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“A poliomielite pode ser erradicada até 2018”

Siddharth Chatterjee. Foto: Cortesia do entrevistado
Siddharth Chatterjee. Foto: Cortesia do entrevistado

Nova York, Estados Unidos, 5/9/2013 – Siddharth Chatterjee dedica seu trabalho à luta para que nenhuma criança no mundo sofra de poliomielite, que ele conheceu na própria carne. Desde junho de 2011, é chefe diplomático e diretor de associações estratégicas e relações internacionais na Federação Internacional de Sociedades da Cruz Vermelha e da Meia-Lua Vermelha.

Antes, Chatterjee trabalhou no Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), atuando na linha de fogo para erradicar a pólio no Sudão do Sul, Darfur e Somália. Em entrevista à IPS, explicou que a pólio ainda existe, mas pode ser erradicada até 2018.

IPS: Com toda a atenção que foi colocada no combate à poliomielite, por que há novos focos da doença?

SIDDHARTH CHATTERJEE: Quando foi criada a Iniciativa Mundial de Erradicação da Poliomielite (GPEI), em 1988, o vírus da pólio selvagem que causa a doença estava presente em 125 países, e paralisava ou matava mil pessoas por dia. Agora, os casos de pólio caíram 99%. Em 2012, foram registrados apenas 223 em todo o mundo. O Conselho de Monitoramento Independente da GPEI destacou há pouco que o vírus da pólio “foi derrotado, mas, sem dúvida, não foi eliminado”. Os focos ocorrem em grandes populações de crianças que não estão imunizadas. E isto pode acontecer por três motivos: qualidade das campanhas de vacinação, insegurança, como os recentes casos de violência no Paquistão, e a mobilidade de algumas populações, que impede o acesso às crianças. Para frear esses focos precisamos atacar continuamente o vírus com vacinas e reiteradas rodadas de imunização, e encontrar a forma de chegar a áreas inseguras e de difícil acesso.

IPS: Qual o maior obstáculo para erradicar a pólio e como superá-lo?

SC: Os mitos e a informação enganosa, o analfabetismo, a pobreza extrema, os sistemas de saúde débeis, a insegurança e a infraestrutura de má qualidade são desafios para a vacinação e para a expansão geral da atenção sanitária. Em 2005, quanto trabalhava na Somália para o Unicef, observei que, após dois anos sem um único caso, a pólio voltou e paralisou 228 crianças. Foram feitos denodados esforços para mobilizar as pessoas e aplicar respostas intensivas e em grande escala, superando enormes desafios logísticos e de segurança e canalizando uma importante quantia de dinheiro. Tudo isso ajudou a frear a propagação. Por intermédio da Meia-Lua Vermelha da Somália conseguimos ter acesso a algumas das áreas mais inseguras. Uma experiência semelhante vivi em Darfur. Em zonas inseguras temos que conversar com todos, independente de sua posição política ou ideológica, e temos que alinhá-los em torno de um tema central: as crianças e seu bem-estar.

IPS: Por que o foco está apenas na pólio? O que faz a comunidade internacional para frear outras doenças que podem ser prevenidas com vacinas?

SC: Nos últimos anos, o mundo fez enormes progressos contra uma gama de enfermidades preveníveis mediante vacinas. A Aliança Gavi, que busca ampliar o acesso às inoculações em países de baixa renda, contribuiu para a imunização de mais de 370 milhões crianças desde 2000. O maior legado do movimento para erradicação da pólio pode bem ser a base de sistemas de saúde mais fortes. O programa contra a pólio já está chegando às crianças que antes eram inacessíveis, combinando estes esforços com outros recursos de atenção à saúde. Estamos construindo um sistema que pode aumentar o acesso não só às vacinas, mas também a outros medicamentos, mosquiteiros para prevenir a malária, água limpa, acesso a saneamento adequado, promoção da higiene, melhor nutrição, serviços de saúde reprodutiva, etc.

IPS: A comunidade internacional tem feito o suficiente?

SC: A comunidade internacional tem sido formidável e, francamente, sem seu apoio não teríamos ido tão longe. No final de abril, estive na Cúpula Mundial das Vacinas, em Abu Dhabi. Os líderes presentes manifestaram explicitamente sua confiança no plano estratégico da GPEI e se comprometeram em colocar US$ 4 bilhões, quase três quartos do custo total do plano, nos próximos seis anos.

IPS: Qual a fase final para erradicar a pólio?

SC: Precisamos de uma vitória decisiva. O plano estratégico da GPEI, para a erradicação da polimielite entre 2013 e 2018, propõe um contexto claro para interromper a transmissão do vírus selvagem da pólio e para introduzir uma dose de vacina de pólio inativada nos esquemas comuns de imunização de todo o mundo, a fim de eliminar simultaneamente o risco de contrair o vírus em consequência da vacina. A Federação Internacional vai do global ao local. Com 187 sociedades nacionais e quase 100 milhões de empregados e voluntários, as Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e da Meia-Lua Vermelha podem chegar a cada menino e menina. Nossos voluntários falam o idioma, vivem nessas comunidades, se comprometem com os líderes comunitários.

IPS: O informe de atualização de sócios da GPEI descreve o senhor como uma das figuras mais influentes do mundo. Além disso, escreveu muito sobre a erradicação da pólio. O que mais o mobiliza?

SC: Vi mães chorando desconsoladas porque seus filhos contraíram poliomielite. Muitos ficaram paralisados e muitos outros morreram. Isso parte o coração. Também vi jovens que sobreviveram e ficaram deficientes para toda a vida. Também é um assunto pessoal: eu mesmo sobrevivi à pólio e tive muita sorte. Na verdade, muitos milhares de jovens ficaram doentes na Índia em um passado não tão distante, e foram obrigados a viverem padecimentos e frustração pela pobreza, ignorância e escassa atenção à saúde. Por isso quero que a pólio seja erradicada para sempre. Seria o maior presente que poderíamos dar a toda infância do mundo. Envolverde/IPS