Tailândia, 18/4/2011 – Converter-se em líder das economias baixas em carbono dá à China nova força diplomática para as negociações que antecedem a 17ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 17), que acontecerá a partir de 28 de novembro, em Durban. A primeira rodada de conversações climáticas prévias, realizada entre 3 e 8 deste mês em Bangcoc, destacou a atenção que recebe a expansão da economia verde da China, com os negociadores desta potência emergente enfrentando seus pares dos Estados Unidos e da União Europeia (UE), dois de seus tradicionais adversários nas negociações da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudança climática.
Os governos de nações mais ricas, que desde a revolução industrial são as principais emissoras de gases-estufa, tiveram que aceitar o 12º plano quinquenal da China, divulgado às vésperas da reunião de Bangcoc. Este pilar fundamental das políticas neste país detalha uma série sem precedentes de iniciativas para criar uma economia amigável com o meio ambiente. “O plano quinquenal da China acaba de ser divulgado. Precisamos felicitar Pequim por fazê-lo”, disse Artur Runge-Metzger, principal negociador da UE sobre mudança climática, aos jornalistas reunidos em Bangcoc. Entretanto, “precisamos ver como serão executadas essas medidas”, acrescentou.
O plano tem como objetivo central encontrar soluções, disse Jonathan Pershing, que presidiu a delegação dos Estados Unidos enviada a Bangcoc. “Este é um problema que nenhum país pode resolver por si mesmo”, acrescentou. Os negociadores do mundo em desenvolvimento avaliam de modo diferente o crescente domínio da China na paisagem das economias baixas em carbono, enquanto se preparam para a próxima rodada de conversações climáticas da ONU, que acontecerá em meados de junho na cidade de Bonn.
“O surgimento da China como líder em tecnologias limpas e os planos revelados para reduzir sua intensidade de carbono, mediante o novo programa quinquenal tornam mais difícil para os países industrializados tomarem a China por alvo nestas negociações”, disse um negociador de um país asiático que pediu para não ser identificado. “Pequim não jogará segundo as regras dos Estados Unidos ou da UE nestas conversações, agora que mostra maior compromisso para abordar a mudança climática a partir de sua posição vantajosa. Veremos mais disso em Bonn e depois em Durban”, disse o diplomata à IPS.
Alguns analistas também avaliam o perfil sem precedentes que as políticas de Pequim sobre mudança climática deram aos planos de desenvolvimento do país para o período 2011-2015, onde os objetivos de reduzir a intensidade do carbono são detalhados pela primeira vez, além de novas metas sobre desenvolvimento de energias renováveis e eficiência energética.
“Com a apresentação deste plano, no dia 5 de março, vemos as muitas iniciativas políticas, novas, expandidas e fortes, e os objetivos verdes propostos ali como claras evidências de que as políticas baixas em carbono da China são as melhores do mundo”, disseram analistas sobre mudança climática do alemão Deutsche Bank. “Espera-se que nos próximos dez anos a China gaste US$ 740 bilhões em produtos de energia renovável”, afirmou este mês o China Daily, publicado em inglês. “Já representa 50% dos investimentos mundiais totais em energia eólica, e lidera o mundo em investimentos e desenvolvimento em energia solar”, destacou o jornal.
De fato, os novos objetivos de redução da intensidade do carbono, que buscam garantir que as emissões de carbono por unidade de carbono consumido no país sejam inferiores a 17%, em comparação com os registros de 2010, foram uma garantia dada por Pequim na cúpula climática de Copenhague. Nessa ocasião, em dezembro de 2009 e perante os países que apoiaram a Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a China foi retratada por alguns como vilã, por se colocar contra a pretensão do mundo industrializado de aceitar o documento final da cúpula defendido pelas nações mais ricas.
Esse ano, a China investiu US$ 34 bilhões em tecnologias verdes, quase o dobro da quantia investida em tecnologias similares nos Estados Unidos, estimada em US$ 18 bilhões. A “maré verde” da China dificulta as coisas para os negociadores sobre mudança climática dos 37 países industrializados e da UE que, com exceção dos Estados Unidos, são signatários do Protocolo de Kyoto (1997). Este tratado internacional é o único legalmente vinculante no mundo e sob o qual as nações industrializadas acordaram reduzir seus gases-estufa, é um pilar fundamental da Convenção Marco.
Para os negociadores ocidentais, há um fato que continua sendo preponderante: os 23% das emissões de gases-estufa da China, que convertem o país no maior contaminante mundial. Em seguida estão os Estados Unidos, com 20%, que são o maior emissor por pessoa desses gases. “Em lugar de cumprirem seus compromissos para reduzir os gases-estufa, os negociadores do mundo industrializado traçam planos para enfraquecer o Protocolo de Kyoto, tomando por alvo países como a China”, que não têm obrigações no contexto deste tratado, disse à IPS Meena Raman, da Amigos da Terra Internacional.
“Ficou claro que no caminho para Durban as nações industrializadas tentarão desregular o regime internacionalmente vinculante de mitigação com um sistema de compromisso voluntário sem garantias”, afirmou Raman. A pressão sobre a China chega em um momento em que os países industrializados têm de cumprir o que prometeram por meio do Protocolo de Kyoto: reduzir em 5% suas emissões de gases-estufa (em relação aos níveis de 1990) até 2012, quando termina a primeira fase do tratado, e depois ir aumentando seus compromissos.
Por sua vez, os negociadores de Pequim já desdenharam dos esforços das nações industrializadas para encontrar alternativas ao Protocolo de Kyoto, incluindo uma que aspira atrair a China para ser parte de um novo regime mundial em matéria de mudança climática. Envolverde/IPS