Depois de Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha, o Chipre é o quinto país da zona do euro a recorrer aos temidos resgates financeiros.
Caminhe pela areia quente e escura da Praia do Governador, em Larnaca, e você poderá ver, simultaneamente, os problemas do Chipre, seu sonho de prosperidade futura, e sua incerteza política. A areia, o mar e as lulas frescas há muito tempo atraem turistas, a maioria deles, britânicos, mas também cada vez mais russos, que guardam seu dinheiro nos bancos da ilha. Do outro lado da entrada fica a estação de energia Vasilikos, destruída no ano passado por uma explosão de munições negligentemente despejada nas proximidades. Além do horizonte reside a promessa de gás natural submarino abundante que em breve poderá ser canalizada para Vasilikos.
A explosão em Vasilikos e os problemas dos bancos ajudam a explicar porque o Chipre se tornou o quinto país da zona do euro a para buscar um resgate financeiro. Por ironia do destino, a troika (funcionários da Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o FMI) chegaram ao Chipre justamente no momento em que o governo assumia a presidência rotativa da União Europeia.
Da Praia do Governador, Damasco e Jerusalém estão mais perto do que Atenas. No entanto, a república (greco-cipriota), com uma população de apenas 850 mil habitantes, controlará os negócios ministeriais da UE por seis meses. Bruxelas se preocupa com a perspectiva. Muitos pensam que Chipre não deveria ter sido aceito no bloco antes de fechar um acordo para reunir o norte turco-cipriota com o sul, internacionalmente reconhecido. As relações da UE com a Otan estão paralisadas pela disputa. As relações com a Turquia eram complicadas antes mesmo do Chipre assumir a presidência: agora elas serão parcialmente congeladas.
Há outra razão para se preocupar. Como colocou sucintamente o tabloide alemão Bild: “A ilha falida assume o poder na Europa.” Pode um presidente comunista, Demetris Christofias, lidar tanto com as negociações do resgate quanto com o processo altamente difícil de integração da zona do euro imposta pela crise? Pode um devedor lidar de forma imparcial com as demandas dos credores por fortes controles centralizados? Felizmente, talvez, a presidência rotativa tenha perdido muito de sua importância desde o Tratado de Lisboa em 2009. Cúpulas e reuniões de Ministros das Relações Exteriores têm os seus próprios presidentes permanentes, assim como reuniões de ministros das Finanças da zona do euro.
Ministros cipriotas insistem que podem fazer o trabalho tão bem como qualquer outra pessoa. Diplomatas afirmam que o serviço civil do país herdou a competência dos administradores coloniais britânicos. Mas essa reputação foi gravemente danificada pela explosão em Vasilikos. Excluídos dos mercados de títulos no ano passado, e com um empréstimo de curto prazo da Rússia se esgotando rapidamente, o Chipre teve de pedir ajuda.
No entanto, o Chipre não pode culpar acidentes e estrangeiros por todos os seus problemas. Sua economia estava crescendo de forma constante até a eclosão da crise financeira global. Mas o boom era insustentável. O longo déficit nas contas corrente se tornou cada vez mais amplo. E a dívida pública está aumentando devido a uma remuneração demasiadamente generosa dos funcionários públicos e de seus benefícios (incluindo aumentos salariais indexados duas vezes por ano). Parte disso tem sido financiado por depósitos bancários da Rússia, Ucrânia e Sérvia. Mas será que o Chipre continuará a ser tão atraente agora que a troika está examinando os bancos e a zona do euro está se movendo para a supervisão bancária centralizada?
* Publicado originalmente no jornal The Economist e retirado do site Opinião e Notícia.