Arquivo

A geração perdida começa a abandonar a Grécia

Atenas, Grécia, 4/10/2011 – Todos os dias, desde bem cedo, forma-se uma longa fila do lado de fora do Serviço de Tradução do Estado, no centro da capital grega. A maioria é de jovens que precisam processar todos seus documentos para abandonar o país em busca de trabalho. Mais tarde, muitos se dirigirão a diferentes embaixadas para solicitar vistos.

São sinas na rua da ondea de emigração que vive a Grécia. Enquanto o país afunda na crise econômica, milhares decidem buscar a sorte em outros lugares. Este mês, o desemprego disparou para 16%. O ministro da Fazenda, Evaggelos Venizelos, admitiu publicamente que a economia está se contraindo mais rápido do que se temia, a uma taxa de 5,2%, e que a tendência continuará no próximo ano.

Um informe do Instituto de Pesquisa Trabalhista, do Sindicato Geral do Trabalho, formado por empregados do setor privado, prevê uma deterioração maior e rápida. Oficialmente, mais de 790 mil gregos estão desempregados, mas os números reais seriam maiores, já que muitos não foram contados por razões logísticas.

Os jovens são os mais afetados. O desemprego entre os que têm entre 15 e 29 anos cresceu acima de 40%. Isto alimenta a onda de emigração. Inclusive, alguns que apesar de terem trabalho também abandonam o país. Andreas Kallisteris renunciou a um lucrativo cargo de assessor no Ministério do Emprego para acompanhar sua mulher e seu filho a Berlim. Ela, tradutora independente, também tinha trabalho, mas decidiu deixar o país.

“Pensamos em não voltar jamais”, disse à IPS Kallisteris, um profissional altamente qualificado e vinculado à política há anos. “Não posso influir no futuro e não posso mudar as decisões tomadas por uma administração e um sistema político fracassados. Não há possibilidades para este país”, afirmou.

“Estou deixando para trás um lugar que se transformou em um deserto. Com a partida dos melhores recursos humanos, fenômenos como o aumento da extrema direita e o subdesenvolvimento se converterão em agudos temas sociais em breve. Somente regressarei quando tiver partido esta geração que governa o país”, acrescentou Kallisteris.

Assim, velhas rotas da emigração revivem. Os moradores do nordeste da Grécia, área mais afetada pela crise, querem se mudar para a Alemanha ou a Escandinávia, terra de origem de seus ascendentes, que chegaram ao solo grego para trabalhar nos anos 1950 e 1960. Até agora, Europa ocidental, Estados Unidos, Canadá e Austrália são os destinos mais populares.

Até julho passado, foram registradas 106.775 visitas ao site da Europass, muito popular entre os que buscam trabalho na União Europeia. Na cidade australiana de Melbourne, a comunidade grega (a maior no exterior) se mobilizou para receber os novos imigrantes. Por sua vez, a embaixada australiana na Grécia anunciou a realização de uma conferência em Atenas, nos dias 8 e 9, para potenciais emigrantes. Espera-se um grande comparecimento.

Também há destinos pouco habituais. Dionysis Raitsos, cientista do Centro Grego para a Pesquisa Marinha, nunca imaginou mudar-se para a Arábia Saudita. “Eu tinha um bom emprego com um ambiente dinâmico, mas com grande falta de fundos, que em sua maioria provinham de programas europeus”, contou à IPS.

“Por quatro anos estive com um salário básico sem reais perspectivas de melhora. Os contratos de muitos colegas estavam expirando e não eram renovados. Logo chegaria minha vez”, disse Raitsos. No ano passado, ele se transferiu para a saudita Universidade Rey Abdala de Ciência e Tecnologia. “Foi uma decisão inteligente. Recebi uma bolsa e aterrissei em um ambiente onde as coisas caminham. Apesar das diferenças culturais e das dificuldades para emigrar, sair da Grécia era a única solução”, ressaltou.

É difícil saber qual será o impacto desta onda de emigração, mas especialistas se mostram pessimistas. O chefe do Instituto de Pesquisa do Sindicato Geral do Trabalho, Savvas Robolis, afirmou que se trata de uma “geração perdida da Grécia”. Este país não pode absorver a maioria dos 40 mil novos trabalhadores que chegam ao mercado a cada ano, e por isso eles procuram uma solução no exterior. Poucos falam em regressar algum dia. Envolverde/IPS