A fúria finlandesa

A Finlândia tem muito pouco a ganhar com um grande acordo para salvar o euro. Isto pode acabar sendo um problema. Pode ser que os esforços para proteger o euro sejam assassinados não em Berlim, mas em outra capital do norte com um fraco pela austeridade: Helsinque.

Atualizado em 10/09/2012 às 05:09, por Ana Maria.

Finlandeses estão fartos de terem que socorrer a Grécia. Foto: Reprodução/Getty Images

A Finlândia tem muito pouco a ganhar com um grande acordo para salvar o euro. Isto pode acabar sendo um problema.

Pode ser que os esforços para proteger o euro sejam assassinados não em Berlim, mas em outra capital do norte com um fraco pela austeridade: Helsinque. No mês passado, a ministra das finanças finlandesa, Jutta Urpilainen, causou espécie ao dizer que seu país “não se apegaria ao euro a qualquer custo” e não estava preparado para assumir a dívida de outros Estados. Mais recentemente, o ministro das relações exteriores, Erkki Tuomioja, revelou que a Finlândia fez planos de contingência para um cenário de dissolução do euro. A Finlândia foi a única a exigir garantias para a sua parte do segundo resgate grego e para o fundo para os quais contribui para apoiar os debilitado bancos espanhóis. Se um grande acordo para a mutualização da dívida acabar sendo necessário para manter o euro de pé, pode ser que os finlandeses o bloqueiem. Alguns observadores acham que é mais provável que a Finlândia saia do euro do que a Grécia.

É verdade que a Finlândia é o país que mais tem a perder com uma união de dívidas nacionais. O FMI considera que a dívida bruta combinada dos países do euro vai atingir um pico de 91% do PIB no ano que vem, enquanto a proporção dívida/PIB da Finlândia será de apenas 53%, o mais baixo entre os países da zona do euro (desconsiderando-se Estônia e Luxemburgo). Os custos de empréstimo da Finlândia são mais ou menos os mesmos que os da Alemanha. Depois do Japão e da Itália, a Finlândia tem a população que está envelhecendo mais rapidamente dentre os países ricos, de modo que tem tomado cuidado em criar novas dívidas. Ademais, tendo se recuperado de uma séria crise bancária nos anos 1990 com seus próprios esforços (embora em um momento favorável da economia mundial), os finlandeses encaram os resgates com hostilidade.

A Finlândia também pode ser o país que menos tem a ganhar com a continuação do show do euro. Os seus bancos tem pouca exposição direta à problemática periferia da zona do euro, ao contrário dos bancos franceses e alemães. A sua economia é menos integrada à zona do euro do que os outros países que se opõem a um resgate, como a Holanda. Apenas 31% das exportações finlandesas vão para países da zona do euro, uma proporção ainda menor do que a eurocética Inglaterra. O seu maior fornecedor é a Rússia e seu maior comprador individual é a Suécia, cuja economia está crescendo mais rapidamente do que a da Finlândia. A Noruega também está indo bem. Os finlandeses estão fartos de terem que socorrer a Grécia e com certeza se deram conta de que os seus vizinhos mais próximos parecem estar florescendo fora do euro.

O mais provável é que os finlandeses sejam arrastados pela Alemanha para alguma forma de grande acordo que envolva o agrupamento de dívidas. A opinião pública ainda está a favor da permanência do país no euro, também devido ao medo profundamente entranhado de voltar a se tornar uma economia satélite. Mas a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, deveria reconhecer que a fúria finlandesa é mais um sinal de que a sua abordagem gradualista para a crise do euro não está funcionando.

* Publicado originalmnete na The Economist e retirado do site Opinião e Notícia.


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