De suas funções respiratórias, emanam substâncias necessárias à conservação de ecossistemas. Numa processo perfeito, a floresta garante sua sobrevivência num sistema de consumo e produção de matéria orgânica, que alimenta a natureza.
Indicadores de produção e consumo de matéria orgânica, os gases são fundamentais para o entendimento de ecossistemas com alto grau de conservação. Esse é o caso da Floresta Nacional de Caxiuanã, área de preservação, localizada no arquipélago do Marajó, na foz do rio Amazonas.
É fato evidenciado em pesquisas que os rios da Amazônia são naturalmente pobres em gás oxigênio e ricos em dióxido de carbono (CH4). Como o dióxido de carbono é um dos gases mais relevantes para os estudos sobre o efeito estufa, os pesquisadores do Museu Goeldi se voltam para análises nesse campo.
Além da importância do dióxido de carbono para as pesquisas sobre o efeito estufa, “a baixa concentração de oxigênio, nessa região, favorece a alta concentração do gás metano, que é produto da respiração anaeróbica” justificando a necessidade de investigações, explica o coordenador da pesquisa, o geoquímico José Francisco Berredo.
Como a Floresta Nacional de Caxiuanã é uma região de baixa intervenção humana e preservada, o estudo realizado pelo Museu Goeldi servirá de parâmetro para estudos realizados em ecossistemas semelhantes, porém já degradados.
A importância dos gases – Conhecimento já acumulado indica que as concentrações de gases constituem bons indicadores de taxas de produção bem como de consumo de matéria orgânica. Pesquisa premiada no último Seminário do Programa de Iniciação Científica do Museu Paraense Emilio Goeldi estuda o comportamento das taxas respiratórias e dos gases biogênicos – produzidos pela ação de organismos vivos – no que se conhece como, metabolismo.
O entendimento dessa dinâmica em ecossistemas com alto grau de conservação é extremamente importante para realização de comparações com ecossistemas aquáticos com alto grau de alterações antrópicas, explicam os pesquisadores.
Para estudar as funções respiratórias da floresta, a bolsista de iniciação científica, Alana Kasahara, seu orientador, José Francisco Berredo, e o co-orientador, Daniel Bentes, trabalharam durante dois anos em cinco pontos de coleta recolhendo amostras de água. Foi a partir dessas amostras que eles determinaram a taxa respiratória, o oxigênio dissolvido, a pressão parcial do gás carbônico e a pressão parcial do gás metano.
A partir do uso de tecnologia sofisticada, Alana e Berredo identificaram os gases pela técnica de cromatografia gasosa que consiste na separação dos diferentes componentes químicos presentes em cada amostra. A separação e a identificação demonstram as pressões parciais do gás carbônico e do gás metano.
Com os dados coletados, os pesquisadores do Museu Goeldi mediram a taxa respiratória usando o método Winkler que determina o oxigênio dissolvido para o cálculo da taxa respiratória. Por esse método, os gases ficam incubados durante 24 horas e são estatisticamente analisados em relação a outros fatores (variáveis) como o nível da água do rio, ou cota – termo técnico.
Os aportes laterais também são variáveis consideradas no estudo e representam a contribuição das margens dos ecossistemas aquáticos. O que os pesquisadores consideraram foi “o transporte de matéria orgânica dos ecossistemas adjacentes para os ecossistemas aquáticos estudados”.
Em alguns pontos do baía de Caxiuanã e do rio Curuá, considerados na pesquisa, foram medidas as maiores taxas de produção de oxigênio, mas informações de que os rios da Amazônia são pobres em gás oxigênio e ricos em dióxido de carbono se comprovam no estudo Análise da atividade metabólica da comunidade aquática do Rio Curuá e da Baía de Caxiuanã.
O período de chuvas e de seca na região também foi considerado nas coletas de amostras e a análise aponta diferenças significativas. Segundo os pesquisadores, “Os dados hidrológicos como precipitação e cota do rio foram utilizados para verificar a influência da das estações de seca e de chuva no comportamento das variáveis estudadas”.
Em geral, no período chuvoso, diminui a concentração de oxigênio (O2) e gás metano (CH4), e aumenta a concentração de gás carbônico (CO2). Isso está relacionado com a decomposição da matéria orgânica proveniente em maior quantidade dos ecossistemas adjacentes nos períodos chuvosos.
Para entender o efeito estufa
O efeito estufa é a retenção de calor na atmosfera o que faz com aumente a temperatura na Terra. Esse efeito está relacionado à emissão de gases poluentes principalmente os queimados no consumo de combustíveis fósseis como os derivados de petróleo.
A destruição dos ecossistemas que geram o desequilíbrio do meio ambiente também contribui para o aumento das temperaturas e a emissão de gases que ficam presos na atmosfera e formam uma cobertura de calor. Daí a importância de estudar ambientes preservados que podem auxiliar na diminuição dos efeitos danosos à vida no Planeta.
* Jimena Felipe Beltrão é jornalista.