Port Louis, Maurício, 30/7/2013 – Turismo, agricultura, pesca, fornecimento hídrico… A mudança climática ameaça as próprias bases da sociedade e da economia em Maurício. No entanto, esta nação insular do Oceano Índico elabora suas estratégias de adaptação e trabalha para arraigar os princípios do desenvolvimento sustentável na próxima geração de cidadãos.
O Marco Nacional de Políticas de Adaptação à mudança climática, apresentado este mês, inclui prognósticos conhecidos, mas que não deixam de ser preocupantes. Metade das praias deste destino turístico pode desaparecer até 2050, tragadas pelo mar cujo nível aumenta, e por tempestades cada vez mais violentas e frequentes. Os recursos de água doce podem diminuir até 13%, enquanto a demanda continuará aumentando.
“Nos entristece saber que nossa bela ilha – ou parte dela – pode desaparecer devido à elevação do nível do mar”, disse à IPS a estudante Felicia Beniff, ao sair de uma aula sobre meio ambiente e mudança climática junto com quatro amigas. “Temos medo. Nos restam muitos anos pela frente. Para onde iremos?”, perguntou. Estas adolescentes da Escola Secundária Medco Cassis, em Port Louis, estão entre os 25 mil estudantes de toda a ilha que serão instruídos sobre os princípios do desenvolvimento sustentável.
O país se esforça para corrigir práticas insustentáveis, especialmente por meio do conceito Maurice Île Durable (Maurício, ilha duradoura). Educar os jovens sobre o desenvolvimento sustentável é parte desta visão de longo prazo para estabelecer uma nova economia, ecologicamente saudável.
Na Escola Secundária Estatal Rabindranath Tagore em Ilot, norte do país, os alunos colocam lixo orgânico em recipiente para produzir compostagem. “Coletamos garrafas de plástico, desligamos as luzes e os aparelhos de ar-condicionado ao final das aulas, abrimos as janelas para arejar as salas. Isto reduz os gastos da escola. Também plantamos árvores”, disse à IPS um dos alunos, Ashootosh Jogarah. Seu amigo, Varounen Samy, acrescentou que “agora mudamos nossa atitude em relação ao meio ambiente”.
Mahen Gangapersad, reitor da escola, acredita que os moradores de Maurício dão como assentado o meio ambiente há muito tempo, sem se darem conta do dano que causam aos recursos naturais. O novo programa de educação pretende corrigir isto. “Antes tarde do que nunca”, disse à IPS. Agora, plantar árvores, instalar painéis fotovoltaicos para obter energia renovável, manter hortas nos jardins, classificar o lixo, elaborar compostagem e colher água de chuva são realidades em muitas escolas. O plano é expor estas práticas a toda população estudantil.
“Estamos chegando a mais de 250 mil pessoas”, disse Veenace Koonjal, assessor especial do ministro da Educação, à IPS. Ele acredita que esta formação terá grande impacto na consciência dos 1,2 milhão de habitantes do país, já que os alunos levam para suas casas, famílias e comunidades o que aprendem nas escolas. “A mudança climática debilita os pilares econômicos, sociais e ambientais da ilha”, afirmou o ministro do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Deva Virahsawmy, na apresentação do Marco Nacional.
Sua intervenção foi acompanhada pela inauguração de um Centro de Informação sobre Mudança Climática em Port Louis, que coletará dados locais e regionais sobre este fenômeno e os colocará a disposição de todos: cientistas, engenheiros, arquitetos, agricultores, estudantes. Reforçar e ampliar o conhecimento, a conscientização e a informação sobre a mudança climática é uma parte fundamental da resposta desta nação ao aquecimento global.
Maurício, como outros Estados insulares, pode ser muito afetada pela mudança climática apesar de contribuir muito pouco com as emissões de gases-estufa que a provocam. Além disso, o Marco Nacional reconhece que a geografia e a topografia da ilha limitam o que pode ser feito para enfrentar os impactos prejudiciais do aquecimento em matéria de pesca, turismo e agricultura.
Jalil Elahee, presidente do Escritório de Manejo da Eficiência Energética do governo, acredita que a população começa a perceber a seriedade do impacto que a mudança climática já provoca. “As pessoas querem desenvolvimento sustentável. Assim, é essencial começarmos um novo modo de vida e desenvolvimento em nossa ilha, com ou sem mudança climática”, afirmou à IPS. “É possível que o que fizermos não seja suficiente, mas as medidas adotadas no programa de educação sobre mudança climática ajudam a mitigar o impacto sobre a ilha”, ressaltou.
Virahsawmy disse que com educação Maurício fortalecerá sua resiliência nos principais setores da sua economia, bem como mitigará e poderá prevenir as perdas de vidas e propriedades. Maurício já recebeu US$ 3 milhões do Programa de Adaptação para a África, financiado pelo governo do Japão, para integrar a adaptação à mudança climática em seus contextos institucionais e suas principais políticas de desenvolvimento.
Um funcionário do Ministério do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável disse à IPS que este ano também se implementa um projeto de Avaliação de Necessidades Tecnológicas. Este receberá apoio técnico da Divisão de Tecnologia, Indústria e Economia do Programa das Nações Unidas para a Mudança Climática, e de seu Centro Risoe na Dinamarca. O Fundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF) o financia com US$ 120 mil.
O principal objetivo da Avaliação é superar a brecha entre a identificação de tecnologias apropriadas e o desenho de planos de ação. A ideia é que Maurício possa implantá-las para reduzir as emissões de gases-estufa e apoiar a adaptação à mudança climática de modo consistente com as prioridades nacionais em matéria de desenvolvimento. O governo espera conseguir mais dinheiro para os esforços de adaptação e mitigação a partir do Fundo Verde para o Clima, o Fundo de Adaptação das Nações Unidas e do GEF.
Além das aulas, vários programas administrados por organizações não governamentais complementam o que os alunos aprendem na escola. Em um deles, da Cruz Vermelha, por exemplo, 600 jovens são instruídos sobre os riscos da mudança climática para a ilha. Envolverde/IPS