A informação não é neutra. Dependendo das estratégias de negócio ou dos interesses, a informação tenderá mais para um lado ou outro da verdade. A verdade não é capaz de se oferecer por inteira, por uma característica da própria natureza humana. Podemos até apreender toda a verdade, por exemplo, saber da existência de bilhões de estrelas no universo, mas somos incapazes de conhecer todas elas, então, precisamos colocar foco na estrela ou na parte do Universo que conseguimos conhecer, ou que nos interessa conhecer.
Outra característica importante é sobre a ética. Não se trata de um conjunto de regras congeladas, então a ética muda de acordo com o tempo, o lugar, os interesses de uma sociedade ou corporação, na melhor das hipóteses, numa tentativa de buscar o que é aceitável ou não para aquele determinado segmento de público, tempo e lugar.
A mentira, por exemplo, é quase que eticamente inaceitável por qualquer ângulo que se olhe. Entretanto, existem várias maneiras de mentir, ou omitir, ao se dizer só uma parte da verdade. E aqui se abre um vão enorme por onde a informação pode ser torcida, distorcida, manipulada, de acordo com o interesse de quem detém o poder sobre o que interessa ou não divulgar. Ao analisarmos algum aspecto da verdade tendemos a fazê-lo por partes, como uma espécie de técnica do farol, em que lançamos luz sobre o aspecto da verdade que nos interessa evidenciar e deixamos os demais aspectos nas sombras.
Informar ao público é fazer escolhas sobre que aspectos da verdade achamos que um determinado público de interesse quer saber. Portanto, é escolher uma parte da verdade e descartar as outras. Técnica e eticamente não é mentir, mas também não é dizer toda a verdade.
Assim, existirá a informação sobre sustentabilidade que interessará ao empresário, ou ao terceiro setor, ou ao governo, ou ao público infantil, ou feminino, ou ao consumidor, e assim por diante. Para cada um desses segmentos existirá uma ética diferenciada de informar. Todas meio verdadeiras, por que expressam uma parte da verdade, mas, olhando por outro ângulo, todas meio mentirosas por que não dão conta de mostrar a verdade por inteiro.
A saída para este impasse ético e para assegurar o acesso a outros aspectos ocultos da verdade é a democracia, que permite a existência de diferentes veículos de comunicação sobre o mesmo tema, no caso aqui, o ambiental. A existência de uma mídia ambiental diferenciada é fundamental para a sustentabilidade e para a própria democracia, por que só a partir das informações e dos valores diferentes dos que recebe hoje, a sociedade será capaz de fazer escolhas diferentes para o futuro.
Uma mídia ambiental que foque sua pauta nas boas práticas, nas boas notícias do que o governo ou os empresários estão fazendo cumpre um importante papel de renovar esperanças, consolidar tendências de investimentos na mudança no rumo da sustentabilidade ou divulgar novas tecnologias e certamente vai agradar grande parte dos financiadores deste tipo de informação.
Já a mídia ambiental cujo olhar é mais focado em políticas públicas, nas agressões à natureza e em como a sociedade civil reage a estas agressões, certamente não agradará tanto ao mercado ou aos governos e, apesar de ter assegurado seus nichos de públicos interessados, sofrerá mais para obter financiamento por parte daqueles que não gostam de se ver criticados pelas agressões à natureza ainda que em nome do progresso de todos.
Para contrabalançar esta tendência, o governo deveria dispor e oferecer políticas e financiamentos que assegurassem o acesso da sociedade à democratização da informação ambiental, pois existe uma enorme diferença entre a informação que o público quer e se dispõe a pagar por ela e a informação que o público precisa, mas nem sempre se dispõe a pagar para ter. Por isso a necessidade das políticas públicas, que no Brasil ainda são incipientes e subordinadas às regras do mercado. A atual política de governo mede um veículo de comunicação não pelo tipo de informação que distribui, mas pela quantidade de público que consegue atingir, o tal CPM (custo por mil), assim, só os grandes veículos de comunicação, com grandes tiragens, é que conseguem financiamento público.
* Vilmar Sidnei Demamam Berna é escritor e jornalista, fundou a Rebia (Rede Brasileira de Informação Ambiental) e edita, deste janeiro de 1996, a Revista do Meio Ambiente (que substituiu o Jornal do Meio Ambiente) e o Portal do Meio Ambiente. Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas.