Iniciativas de incentivo à exploração legalizada de madeira e ao manejo florestal, rendem bons resultados para a economia e o meio-ambiente.
Historicamente, a Amazônia costumava ser uma região posta em segundo plano na economia nacional. Apesar de seus recursos naturais serem diversos e já estarem sendo explorados, o resultado econômico dessa exploração não chega até a região.
Segundo o professor Warwick Manfrinato, pesquisador da Universidade de São Paulo e diretor executivo do Projeto Amazônia em Transformação do Instituto de Pesquisas Avançadas da USP, os negócios relacionados aos produtos amazônicos se restringem ao Sudeste: “A pessoa que deseja comercializar os produtos naturais da Amazônia vem para o Brasil meio na cega. Em vez de ir para lá, ela vai pra São Paulo. Na cidade grande, ela vai no escritório da empresa e tenta comprar os produtos da Amazônia através de um representante.”
Porém, esse cenário vem se modificando. Os diversos recursos ainda inexplorados na Amazônia fazem-na assumir cada vez mais lugar de destaque na economia nacional. Várias alternativas de economia são descobertas e implantadas, no intuito de diminuir as atividades ilegais na região e tentar transformar a situação atual em favor da economia brasileira, de forma que não afete a frágil biodiversidade amazônica.
Uma dessas alternativas é um tanto polêmica: a exploração madeireira. O Brasil não possui números significantes na exportação desse recurso. Ocupamos o 11º lugar mundial, atrás de países como Suécia e Finlândia. Atualmente, toda a produção madeireira nacional é proveniente principalmente da Amazônia e tem seu mercado consumidor resumido a São Paulo.
De acordo com o professor Manfrinato, a fiscalização é muito precária nesse setor: a única possibilidade de o governo controlar o desmatamento é através do transporte das toras arrancadas. Porém, com uma autorização de desmate, alguém pode retirar madeira ilegalmente e, se não for pego no caminho, pode voltar com a mesma autorização e dessa vez transportar madeira de uma fonte legal.
Porém, dois programas recentemente implantados atuam na contramão do descontrole fiscal que se configura na região: O Programa Madeira é Legal e as chamadas Fazendas Florestais mostram que é totalmente viável aproveitar o potencial madeireiro da região amazônica sem destruir sua biodiversidade e aumentar o desmatamento.
Programa Madeira é Legal
Uma parceria entre o estado e a cidade de São Paulo, o setor da construção civil e várias instituições propiciou a criação do Programa Madeira é Legal, que visa garantir o uso de madeira certificada e de origem legal.
Apesar de não ter sido criado na região amazônica, o programa afeta diretamente sua economia e seu ecossistema, uma vez que alguns de seus principais problemas são a extração e o comércio ilegais de madeira. O desmatamento na Amazônia é responsável por três quartos das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, e é sabido que um dos principais vetores do desmatamento amazônico é a exploração ilegal de madeira.
Para conter essa movimentação, o programa desenvolve mecanismos de controle como a exigência do Documento de Origem Florestal (DOF) e incentivo ao uso da madeira certificada nos departamentos de compras do setor público e privado. Além disso, o programa também capacita o consumidor para que ele identifique a origem da madeira que está adquirindo, com o objetivo de eliminar do mercado aquelas extraídas de forma ilegal.
Fazendas Florestais
Dentro dessa atividade de extração legal de madeira da Amazônia, está a implantação das chamadas Fazendas Florestais. Há alguns anos atrás, partindo do lugar-comum de que “área florestada é área inútil”, segundo o professor Warwick, “O governo fazia com que as pessoas que tivessem propriedade a ocupassem desmatando”, transformando largas porções de mata virgem em pasto próprio para a criação de gado ou a agricultura.
Diferente disso, atualmente ocorre uma preocupação em preservar a mata virgem dessas propriedades. O empreendedor latifundiário na Amazônia está enxergando sua floresta cada vez mais como um artigo, e não apenas “mato”. Assim, o dono dos hectares consegue explorar o potencial madeireiro da região de acordo com a demanda do mercado e com o desenvolvimento planejado e sustentável.
Para que isso ocorra, há o delicado e preciso trabalho de mapeamento de todas as árvores da propriedade e sua posterior identificação. Dessa maneira, as árvores derrubadas serão apenas aquelas que não estão sob proteção ambiental e cuja madeira será absorvida por completo pelo mercado.
Algumas vezes, a propriedade ocupa uma área extremamente larga, de difícil administração. Assim, divide-se a propriedade em áreas menores, as chamadas UPAs – Unidades de Produção – para um melhor planejamento da exploração das espécies. “Se o mercado está comprando mais Angelim, você vai numa UPA que tenha mais Angelim.”, afirma o professor.
Apesar de parecer arriscado, esse programa de manejo florestal apresentou sucesso onde foi implantado. Imagens de satélite mostram que mesmo com o avanço do desmatamento nas áreas ao seu redor, a mata das áreas de Fazenda Florestal permanece inalterada ao longo dos meses.
* Paula Peres é estudante de jornalismo e participou do projeto “Descobrir a Amazônia, Descobrir-se Repórter“, da Oboré.