul Baran, um engenheiro, propôs o uso de redes distribuídas para a comunicação. Redes tradicionais dependiam de uma unidade central para transmitir informações entre pontos. Se a unidade central caísse, junto ia todo o sistema. A rede de Baran não tinha centro. Esta era composto por diversos nós que se conectavam a muitos outros nós, o que permitia a existência de diversas rotas, as quais são chamadas pelo pessoal de TI de “redundâncias”. A resposta inicial foi cética, mas com o tempo a arquitetura de Baran se tornou a fundação da ARPAnet, a precursora da internet.

Dois novos livros sobre como as redes estão mudando o mundo usam o projeto de Baran como uma metáfora para o futuro. O estado, instituições financeiras e universidades servem como pontos centrais através dos quais flui tanto poder quanto informação. Mas a primazia dessas organizações de grande porte está sendo desafiada por pessoas que estão imaginando novas maneiras de fazer as mesmas coisas – educação, pesquisa, financiamento, até mesmo governança – ao se organizarem em rede.

Se indivíduos podem ignorar o governo e o mercado para financiar videoclipes ou projetos artísticos, certamente o mesmo pode ser feito em outras áreas. Marina Gorbis usa essa premissa para sugerir uma série de cenários futuros em “The Nature of the Future”. Suas previsões se fundamentam em tendências correntes. Mas Gorbis usa o mesmo grupo de exemplos com frequência demais para sugerir tendências mais amplas. E personagens ficcionais não se misturam bem com pessoas reais na melhor das épocas, muito menos em um livro que pretende convencer os leitores de um novo movimento. “The Nature of the Future” é profundamente permeada por um tecno-utopismo.

Steven Johnson tem uma abordagem bastante diferente em “Future Perfect”. Ele argumenta a favor da necessidade de uma nova política baseada em “valores favoráveis aos pares”. Em algumas áreas, afirma, as melhores soluções surgem a partir de “redes colaborativas abertas, não a partir da competição privada”.

Johnson é um escritor inteligente e sutil. Ele não sugere que qualquer problema possa ser solucionado “com o Facebook”. Em vez disso, em uma era de cortes de orçamentos públicos e descrença no mercado, criar plataformas para que as pessoas solucionem coisas em conjunto pode ser a melhor maneira de preencher lacunas.

Gorbis e Jonhson alertam contra os perigos de meramente passar o controle de uma unidade central para novas unidades. Mas nenhum dos dois autores sugere como resolver isso. “Progressistas colaborativos” e “estruturadores sociais” pensam em maneiras interessantes de ordenar a sociedade. Mas eles ainda não são uma terceira via entre o estado e o mercado.

* Publicado originalmente na revista The Economist e retirado do site Opinião e Notícia.