Arquivo

A mágica maior do cinema é iluminar os bastidores

A platafora do Insituto Alana, VIDEOCAMP, foi lançada no dia 17 de março no CineSala: uma noite para inspirar, debater e transformar. Foto: Charles Nasech/ Instituto Alana
A platafora do Insituto Alana, VIDEOCAMP, foi lançada no dia 17 de março no CineSala: uma noite para inspirar, debater e transformar. Foto: Charles Nasech/ Instituto Alana

 

Quando o grande diretor de cinema Martin Scorsese declarou que “Agora, mais do que nunca, precisamos falar uns com os outros, para ouvir o próximo e entender como vemos o mundo”, concluindo que o cinema era “o melhor meio para se fazer isso”,  o VIDEOCAMP ainda não existia (já, já, explico melhor). O motivo da citação é que, a partir de agora, os temas sobre os quais temos refletido nesta coluna podem se entrelaçar com outros que, mundo afora, buscam também tirar da invisibilidade ideias transformadoras, gente sem vez e sem voz e questões que a intransigência e a ganância optam por não enxergar.

Contar um pouquinho de onde nasce o VIDEOCAMP talvez seja uma forma de capturar por inteiro o significado do que aconteceu no último 17 de março. Por fora, parecia mais uma terça-feira qualquer; por dentro do Cinesala, mais de 250 pessoas presenciavam uma revolução desencadeada pelo poder transformador do cinema. Enquanto olhava a telona no aguardo da estreia da nova produção audiovisual da Maria Farinha Filmes, um outro filme passava por minha cabeça. Há oito anos, começávamos nossa marcha, inédita no país, por órgãos governamentais, instâncias jurídicas e instituições de ensino com o primeiro documentário do Instituto Alana embaixo do braço.

Criança, a alma do negócio denunciava os abusos de um mercado que, falando diretamente com as crianças, as induz a abandonar o mundo mágico do brincar pela compulsão por comprar. A captura de dados e depoimentos para rodar o filme acabou por cutucar com vara curta a leoa perplexa dentro da própria cineasta, mãe então de três filhos pequenos, sob a mesma mira do marketing. E seu rugido valeu a pena.

”Nossa, eu não fazia ideia da gravidade do assunto!”.  “Estamos aqui pensando que, ao acordar amanhã, a vida do nosso filho irá mudar, embora nem saibamos ainda por onde começar”. Tal como estas, as muitas vozes de pais, mães, cuidadores, educadores e estudantes que íamos colhendo na caminhada intensificavam nossa ansiedade pelo muito que havia ainda por conscientizar. A carência de informações sobre tantos aspectos da vulnerabilidade infantil se mostrava maior do que imaginávamos, trazendo a certeza de que precisávamos para seguir apostando no cinema como ferramenta de transformação social. E, desde então, a Maria Farinha não parou mais…

Por razões óbvias, nossas mensagens não contavam naquele tempo (naquele?) com a facilidade de difusão pelas mídias convencionais. Era preciso encontrar outras formas de alcançar muito mais gente ao mesmo tempo. O espírito criança que da recepção à presidência saltitava dentro do Alana, enxergou a solução pelas lentes gigantes do cinema: “VIDEOCAMP, um, dois, três e já!”. E quase como num corte de cena, a plataforma estreou. Foi assim que, naquela terça-feira, as pessoas chegaram, vindas de lugares e ideais humanos diversos, superlotando o cinema e representando milhares de outros ativistas que, cada vez mais, unem suas vozes às nossas na reivindicação de direitos, de liberdade e de respeito às diferenças.

O cinema ficou lotado no lançamento em SP. Foto: Charles Naseh/ Instituto Alana
O cinema ficou lotado no lançamento em SP. Foto: Charles Naseh/ Instituto Alana

 

Quem? Entre Muros e Pontes marcou a estreia do VIDEOCAMP que, em troca, fez ecoar o clamor do povo Saharaui, dividido por um muro construído pelo Marrocos há 40 anos, dando espaço para um debate solidário e determinado. A cortina do filme que eu recordava se fechou então num “The End” quase épico, ao mesmo tempo em que uma nova luz se acendia sobre as causas sociais. Mais que uma plataforma de cinema, VIDEOCAMP quer ser a casa interativa de todos, um lar para reunir em torno do bem comum a maior família do mundo. Vida longa a essa casa! (Instuto Alana/ #Envolverde)

* Maria Helena Masquetti é graduada em Psicologia e Comunicação Social, possui especialização em Psicoterapia Breve e realiza atendimento clínico em consultório desde 1993. Exerceu a função de redatora publicitária durante 12 anos e hoje é psicóloga do Instituto Alana.