Santiago, Chile, 23/8/2013 – A queda na concentração do mineral, a preservação do meio ambiente e os avanços da tecnologia levam as grandes mineradoras a voltarem seus olhos, novamente, para a mineração subterrânea, uma tendência em alta no Chile e no mundo, afirmam especialistas. Juan Carlos Guajardo, diretor-executivo do Centro de Estudos do Cobre e da Mineração (Cesco), garantiu à IPS que “não só o Chile está optando pela mineração subterrânea, pois a evolução da indústria tende para este tipo de exploração”.
A tendência, explicou, “ocorre porque grandes minas que são exploradas a céu aberto apresentam melhores recursos em profundidade maior e a exploração no Chile tende para recursos mais profundos, já que os superficiais foram largamente explorados”. Este país conta com a maior mina subterrânea de cobre do mundo, em exploração desde 1905 e propriedade da estatal Corporação Nacional do Cobre do Chile (Codelco).
A Divisão El Teniente, seu nome oficial, representou, no ano passado, 25% da produção própria da Codelco, que totalizou 1,75 milhão de toneladas de cobre fino. No setor El Teniente 8 da mina, o operacional atualmente, são extraídas 137 mil toneladas por dia. Porém, a mina, que fica sob a Cordilheira dos Andes, cerca de 150 quilômetros ao sul de Santiago e com três mil quilômetros de túneis subterrâneos, conta com reservas apenas até 2025, no ritmo de exploração atual.
Para resolver este problema a Codelco avança no projeto Novo Nível Mina, que começará a operar em 2017 e permitirá explorar 2,02 bilhões de toneladas de reservas alojadas em profundidade maior, na cota 1.880 metros de altitude e cem metros abaixo da atual exploração. O projeto permitirá prolongar em mais 50 anos a vida da mina. Para isso deve incorporar tecnologia de ponta e investir US$ 3,278 bilhões, quantia semelhante à empregada em toda a história dessa emblemática mina.
“A Codelco tem uma carteira de projetos estruturais cujo objetivo é manter sua liderança como primeiro produtor mundial de cobre e, assim, manter suas contribuições ao Estado do Chile”, disse à IPS uma fonte corporativa da empresa. Se não implantar esses projetos, acrescentou, “a produção de cobre e a geração de excedentes (aportes financeiros) ao Estado cairão dramaticamente, com enormes efeitos para o país e para a empresa”.
O Chile depende economicamente do cobre, estatizado em 1971. Em 2012, a Codelco gerou para o Estado US$ 7,518 bilhões, o terceiro maior aporte de sua história, graças à produção de 5,45 milhões de toneladas. O metal representou, no mesmo ano, 12% do produto interno bruto chileno e 53,9% do valor de suas exportações.
A principal vantagem da mineração subterrânea em relação à praticada a céu aberto “é que, em geral, só se extrai o minério, deixando no lugar o material estéril”, aquele sem valor econômico, disse à IPS o gerente de Tecnologia e Inovação de Mineração da Codelco, Jorge Baraqui. “Dessa forma evita-se a remoção de material sem valor econômico e também maiores impactos ambientais”, destacou. Além disso, os custos de operação em uma mina subterrânea não necessariamente são maiores do que nas minas na superfície.
“Na mineração a céu aberto, na medida em que se avança em sua exploração, a escavação vai se aprofundando cada vez mais e com isso aumentando o custo de transporte. Além disso, aumenta a quantidade de material estéril que se deve remover para extrair a mesma quantidade de minério”, explicou Baraqui. “Há casos em que é preciso migrar para métodos de exploração subterrâneos cujo custo de operação pode ser mais competitivo”, acrescentou.
Este é o caso da mina Chuquicamata, a 1.650 quilômetros de Santiago e a maior a céu aberto do mundo, que passará a ser subterrânea em 2019. Trata-se de outro dos projetos estruturais da Codelco e na empresa asseguram que somente a conversão de Chuquicamata fará com que esta mina diminua em 97% a emissão de pó em suspensão, apesar de que contará com 1.200 quilômetros de túneis. Estima-se que Chuquicamata se transformará em uma das minas com menores custos da indústria, principalmente pela economia de energia, estimada em 50%.
Guajardo explicou que, na medida em que avança adequadamente a transição de céu aberto para operação subterrânea, “haverá alguma redução de custos a respeito dos altos gastos operacionais atuais”. A mineração subterrânea também contribuiria para reduzir gastos em segurança e tempo, isso porque que as viagens são mais curtas, se usa menos energia e mais tecnologia.
Neste cenário a estrela é o sistema de exploração por afundamento de bloco (block caving), que conta com baixos custos associados e é considerado o método do futuro. “O sistema aproveita a força da gravidade, isto é, requer pouca energia para romper a rocha já que só se realiza uma quebra inicial na base e depois, na medida em que se extrai o minério, a força da gravidade faz seu trabalho, provocando o desmoronamento da rocha”, explicou Baraqui.
“É um método de exploração bastante econômico e aplicável a grandes minas que têm certas características geotérmicas e morfológicas que permitam o desmoronamento por ação da gravidade”, acrescentou Baraqui. O especialista acrescentou que a principal vantagem deste método é seu custo operacional. “Trata-se do método subterrâneo mais econômico para as minas maciças”, afirmou. Apesar de suas vantagens, há riscos geotécnicos.
O principal método é o estalo de rochas (rock burst), que ocorre em explorações maciças submetidas a grandes esforços e em rochas frágeis, explicou Baraqui. Outro é chamado air blast, fenômeno de pistão de ar a alta pressão, provocado pelo desprendimento de um bloco de grandes dimensões que em sua queda mobiliza uma massa de ar que é obrigada a se deslocar a alta velocidade e pressão pelos túneis da mina, deslocando tudo o que encontra pelo caminho.
Assim, a passagem para a mineração subterrânea significará que, em um futuro próximo, mais de um milhão de toneladas diárias de minério terão como origem o subsolo profundo. Envolverde/IPS