A notícia do mês na internet é a compra do Skype pela Microsoft. E em dinheiro: US$ 8,5 bilhões, um sexto do caixa de Redmond.
Como em toda transação de tal monta, há gente contra e a favor, pelas mais diversas razões. Há os que temem poderes demais nas mãos da Microsoft, cujas tecnologias já servem mais de 80% dos usuários de computadores do planeta.
A isso junte o Skype, com mais de 660 milhões de contas de usuários, 10% a mais que o último número de Facebook. Do qual a Microsoft é acionista minoritária e parceira exclusiva para um número de serviços. E ainda dizem que a empresa está sempre atrasada.
Mas a Microsoft nem sempre chega na frente. O potencial de redes sociais não foi percebido a ponto e a tempo de o MSN (Messenger) se tornar a base para algo muito mais amplo e concreto do que um sistema de mensagens de texto e depois uma coletânea algo difusa de sites e serviços. E o MSN não se tornou um “skype”. Isso na rede fixa.
Na móvel, a Microsoft insistiu numa plataforma que parecia, mas não era Windows e também parecia, mas não era um sistema operacional de plataformas móveis capaz de competir com iOS, Android ou BlackBerry, apesar de mais complexo e caro que o software de celulares mais simples.
Juntando as duas coisas, até pouco tempo a Microsoft estava fora de dois dos principais negócios digitais do presente, conectividade pessoal móvel e redes sociais.
Em outubro de 2007, quando o MySpace ainda era “a” rede social, Redmond foi o primeiro a chegar a um acordo com o Facebook, pagando US$ 240 milhões por menos de 2% do negócio.
No segundo semestre de 2010, a empresa anunciou uma mudança radical na sua estratégia móvel, lançando o Windows Phone 7, um desafio real às ofertas da Apple, do Google e da RIM.
Em fevereiro passado, a Nokia (cujo CEO veio da Microsoft) anunciou que iria jogar quase todas suas fichas em WP7, o que se transformou em prática em abril, quando a Accenture assumiu os milhares de engenheiros que cuidavam de Symbian.
E note que há três anos a Nokia parecia imbatível, com 40% do mercado mundial de celulares, o que dá uma ideia da dinâmica do cenário.
Absorver uma aquisição de tantos bilhões de dólares é um problema para uma empresa de qualquer tamanho, até para a Microsoft.
Só que a maior parte das estratégias da empresa, desde os tempos de Bill Gates, é emergente, em parte vindas de sua rede de valor, aí incluída a competição.
Como a casa deve ter aprendido alguma coisa com os mercados cada vez mais em rede de nossos tempos e se lembra das voltas que Gates deu, lá no começo da internet, para começar muito depois e, depois, ficar tanto tempo no topo, o presente pode ter tantos frutos como o passado.
Até porque a combinação de ativos da empresa é o maior conjunto de possibilidades que qualquer um dos grandes atores do mercado digital tem à disposição.
Oferecê-las ao mercado de forma eficaz e eficiente envolve uma complexa combinação de ofertas fixas e móveis, pessoais e corporativas, de conectividade e sociais, sem falar na necessária coerência em dispositivos potencialmente tão distantes quanto smartphones, tablets, net e notebooks, PCs, servidores e na web, como serviço.
Inserir o Skype nessa rede não será fácil para a Microsoft, não seria para ninguém. Mas, se o Skype carrear 20% de suas contas para WP7, se 20% dos usuários de Facebook passarem a usar o Skype frequentemente, se 20% dos anúncios de Skype forem servidos pela Microsoft, se 20% dos gamers dos Xbox… e por aí vai…
E, se isso tudo representar alguns bilhões a mais no lucro do negócio, que vem perdendo renda do mercado de PCs, resultado de um ataque sistemático da web, dos smartphones, dos tablets – onde a presença atual da Microsoft é menor do que a empresa –, o Skype terá sido uma grande aquisição.
É o que a Microsoft tem três anos, no máximo, para demonstrar. Até lá, façam-nos o favor de não bagunçar um dos melhores serviços do mundo digital.
* Silvio Meira é fundador do www.portodigital.org e cientista-chefe do www.cesar.org.br, e escreve mensalmente para a Folha de S.Paulo.
** Publicado originalmente no site EcoD.