Genebra, Suíça, agosto/2011 (IPS/South Centre) – Tal como ocorreu em episódios anteriores, um fator fundamental no atual auge dos fluxos de capital para as Economias em Desenvolvimento e Emergentes (EDE) é um drástico corte nas taxas de juros e uma rápida expansão da liquidez nas principais Economias Avançadas (EA), especialmente nos Estados Unidos.
Isto, inicialmente, foi encarado de uma forma muito coordenada, segundo o acordado em abril de 2009 na Cúpula do G-20, em Londres ,como uma resposta contracíclica à crise. Nos Estados Unidos, a resposta do Federal Reserve foi a de fazer duas rodadas de expansão monetária com a compra de bônus do Tesouro de longo prazo e de outros títulos. Embora o objetivo declarado fosse o de estimular o gasto privado, este movimento também foi amplamente visto como um esforço para enfraquecer o dólar e fomentar as exportações.
Entretanto, a expansão da liquidez não representou um aumento significativo do crédito e do gasto privado nos Estados Unidos devido a problemas tanto na oferta quanto na demanda no mercado financeiro. Os bancos não querem emprestar para setores privados, mas apenas tirar proveito nos diferenciais entre as taxas curtas e longas e buscar oportunidades de ganhos no estrangeiro.
De modo similar, sobrecarregados com dívidas, os consumidores se mostram reticentes em tomar emprestado e gastar. Assim, o excesso de liquidez se espalhou globalmente em uma busca de benefícios nas EDE e isto colocou muitas destas economias na defensiva, em resposta ao que é amplamente considerada uma desvalorização competitiva por parte dos Estados Unidos.
Um fator importante na onda de capitais para as EDE é seu significativamente melhor rendimento quanto a crescimento e perspectivas do que as EA. Por outro lado, embora a política de taxas de juros em muitas das principais EDE foi inicialmente a de abatê-las para enfrentar a crise, elas começaram a aumentar em 2010 enquanto as taxas nas EA continuaram em níveis muito baixos. Como resultado disso, o fluxo de capitais especulativos em busca de altos rendimentos, o chamado carry-trade, foi incentivado e as principais economias emergentes com altas taxas de juros, como Índia e Brasil, são os principais objetivos dos movimentos de capitais.
Entretanto, os mercados de matéria-prima se converteram em uma espécie de mercado financeiro, já que alguns produtos básicos também são alvo de especulação e atraem crescentes capitais em busca de lucro com os movimentos dos preços.
Os movimentos paralelos dos fluxos de capital, os preços dos produtos básicos e o dólar estão diretamente vinculados. Um dólar mais fraco costuma levar a preços mais altos das matérias-primas porque faz aumentar a demanda, uma vez que ficam barateadas em relação a outras moedas. Por outro lado, as alterações nos preços das matérias-primas têm uma forte influência na entrada de capitais nas EDE que as exportam.
Estas mudanças têm como consequência uma acentuada vulnerabilidade das EDE diante da instabilidade econômica global.
A exposição aos riscos de instabilidade e crise geralmente resulta de desequilíbrios macroeconômicos e de fragilidade financeira que se acentuam durante as ondas de entrada de capitais, principalmente em três áreas. Em primeiro lugar, essas ondas provocam valorização das moedas locais e impulsionam taxas de juros insustentáveis e déficit de contas correntes. Em segundo lugar, a fragilidade financeira é causada pela extensa dolarização dos passivos e de desajustes nas moedas. Isto ocorre quando se toma empréstimos em uma moeda estrangeira e em curto prazo. Quando os fluxos de capital emigram e a moeda se desvaloriza bruscamente, os desajustes costumam incrementar as dificuldades no serviço da dívida e podem desembocar em quebras.
Por fim, as ondas de capital podem produzir bolhas de crédito e de ativos. A expansão do crédito pode ocorrer quando os bancos tomam empréstimos no exterior para financiar empréstimos domésticos, quando as intervenções no mercado de divisas não podem ser completamente esterilizadas, ou quando a afluência de capitais baixa as taxas de juros de longo prazo. Na entrada de capitais tradicionalmente considerados como investimentos estrangeiros diretos se incluem outros tipos de capitais, como a aquisição de firmas existentes ou investimentos imobiliários, que podem criar bolhas. A reversão dos fluxos de capital pode ocasionar uma crise do crédito e uma deflação de ativos, com severas consequências macroeconômicas. Envolverde/IPS
* Yilmaz Akyuz é economista-chefe do South Center, com sede em Genebra. Uma versão extensa desta análise encontra-se no South Center Paper 37 (www.southcentre.org).