Havana, Cuba, 24/7/2013 – Em discotecas e festas na praia, o movimento da música eletrônica cresce sem parar em Cuba, há uma década e meia. Suas referências, seus criadores autodidatas, ainda lutam por um lugar na cultura nacional, apesar de contarem com milhares de seguidores. “Surgiram muitos DJs novos e a audiência tem um potencial muito mais amplo, sobretudo a mais jovem. Mas, nos falta vencer desafios”, disse Joyvan Guevara, mais conhecido como DJoy de Cuba, um dos fundadores desta corrente artística.
Guevara aprendeu sozinho, aos 19 anos, as técnicas para ser DJ em festas, na década de 1990, até que fez suas próprias misturas e seus próprios sons e se converteu também em criador, como a maioria de seus colegas produtores cubanos que possuem um selo próprio não comercial. “Hoje, o panorama é mais diverso. Há bandas como I.A e Electro Zona, compositores e VJs, que projetam imagens em uma tela ou em todo o local junto com a música”, disse DJoy, sobre o movimento, presente também em cidades como Santiago de Cuba, Holguín, Camagüey, Ciego de Ávila, Santa Clara e Matanzas.
“Continuam sendo poucos os espaços para mostrar as criações próprias, embora nos últimos anos esteja havendo algum interesse na comunidade artística, nos meios de comunicação e no público pelas obras de autores nacionais”, afirmou Guevara à IPS. Com o objetivo de mostrar o que há de mais atualizado e os novos talentos do gênero no país, foi realizada a terceira edição do Festival Proeletrônica, que terminou no dia 13 com um grande concerto no Salão Rosado da Tropical, em Havana, com temas da vertente popular (e dançante) da música eletrônica.
“Fazemos coincidir no cenário artistas que estão há muito tempo trabalhando o gênero com outros que se apresentavam pela primeira vez em cenários profissionais”, contou à IPS Yoana Grass, coordenadora-geral do encontro, que teve participação de 37 unidades artísticas (grupos e DJs) de quatro das 15 províncias cubanas. Este encontro reúne anualmente os criadores de música eletrônica do país que apresentam produções próprias. As obras selecionadas integraram a proposta de um único concerto nas duas primeiras edições.
Na terceira edição, o comitê organizador decidiu realizar dois espetáculos – o anterior foi no dia 5 deste mês – devido à quantidade e à qualidade do material recebido. Ampliar a eletrônica na música cubana, dar visibilidade a este movimento, gerar áreas de debates e formação profissional e oferecer espaços recreativos para jovens, são outras das metas do Proeletrônica, organizado pelo PM Records, um estúdio de gravações e centro de promoção cultural fundado pelo cantor Pablo Milanés.
Este encontro, além de concertos gratuitos, propicia cursos e momentos de intercâmbio, aspectos que se potenciarão mais após a atual edição, junto a painéis teóricos, para “contribuir com o fortalecimento do movimento”, detalhou Grass. “Nos interessa abrir novos canais e participantes, e mostrar que a cultura musical cubana é dinâmica”, acrescentou. O Proeletrônica é atualmente o único festival de caráter nacional dedicado exclusivamente ao compositor de música eletrônica, embora outras iniciativas culturais mais amplas os incluam de alguma maneira.
As instituições culturais demoraram em reconhecer os talentos desta tendência, que consolidou um estilo e público próprios em clubes de Havana e âmbitos não institucionais, como o desaparecido Rotilla Festival, a maior das festas raves realizadas até hoje em Cuba, recordou Guevara. Em 1998, DJoy e o produtor Michel Matos tiveram a ideia de realizar uma festa, com música eletrônica sem parar, na praia Rotilla do município de Santa Cruz do Norte, a 53 quilômetros da capital. A iniciativa foi crescendo até que, em 2006, mudou para a praia de Jibacoa, maior e com melhor infraestrutura.
A partir desse momento foi organizada pela então nova produtora independente Matraka, liderada por Matos, com apoio de organizações não governamentais, estatais, empresas e o governo local. Também ampliou a agenda artística com a inclusão de grupos de rock, hip-hop, VJs e projeções de cinema cubano. Em 2010, o Rotilla Festival, organizado sem fins lucrativos, atraiu mais de 20 mil jovens, sobretudo de Havana e das províncias vizinhas, que acamparam em Jibacoa durante os três dias da festa. Após essa edição, as autoridades locais proibiram o comitê organizador de realizar um próximo encontro.
Desse amplo movimento provém Joyce Álvarez, ou V Joyce, que garante ser “uma das primeiras mulheres em Cuba que se lançou às picapes” para criar temas latin house, tecno, eletro-swing, entre outros. Esta editora de uma televisão local contou à IPS que avança devagar em seu trabalho porque “são necessárias condições técnicas e muito tempo”. Contudo, DJs produtores e compositores enfrentam limitações para ter acesso à tecnologia necessária que garanta uma grande qualidade sonora. A grande maioria cria seus temas em casa, usando programas de informática em computadores pessoais.
Os DJs são obrigados a comprar um sampler, imprescindível para fazer as mixagens ao vivo. Também carecem de estúdios de gravação e têm dificuldades de conexão à internet de banda larga do país, que não permite que baixem programas gratuitos para evitar a pirataria, divulgar suas obras e conhecer a dos outros, ou responder às convocações de festivais internacionais, entre outras facilidades. “Não há um mercado, nem se comercializa a música que criamos”, explicou Álvarez, que mantém seu emprego na televisão.
Vários destes artistas ouvidos pela IPS disseram que só os trabalhos de DJs de Salão em clubes (onde quase nunca mostram suas próprias criações) ou de Banda (acompanhando grupos eletrônicos) permitem cobrança de ingresso. Porém, Álvarez batalha para integrar o catálogo do estatal Laboratório Nacional de Música Eletroacústica, que em 2008 incorporou os primeiros DJs produtores, que hoje são mais de 20. Também integram o Centro de Música de Concerto, que lhes permite serem contratados como DJs profissionais em clubes estatais. Até agora, nenhum destes criadores conseguiu gravar um disco em Cuba. Envolverde/IPS